A condução autónoma continua a ser uma promessa para o futuro, embora algumas cidades já permitam a circulação de veículos sem condutor, em ambientes mais ou controlados. Destas experiências, realizadas sobretudo no Arizona e em São Francisco, onde têm aumentado as vozes contra a tecnologia e os potenciais riscos para a segurança de outros condutores ou pedestres, resultam já vários dados.
Essa informação foi agora trabalhada num estudo, que faz diferentes comparações para tentar responder às perguntas de 1 milhão de euros. Será que a tecnologia de condução autónoma já evoluiu o suficiente para ser tão ou mais segura que a condução humana? Será que vai evoluir?evolução dos indicadores que ao longo dos anos foram tornando a condução humana mais segura
A análise "Autonomous Cars, Robotaxis and Sensors 2024-2044”, da IDTechEx, mostra que não, mas evidencia os enormes progressos alcançados nos últimos anos em diferentes indicadores, como confirmação do potencial para que esta venha de facto a transformar-se numa opção mais segura. Até porque, lembra também a organização, olhando para a evolução dos indicadores que ao longo dos anos foram tornando a condução humana mais segura, os progressos são menores e dependem mais de inovação tecnológica nos sistemas de segurança dos veículos, do que de alterações no comportamento dos condutores.
Vejamos então o que mostram os números analisados, tendo em conta os dados disponibilizados pelas empresas com serviços de táxi autónomos, como a Waymo ou a Cruise, que recentemente receberam autorização para expandir as suas atividades em São Francisco.
Um dos indicadores usados pela IDTechEx para medir a fiabilidade dos sistemas de condução autónoma é o número de quilómetros até uma interrupção. Ou seja, a distância que o veículo consegue percorrer até que o condutor de segurança seja chamado a intervir com o sistema autónomo. Este indicador é medido pela IDTechEX desde 2015 e a evolução positiva é muito significativa.
Em 2015, a Waymo tinha registado 682 mil quilómetros percorridos em condução autónoma, durante as quais foi necessário ativar o condutor de segurança 341 vezes. Isso traduziu-se numa taxa de 1.930 quilómetros percorridos por interrupção, a melhor desse ano. Desde 2015, no entanto, o número de quilómetros percorridos pelos veículos autónomos, sem necessidade de intervenção humana de apoio, evoluiu quase para o dobro.
Em 2022, a melhor performance neste indicador foi para a Cruise com uma taxa de quase 155 mil km percorridos sem interrupção. A empresa percorreu quase 1,4 milhões de km durante os quais só por nove vezes foi solicitada intervenção humana.
Analisando em detalhe a razão pela qual o sistema de condução autónomo precisou de ser desativado nestas nove situações, concluiu-se ainda que em quatro foram erros de outros condutores a desencadear o processo. Se estas situações fossem excluídas da comparação, a média de falhas do sistema (1 vez a cada 274 mil km) ficaria já bastante próxima da média de acidentes por distância percorrida na condução humana.
Estima-se que na condução humana exista uma colisão a cada 322 mil km percorridos, um dado apresentado no estudo como referência, mas que não pode servir para comparação direta com o número de vezes que um humano é chamado a apoiar um sistema de condução autónomo. Esse apoio pode ser solicitado por diversas razões e não se sabe se sem a intervenção humana a colisão iria de facto ocorrer, mesmo que existisse esse risco.
Os números de acidentes que envolveram veículos autónomos foram também analisados neste estudo e os autores concluem que, de toda a amostra, só 3,4% dos incidentes podem ser atribuídos a uma má performance dos sistemas autónomos.
Os dados das autoridades da Califórnia tomados como referência visam o período entre janeiro de 2019 e maio de 2023, altura em que foram contabilizadas 450 colisões, desde colisões com outros veículos, toques em passeios até situações em que os veículos foram “atacados” por pedestres, refere-se.
Já retirando da equação as viagens com um condutor de segurança humano atrás do volante (que em São Francisco são autorizadas desde 2020), o estudo chega a outras conclusões. Entre 2021 e 2022 a Waymo registou mais de 112 mil km de condução autónoma. A Cruise teve quase 950 mil km percorridos só em 2022. Neste período os veículos de ambas estiveram envolvidos em 15 acidentes, o que perfaz uma taxa de 1 acidente a cada 64 mil km percorridos, cinco vezes mais que a média na condução humana.
Os autores do estudo sublinham que é preciso ter em consideração, na análise destes dados, que São Francisco tem um dos cenários de condução mais difíceis dos Estados Unidos, condições que também afetam a condução humana. Estima-se que ali, a taxa de acidentes dos condutores humanos baixe quase para metade da média nacional - de 1 acidente a cada 322 mil km para um acidente a cada 172 mil. Ainda assim, melhor do que conseguem os veículos autónomos.
O estudo analisa ainda a taxa de acidentes com vítimas graves ou fatais nos testes de condução autonóma registados pelas autoridades da Califórnia desde 2019. Não há nenhum em 14 milhões de milhas percorridas. Os condutores norte-americanos têm um acidente com estas consequências a cada 75 milhões de milhas percorridas, pelo que a amostra ainda não é comparável, sublinha-se.
Dados apresentados, verifica-se que em nenhum dos indicadores analisados os veículos autónomos conseguem afirmar-se como uma opção mais segura que a condução humana, mas que a grande evolução destes sistemas em vários indicadores sustenta a previsão de que possam vir a fazê-lo.
“Quer se considere os quilómetros por interrupção, os quilómetros por colisão ou os quilómetros por fatalidade, os seres humanos continuam a ter um melhor historial do que os veículos autónomos. No entanto, a segurança humana tem estado bastante estagnada”, sublinham os autores do estudo.
“O ritmo a que nos despistamos não está a mudar muito e as melhorias alcançadas resultam sobretudo da tecnologia que foi sendo introduzida nos veículos para evitar colisões, como os sistemas automáticos de travagem de emergência e de deteção de ângulos mortos”.
Já nos veículos autónomos reconhece-se que “a sua segurança tem vindo a melhorar a um ritmo exponencial. Algo que é muito pouco provável que os humanos consigam imitar”, destaca a consultora que fez o estudo, sublinhando que se hoje os veículos autónomos ainda não estão prontos para uma utilização generalizada sem supervisão, no futuro têm potencial para “exceder em muito os níveis humanos de segurança”.
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