Com o aumento no número de casos fatais associados ao coronavírus, um grupo de investigadores decidiu aplicar técnicas de machine learning nas redes sociais para detetar sinais de disseminação da doença. O vírus surgiu em Wuhan, na China, durante o passado mês de dezembro, mas ainda existem poucas certezas acerca do quão mortal ou contagioso é. Apesar de tudo, os números são preocupantes - até à data, mais de 40 mil pessoas foram infetadas e cerca de 900 morreram.
John Brownstein, responsável pelo departamento de inovação da faculdade de medicina de Harvard, é parte da equipa internacional que procura diariamente por sinais que possam indicar a presença do vírus em regiões onde as autoridades ainda não o detetaram. Brownstein, que é também especialista na recolha de dados nas redes sociais para identificar tendências no sector da saúde, dedica agora parte do seu dia a analisar posts, notícias e dados que fogem à alçada das agências públicas para tirar conclusões acerca do percurso do vírus.
Atualmente, a equipa procura por referências a sintomas específicos, tais como problemas respiratórios e febre, e segmenta a pesquisa com base nas regiões onde foram reportados casos suspeitos. A tecnologia utilizada consegue distinguir quando uma pessoa alega sentir algo de quando um utilizador está apenas a tecer um comentário sobre o tema - desta forma, excluem-se falsos positivos.
Em conversa com a Wired, Brownstein explica que estes esforços são essenciais para que as autoridades possam concluir com conhecimento de causa, como alocar os recursos disponíveis para a gestão da epidemia.
Os especialistas não tinham acesso a uma quantidade tão vasta de dados em epidemias anteriores, mas o professor explica que "os modelos podem ser treinados para se adaptarem aos termos que as pessoas vão utilizar e aos sintomas associados a uma nova doença". Por enquanto, a tecnologia tem tido bons resultados. O primeiro grupo de casos foi detetado e geolocalizado a 30 de dezembro e a informação foi prontamente partilhada com a Organização Mundial de Saúde.
Brownstein adianta que a técnica não serve apenas para monitorizar a disseminação do vírus, mas também para dar alguns insights acerca do comportamento do mesmo. Com base nos relatos armazenados, pode ser possível concluir qual a faixa etária, género e localização mais susceptível ao contágio.
Com base nos sinais identificados, a tecnologia permite também que seja delineada uma potencial trajetória para o aparecimento de novos casos. Andy Tatem, professor na Universidade de Southampton, no Reino Unido, criou um modelo que apresenta uma teoria sobre como o vírus se pode ter espalhado desde Wuhan. Para tal, o britânico recorreu aos itinerários dos transportes que partiram ou passaram por Wuhan e cruzou-os com os dados de localização dos smartphones, registados pela empresa chinesa Baidu. Desta forma foi possível traçar vários caminhos de contágio, que não só podem ajudar a explicar os primeiros trajetos de disseminação, como podem levar a algumas conclusões sobre os caminhos que o coronavírus pode tomar a partir de agora.
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