Enquadrada numa iniciativa nacional, a Smart Cities Tour 2020 é composta por workshops temáticas realizadas em diferentes cidades portuguesas, arrancando na Cidade Circular em Valongo na próxima semana, terminando em Coimbra, com a Cimeira dos Autarcas, em novembro. A iniciativa tem como objetivo promover a partilha de boas práticas entre os diferentes concelhos, assim como a apresentação de soluções inovadoras no plano das cidades inteligentes (smart cities). Serão ainda dados a conhecer vários projetos concretos que estão a ser desenvolvidos por todo o país.

O projeto foi desenvolvido pela Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, da NOVA Information Management School, em parceria com a Altice Portugal, CTT, EDP Distribuição e Deloitte.

António Almeida Henriques, da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, destaca o percurso feito nestes últimos quatro anos, agradecendo às entidades parceiras. Explicou que já são 136 municípios que aderiram à iniciativa, tentando compreender o que a indústria tinha para oferecer às respetivas estratégias. Isto apenas no primeiro ano, já que no seguinte foi feito o planeamento. “Já não são apenas as questões da mobilidade ou energética, mas todas as cidades olham para esta perspetiva como plataforma”, destaca. O objetivo foi mostrar que o território pode tornar-se menos assimétrico, ao introduzir as soluções inteligentes.

Começando por Valongo, a Cidade Circular, seguindo-se Évora, Covilhã, Monchique, depois Oeiras, fechando em Coimbra, na Cimeira dos Autarcas. “Em cada sessão há uma abordagem de uma temática, a forma de a financiar, através de mecanismos nacionais ou desvendando os programas internacionais que ajudem a alavancar as iniciativas”, refere António Henriques como os objetivos de cada "paragem" nas cidades, através de um plano suportado por 30 medidas. Como tópico principal, o objetivo é combater as assimetrias entre as regiões, transformando as iniciativas como tema nacional, e não através da operadora A ou B, acrescenta.

Por outro lado, introduzir aquilo que chama de Autarquias 4.0, com programas integrados em cidades que estejam mais atrasadas, nomeadamente ornamento urbano e tecnológico para melhorar a vida das pessoas.

É considerado que a tecnologia pode ser uma solução na nova política de descentralização, desenvolvendo dinâmicas para melhorar a vida dos cidadãos, criando mais competências e recursos. Por fim, aproveitar a dinâmica para influenciar as políticas públicas para tirar melhor partido dos investimentos, como por exemplo, as vias de comunicação em degradação acentuada.

Miguel de Castro Neto, da NOVA IMS (NOVA Information Management School), destaca a necessidade da capacidade de perceber como alterar o paradigma de gestão das cidades. Refere que muitas das cidades já têm uma abordagem vertical, com soluções tecnológicas. Em 2019, a iniciativa Radar, começou a fazer um recenseamento das cidades e vilas, para compreender o estado tecnológico de cada região, e dessa forma compreender o que é necessário trabalhar, nomeadamente wi-fi público, orçamentos participativos, iluminação pública inteligente, smart parking, entre outros.

O objetivo é pegar no conhecimento do passado, para poder construir cenários e fazer frente aos desafios que surgem. E tudo através dos dados disponíveis para a academia, autarquias e empresas poderem utilizar em favor dos cidadãos. Como objetivos tem o apoio à inovação, a sustentabilidade, resiliência e segurança, assim como garantir a igualdade no acesso aos serviços para todos.

João Sousa, administrador dos CTT, um dos parceiros estratégicos do projeto, pelo terceiro ano. Apesar da queda do correio, os CTT têm vindo a procurar novas formas de negócio, nomeadamente a digitalização das áreas onde atua, mas sem nunca esquecer que quando é necessário fazer alguma coisa chegar à casa das pessoas, a empresa está sempre presente. João Sousa garante que a empresa está mais flexível e hoje tem uma grande aposta no e-commerce, permitindo às empresas criarem negócios online, utilizando a plataforma da empresa. “Está no nosso ADN a criação de um ecossistema baseado na sustentabilidade”, refere como estratégia. A introdução de viaturas elétricas levou à criação da maior frota portuguesa na área das entregas.

