Não é um feito único para um avião, quebrar a barreira do som. A primeira vez que foi alcançado foi em 1947. O Concorde conseguia fazer o mesmo, mas o ruído e até os destroços provocado pelo estrondo dos voos supersónicos têm sido um dos impedimentos para que a tecnologia ganhe tração e seja usada na aviação comercial.

Uma experiência realizada no final de janeiro, e divulgada há dias, mostra que é possível fazer diferente e volta a abrir uma janela de oportunidade para que as viagens comerciais de avião acelerem para velocidades supersónicas.

Jato supersónico XB-1 obteve aprovação para teste que visa quebrar a velocidade do som
Jato supersónico XB-1 obteve aprovação para teste que visa quebrar a velocidade do som
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A Boom Supersonic testou no final de janeiro uma tecnologia diferente daquela que tem sido usada em projetos do género, inclusive pela NASA com o X-59 Quesst, e conseguiu bater a barreira do som com o seu avião XB-1, sem impacto sonoro no solo. A empresa tinha recebido autorização para testar a tecnologia em maio do ano passado e já tinha feito outras experiências para preparar o momento.

Durante a experiência, microfones da Nasa colocados no solo registaram os níveis de ruído e confirmaram que não existia variação, embora durante o teste a barreira do som tenha sido quebrada por três vezes.

Veja o protótipo do avião comercial Overture e o XB-1, que conseguiu bater a barreira do som em "silêncio"

Como admite a empresa, não há grande novidade nos princípios de física que permitiram conduzir a experiência com sucesso. O que faz realmente a diferença são os avanços na tecnologia dos motores e nas capacidades de computação, que permitem obter e trabalhar mais dados meteorológicos e de forma mais precisa

O fenómeno que permitiu evitar o estrondo sónico que os aviões anteriores faziam quando quebravam a barreira do som, chama-se Mach Cut e evita que o som seja direcionado para o solo. Pelo contrário, este faz uma espécie de inversão de marcha (numa trajetória em U) e dissipa-se na atmosfera.Isto só será possível acima dos 3 mil pés e tirando partido de mudanças na densidade do ar e temperatura.

A Boom Supersonic tem planos para construir um avião supersónico comercial com esta tecnologia Boomless Cruise, ao qual planeia chamar Overture. O modelo vai usar o motor Symphony, capaz de assegurar um impulso transónico que permite à aeronave ultrapassar a barreira do som a altitudes superiores a 30.000 pés, onde tem condições para que o tal efeito de corte de Mach que impede o som de chegar ao solo.

Este avião vai usar outra inovação diferenciadora da empresa, garante a própria: um sistema avançado de piloto automático que otimiza continuamente a velocidade do avião, em tempo real, com base nas condições atmosféricas. Este ajuste dinâmico é essencial, porque as condições atmosféricas, em particular a temperatura e o vento, afetam significativamente a velocidade do som e o comportamento do boom sónico, explica a companhia à Fast Company.

No voo de testes o XB-1 atingiu uma velocidade de Mach 1.12, cerca de 1370 km/h. Se as limitações regulatórias não travarem os planos da empresa, a Boom acredita que vai conseguir atingir velocidades de Mach 1,7 (quase 2,100 KM7h sobre o oceano, reduzindo de 7 para 3h30 o tempo necessário para viajar entre Paris e Nova Iorque. Em Terra, espera-se que a velocidade seja limitada a 1.3 Mach, o que ainda assim permitirá reduzir para cerca de metade o tempo das viagens comerciais continentais.