As TIC em geral são uma área dominada maioritariamente pelos homens, tal como a própria União Europeia já concluiu. O Codebits, portanto, também tem no sexo masculino a maior percentagem de participantes. Mas o TeK tem uma ferramenta especial, chamada olhómetro, e em comparação com a última edição, a versão 2014 do Codebits tem mais raparigas.

[caption]Raparigas Codebits[/caption]

Como é então, ser uma rapariga num ambiente de homens? Viviana Silva e Márcia Pinho dizem que não é difícil. Admitem no entanto que as raparigas que vêm acompanhadas por uma equipa têm mais facilidade de integração do que as “fêmeas” que estão por conta própria – tal como elas.



É a primeira vez que estão no Codebits. A 20 minutos do fim da inscrição de projetos ainda não tinham um conceito bem definido, isto porque a área onde são especialistas, o Web design, não sabiam como explorar ao máximo as suas potencialidades.

Viviana e Márcia confessam nunca terem pensado ver tantas raparigas num evento como o Codebits. Mas as duas jovens também têm consciência que fazem parte de uma nova geração, uma em que as mulheres estão mais ligadas aos computadores, às consolas e à programação.

Mas porque faltam mulheres às TIC? As duas participantes consideram que “vai um bocado da vocação de cada um”, mostrando no entanto um sentido de reconhecimento de que “muitas raparigas sentem-se parte da minoria e nem sequer tentam”.

“Arrisquem. Se não tentarem nunca vão descobrir se gostam”, aconselhou Márcia Pinho.

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O olhómetro levou depois o TeK até Patrícia Reis, de 20 anos. A jovem especialista em modelação 3D e Web design está integrada numa equipa onde há membros do sexo masculino. Admite em conversa que estar num ambiente dominado de homens é “estranho”, acrescentando logo de seguida que apesar do grande número, “eles não assustam”. Também porque acabou por encontrar mais raparigas do que aquelas que estava à espera.

Também é a primeira vez que vem ao evento organizado pelo SAPO e está a ajudar o grupo de trabalho no desenvolvimento de uma plataforma online para empreendedores, e quem sabe, conseguir integrar a Meo Wallet.

Na faculdade onde estuda, entraram bastantes raparigas para os cursos de engenharia e com o passar do tempo Patrícia Reis acredita que “mais raparigas vão-se sentir atraídas” por esta área.

Para as mulheres que este ano ficaram em casa, mas têm a ambição de participar nas próximas edições do Codebits, Patrícias Reis tem algumas palavras de força: “se tiverem medo de ser excluídas, não tenham; se tiverem uma ideia, levem-na para a frente, vão encontrar sempre alguém para fazer um grupo. Vir sozinha não é um obstáculo”.

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Fora do concurso de programação o TeK falou com duas investigadoras da Universidade de Lisboa, tendo ambas contribuído para o desenvolvimento da plataforma Lúdica, que está em mostra na área do SAPO Labs no Codebits.

Mónica Abreu e Farah Mussa fazem parte de uma equipa de sete elementos, incluindo professores, que trabalharam no desenvolvimento do Lúsica, uma plataforma estatística das músicas, cantores e estilos musicais da lusofonia mais comentados no Twitter entre abril de 2011 e março de 2014.

Tal como os projetos Máquina do Tempo e Grande Área, é possível descobrir em poucos cliques os estilos musicais mais populares – que de acordo com os dados são o Rock e o Pop -, mas também serve para analisar fenómenos sociais, como a grande procura por fado depois do estilo de música português ter sido declarado património da humanidade.

Outros dados mostram que no ano de 2011 Jorge Palma foi o artista com mais referências na rede de microblogues, enquanto David Fonseca saltou da 8ª posição para o primeiro lugar em 2012.

Ao todo o Lúsica tem na sua base de dados a referência de 200 artistas num total de 10 mil tweets e dentro de pouco tempo deve ficar disponível na rede de sites do SAPO.

Mas voltando à questão do sexo feminino nas TIC como minoria, Mónica e Farah concordam que cada vez se veem mais raparigas no sector. Sobre a falta de mulheres nas tecnologias apresentaram um argumento interessante, invocando a educação familiar. “Muitas raparigas são encorajadas a ir para cursos de menina”, dizem, algo que as engenharias não são.

Quanto a discriminação, nunca sentiram nada do género, dizendo que nas mesmas circunstâncias todos são iguais. Para as mulheres que estão a ler isto fica o aviso: “Venham que os homens não mordem”.

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico