A Defined.ai apresentou esta quinta-feira no Web Summit uma nova assistente virtual, a Diana, que passa a complementar a oferta da empresa na área da inteligência artificial e que é já produto do trabalho realizado no âmbito consórcio Accelerat.AI. Apresentada por Daniela Braga - fundadora da tecnológica que tem sede nos Estados Unidos - numa das talks do evento, a Diana materializa uma das grandes dificuldades técnicas até à data neste tipo de soluções. Consegue reagir a uma interação que misture duas línguas na mesma frase. Neste caso, o português europeu e o inglês, explicou a responsável durante a apresentação.
"A Diana é o primeiro chatbot que reconhece português de Portugal, através da sua capacidade de code switching. Se lhe perguntar: Diana, where can I eat Bacalhau à Brás in Lisbon?, ela entende perfeitamente”, explicou Daniela Braga.
Já depois da apresentação, em conversa com o SAPOTeK e a partir do seu smartphone, a empreendedora fez mais algumas perguntas à Diana "How do I get do Web Summit from Alto dos Moinhos?" ou "Diana where can I eat Pasteis de Belém?". A Diana passou com distinção na resposta, usando o mesmo mix de português e inglês. Fez as frases em inglês e manteve os nomes de estações de metro ou pastelarias no seu melhor português.
Na versão aqui demonstrada a Diana é uma concierge, afinada para ajudar o participante do Web Summit a orientar-se na cidade e a descobrir o que há para fazer, mas pode ser configurada para diferentes fins. "Isto serve para mostrar o que andamos a fazer no Accelerat.AI", sublinhou, mas "pode ser adaptado a várias bibliotecas de conhecimento".
É um produto "modelar e flexível, que se integra em qualquer aplicação seja via web, app ou multicanal"
Nesta adaptação para assistente de quem visita Lisboa, o propósito foi sobretudo o de mostrar que a solução "consegue funcionar em ambiente ruidoso e permite o code switching, que não há nenhuma tecnologia que o faça bem", frisou Daniela Braga. Na demonstração feito ao SAPO TeK tivemos a possibilidade confirmar a segunda premissa, com a resposta do sistema a três frases com este tipo de construção, não validámos a primeira porque a conversa aconteceu à margem da Web Summit, no exterior, junto ao rio.
Esta é a base de trabalho do consórcio Accelerat.AI, que tem mais dois anos pela frente, durante os quais vai continuar a aperfeiçoar a solução e pôr no terreno uma "estratégia de go to market forte". Daqui a um ano, Daniela Braga espera ter vários use cases em diferentes áreas, "com clientes onde eles existirem. Gostaria muito que fosse em Portugal, mas não sei se vai ser", admite.
Empresas portuguesas têm interesse mas não avançam
Nos últimos meses o consórcio procurou oportunidades para desenvolver novos casos de uso em empresas portuguesas. "Muitas [empresas] andavam interessadas nestes temas, mas depois não concretizam, por isso vamos levar a Diana para os Estados Unidos onde o mercado está preparado e pronto, onde há menos receio da inovação e do risco. Temos de fazer pelo menos o deployment em alguns clientes, se não é em Portugal será fora de Portugal". Paralelamente, mantém-se o compromisso com a Administração Pública, que tem "muito interesse nestas soluções", embora pouca margem para tomar decisões deste tipo no momento atual.
Veja a Diana em ação
A solução na base da Diana é open source e assenta na versão mais recente do modelo de linguagem da Meta, o Lama 2, para além de recorrer a outras tecnologias como Automatic Speech Recognition (ASR) baseado no Whisper da OpenAI e Text to Speech da Microsoft. A Defined.Ai "monta" todas as peças e faz o fine tuning.
A tecnológica lidera um dos dois consórcios das agendas mobilizadoras dedicados à inteligência artificial e financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência. O Accelerat.AI tem um investimento de 34,5 milhões de euros, metade financiados pela chamada “bazuca”. Este novo produto resulta do trabalho desenvolvido nesse consórcio, onde também está a Devscope, o Instituto Superior Técnico de Lisboa, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, FC.Id e INESC-Id.
Há um ano, também no Web Summit, a empreendedora explicava que o consórcio ia “desenvolver um produto de IA Conversacional que é um assistente virtual para usar em contact centers e substituir o agente em 80% das perguntas mais frequentes, seja através de voz ou texto”, referia numa conversa com o SAPOTeK.
Na chamada para um call center hoje, o software de atendimento (IVR) inicia todo um caminho que é preciso percorrer, normalmente selecionando opções numéricas, até que o cliente chegue ao sítio certo para resolver a questão. Em metade dos casos, essa “viagem” acaba com o cliente a selecionar a possibilidade de falar com um agente assim que a tem. É este tipo de desfecho que o IA Conversacional quer mudar, ao conseguir interpretar e responder adequadamente a cada pedido desde a primeira interação, explicava à data a responsável.
O primeiro protótipo, desenvolvido para a AMA - Agência para a Modernização Administrativa, em parceria com a Microsoft e a DareData Engeneering, resultou precisamente num chatbot com um avatar realista, que reconhece e reproduz texto e voz para responder às perguntas dos cidadãos sobre a Chave Móvel Digital.
Mas o objetivo do consórcio passa também por criar uma solução que possa ser adaptada a diferentes contextos (e não apenas a serviços de atendimento) e a diferentes sectores. Em comunicado, a Defined.Ai explica agora que "durante o primeiro trimestre deste primeiro ano de operações do Accelerat.ai, a Defined.ai focou os seus esforços na definição da estrutura do projeto, apresentando o primeiro protótipo em maio".
"Durante a segunda metade do ano, a análise do parecer dos vários parceiros e stakeholders permitiu aprimorar aqueles que serão os próximos passos do projeto", explica-se ainda. Em resultado disso surge agora a nova solução de IA Conversacional Diana, que é simultaneamente um novo produto da Defined.AI. Este novo produto vai permitir à empresa explorar uma nova área da inteligência artificial, já que tradicionalmente posicionou-se na recolha e tratamento dos dados, que são depois usados por outras empresas para criar aplicações. Por exemplo, os dados que fazem assistentes como a Alexa ou a Siri funcionar vêm da Defined.AI.
Para colocar este novo produto no mercado, a estratégia vai começar pelo retalho. "É mais orientado ao consumo e é uma área onde todas as empresas têm necessidades relacionadas com o apoio ao cliente", explicou ao SAPO TeK Daniela Braga. Em paralelo, a Defined mantém as suas áreas mais tradicionais de atividade que têm crescido ao ritmo do interesse na IA, como admite a gestora. "O nosso produto principal de dados duplicou este ano, porque todas as empresas estão a fazer generative AI nos Estados Unidos, mesmo empresas que historicamente não trabalhavam nesta área. No início tinha um mercado muito Fortune 5 que foi evoluindo e hoje é Fortune 500", chegando já ao universo das 500 maiores empresas segundo este ranking da revista Fortune.
"Este ano o nosso marketplace cresceu em 10 vezes os dados que disponibiliza e no próximo queremos voltar a multiplicar por 10 ou 20 os dados disponíveis e com tipos de dados que nunca tivemos".
A explosão da IA generativa fez explodir também a procura por novas categorias de dados. Daniela Braga deu alguns exemplos: imagens aéreas, modelos 3D, design gráfico, arte, música, sons da natureza, entre outros, estão agora entre as categorias de dados disponíveis no marketplace da empresa.
Com perspetivas de crescimento animadoras, a responsável assegura que a empresa está "mais independente e autónoma de investimento do que nunca", longe de precisar de novas rondas de investimento e da necessidade de abrir capital a novos investidores.
O SAPO TEK mudou a redação para o Web Summit e acompanha tudo o que se passa na conferência e nos eventos paralelos que acontecem em Lisboa. A agenda é longa e há muito para descobrir dentro e fora dos palcos.
Pode acompanhar tudo no nosso especial do Web Summit 2023 e também ver a transmissão em direto do palco principal com o SAPO.
Nota de redação: A notícia foi atualizada para incluir declarações de Daniela Braga, CEO da Defined.AI, entrevistada pelo SAPO TeK à margem da Web Summit.
[23-11-2023]: A notícia foi atualizada para incluir um video fornecido entretanto pela Defined.AI, com uma demonstração da Diana a funcionar.
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