Alexandre Fonseca, administrador da Altice Portugal, salienta o orgulho que a empresa tem em fazer parte do projeto, com base no “trazer a bordo mais gente, mais autarquias”, destacando a importância do tema para a estratégia de levar inovação para as cidades. Destaca a importância do Smart Cities Tour na capacidade de criar polos de atração de pessoas, seja para visitar ou mesmo para viver. Além das várias centenas de empresas, autarquias e até mesmo cidadãos a contribuírem para os projetos.

“A tecnologia não é a principal ferramenta para tornar as cidades mais inteligentes, é sim um veículo, porque são as pessoas que contribuem para o caminho da inovação. O ativo mais importante são as pessoas e há a necessidade de fixar essas pessoas no território nacional”. Salienta os 86 milhões de euros de investimento da Altice em inovação.

Deu exemplo de como o investimento em Viseu torna-a mais próxima dos cidadãos, criando infraestruturas para criar emprego. Seja através dos 1.700 postos de trabalho criados diretamente através dos seus call centers, como pela atração de outras empresas para a cidade. Viseu é também a sua sede tecnológica, um laboratório onde são desenvolvidas soluções que chegam a todo o mundo.

António Almeida Henriques referiu em entrevista ao SAPO TEK que um dos maiores exemplos que as pessoas podem notar como sinal de smart cities é o “orçamento participativo, assim como a desmaterialização dos processos para o contacto com os cidadãos é também um conceito no âmbito das smart cities, ou seja a proximidade na relação com os cidadãos”. A participação de um buraco na rua através da interação de um cidadão com a respetiva autarquia, para que possa responder mais rapidamente. Refere ainda que os novos sistemas de recolha de resíduos urbanos permite premiar os cidadãos pelas suas práticas cívicas por praticar atos amigos do ambiente. Os sistemas de regas está a ajudar a poupar a água em cidades como Viseu, apoiado pela Economia Circular, ou seja, reaproveitar a água para regar jardins, mas também a limpeza das ruas.

Segundo António Almeida Henriques, para a área da mobilidade, o Centro de Competências da IBM em Viseu está a desenvolver uma aplicação, pronta em maio, “vai permitir ter o MUV (Mobilidade Urbana de Viseu) na palma da mão, em que a pessoa no seu smartphone compra e valida os bilhetes e passes, controla o horário da chegada do autocarro, pode estar em viagem e já estar a alugar a bicicleta no destino ou mesmo chamar um táxi para fazer o resto do percurso, ou ir no seu carro e procurar um lugar vago no estacionamento no centro da cidade, poupando assim gasolina e emitindo menos CO2”, explicou ao SAPO TEK.

Questionado sobre o que falta para as restantes autarquias introduzirem todas estas tecnologias no seu ecossistema, António Almeida Henriques refere que primeiro que tudo tem de haver uma estratégia. Depois é necessário uma liderança “porque muitas vezes estão a remar contra a corrente, continuando a fazer as coisas da forma tradicional”. Desta forma é mais eficiente, amigo do cidadão e permite poupar os recursos da própria autarquia, acrescenta.

Sob a obtenção de recursos, dá o exemplo que no caso do MUV foram angariados 30 milhões de euros em que duas partes foram através de dois concursos públicos internacionais. “O papel do Tour é exatamente andar pelo país a mostrar os bons exemplos, para que outras autarquias possam validar. A estratégia tem de ser personalizada, pois as autarquias não são todas iguais”.

Depois também existem as situações de prioridade. “Para mim é mais importante criar a cidade inteligente e em maio vamos lançar a Happy and Smart City em Viseu, e fizemos o caminho contrário, que foi fazer todo o percurso e colocar o sistema a trabalhar e quando o apresentarmos já estará operacional”.

António Almeida Henriques conclui referindo que atualmente todas as autarquias já estão sensibilizadas para o assunto das smart cities, “nem que seja na eficiência energética ou a mobilidade”. Já existem 40 municípios com estratégias integradas, o que considera um bom percurso, demonstrando um crescimento, ano após ano, deste Tour.

Conheça a agenda completa da Smart Cities Tour 2020

12 fev - Cidade Circular, Valongo

27 mai - Smart Grids e Comunidades de Energia Zero Carbono, Évora

30 jun - Mobilidade Sustentável, Covilhã

29 set - Smart Tourism, Monchique

04 nov - Inovação Inteligente, Oeiras

25 nov - Sessão de Encerramento, Cimeira dos Autarcas, Coimbra

Nota de redação: artigo atualizado com entrevista a António Almeida Henriques, da Associação Nacional dos Municípios Portugueses.