A Educação é um dos temas chave na conferência Digital With Purpose Council, que está a decorrer no Centro de Congressos do Estoril. Nos últimos três dias vários painéis, workshops e mesas redondas abordaram as necessidades de mudança nos modelos usados, nas escolas e universidades e nos programas, mas também foram partilhados exemplos inspiradores e casos práticos de quem já está a fazer a mudança.
Veerle Vandeweerd, fundadora da Transforming Education Alliance, ex-diretora da UNDP, admite mesmo que chegou a Cascais com a ideia de que seria muito difícil ou quase impossível mudar a Educação, mas que depois de três dias a partilhar casos e experiências "não sabia que havia tanta energia positiva, tantas ideias". "Vejo que o sector da educação está pronto a ser mudado e tem o poder para isso", afirma
Ainda há muito para fazer, e o digital e a tecnologia são elementos chave, mas é preciso mudar também processos, envolver os professores e os líderes escolares e os próprios governos. Ainda ontem Jordi Serarols Boada, sub diretor de Investigação e Cultura digital na Catalunha lembrava que o seu departamento está a desenvolver vários programas de utilização de inteligência artificial e pensamento computacional na educação, mas que há uma grande resistência à mudança. "Os professores são funcionários públicos e não acontece nada se não quiserem mudar", admite.
Na Catalunha há conselheiros a visitar escolas e um novo programa curricular e a experiência está a correr de forma positiva. "Passo a passo, com políticas claras, os professores tentam fazer a mudança, em especial quando percebem que os alunos estão mais envolvidos, sublinha Jordi Serarols Boada.
Veja as imagens dos primeiros dias da conferência
As competências são essenciais e Willem Schoors, Project Manager da EmpowerED, acredita que os professores precisam de ser ajudados a adaptarem-se às novas ferramentas e tecnologia. A sua organização desenvolveu uma ferramenta de auto avaliação e apoia os professores na sua formação, mas é também necessário haver investimento para que este modelo seja bem sucedido.
As parcerias podem ser uma das soluções, assim como a partilha de boas práticas. Paul Byrne, secretário geral da associação europeia de diretores de escolas, European School Heads Association (ESHA), admite que "funcionamos em silos e há muita sobreposição [de projetos]". "Vemos muitos bons exemplos em diferentes países mas ainda não conseguimos transferir os casos e é preciso sair dos silos e juntar as pessoas que estão a fazer projetos transformadores".
Também Tim Vieira, fundador da Brave Generation Academy, tinha já defendido no primeiro dia que todas as pessoas devem ter acesso a educação de qualidade, independentemente da sua capacidade financeira, pedindo maior colaboração entre os sectores privado e público, assim como entre pais e educadores. Para o empresário, é preciso dar aos jovens a liberdade de escolher os temas que mais interessam.
Essa ideia foi hoje destacada novamente por François Taddei, Diretor do Learning Planet Institute, que recordou as palavras de António Guterres, secretário Geral da ONU, que defende que mais do que diálogo com os jovens é preciso avançar em co-criação do novo modelo de educação. "Temos de envolver os mais jovens [...] É preciso fazer a ligação da educação ao propósito e dar um sentido à vida", afirma.
O Learning Planet Institute tem trabalhado na ideia de que os jovens devem criar novas bases comuns, cooperando nas condições para salvar o planeta, e aliando isso à educação. Na educação digital a proposta é transformar os MOOC (Massive Online Courses) em MOOD (Meaningful Open Oportunity Development) ou oportunidades de desenvolvimento com um propósito, criando novos caminhos de descoberta.
Inteligência Artificial e gaming são aliados
Ao contrário daquilo que é habitualmente a primeira impressão, a reação negativa que o sector da educação teve à Inteligência Artificial, e também ao gaming, são erradas. Para os oradores da conferência, estes podem ser aliados na educação, apoiando os professores como assistentes digitais e ajudando a garantir a hiperpersonalização do ensino, ao mesmo tempo que envolve os mais novos em projetos em que aprendem através e jogos.
Glenn Gillis, CEO da Sea Monster, dinamizou um workshop sobre gaming na educação e diz que os resultados dos trabalhos foram impressionantes. "Os jogos podem mudar o mundo", afirma, lembrando que esta é uma área que não está apenas limitada a adolescentes fechados em casa a jogar Fortnite e que tem o poder de juntar os utilizadores na mesma experiência e acompanhar uma jornada de descoberta e resiliência.
Do trabalho dos workshops saíram várias ideias, como a necessidade de escalar as competências de interação social, desenvolver o poder da IA para a hiperlocalização e hiperpersonalização, e promover a ideia de cidadania global. "Há problemas globais que precisam de soluções globais".
António Câmara apresentou também o projeto do Seixal Criativo, que surgiu de um desafio da parte da Câmara Municipal do Seixal para envolver a população mais jovem, e muito diversa, na educação. O professor e investigador defende que é preciso mudar o sistema que está assente na formalidade e promover a parte inspiradora e prática dos projetos, mesmo que não se perca de vista que a aprendizagem tem os dois momentos: a diversão de aprender e a dor necessária para atingir esse conhecimento.
"Tem de se mudar o sistema burocrático [...] não há nenhuma razão para ter de se passar pela tortura dos testes e exames", afirma, defendendo que é preciso ter um espírito rebelde para não sermos "servidores" e que essa mudança é essencial em Portugal.
O SAPO TEK é Media Partner do Digital with Purpose Global Summit 2024 e pode acompanhar tudo no dossier que criámos.
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