A constante resposta a múltiplos estímulos pode provocar perdas na memória de curto prazo, ou mesmo vir a ter implicações na memória de longo prazo e no desempenho intelectual em geral, defende um estudo publicado pela Universidade da Califórnia, nos EUA.

Na semana em que no país se leva a cabo a "Screen-Free Week" - uma iniciativa com a qual se pretende manter as crianças afastadas dos ecrãs de dos dispositivos electrónicos: "um tempo para desligar da corrente e brincar, ler, sonhar acordado, criar, explorar e passar mais tempo com familiares e amigos", segundo os responsáveis pela campanha - os especialistas voltam a alertar para os perigos de abusar da tecnologia.

Os cientistas da UCSF afirmam ter encontrado novas provas de que o "multitasking", ou "multitarefa", impede a formação de memórias de curto prazo, principalmente entre adultos mais velhos. Numa primeira fase, os investigadores tinham detectado que distracções como as provocadas pelo uso de smartphones e redes sociais são susceptíveis de prejudicar a memória de longo prazo e o desempenho intelectual em geral.

Computadores, netbooks, tablets, smartphones e telefones multiplicam-se na divisão do tempo dos utilizadores. Embora a capacidade de estar atento a diversos estímulos não seja invenção recente, com a evolução tecnológica têm sido colocados à disposição das pessoas cada vez mais "brinquedos" - ou instrumentos de trabalho - que lhes permitem estar, não só em permanente comunicação entre si, como com acesso a informação online.

A expressão multitasking (multitarefas) há muito que entrou nos nossos dicionários, sendo-nos muitas vezes apresentada como uma mais-valia para um trabalhador eficiente. Fala-se também numa maior capacidade dos mais novos para trabalhar desta forma, por estarem habituados desde cedo a este "tipo" de raciocínio.

No entanto, um estudo publicado por investigadores de Stanford, em 2009, revelou que aqueles que trabalham em multitarefa mais frequentemente se saem pior no desempenho de actividades que exijam esse mesmo método de trabalho, porque se distraem mais facilmente com informação inútil. Os especialistas concluíram que o recurso continuado ao desempenho de actividades "saltando" entre tarefas pode prejudicar o filtro que permite ao cérebro concentrar-se numa só tarefa.

Os responsáveis pelo estudo divulgado esta semana afirmam ser ainda cedo para falar em medidas, mas alertam para o facto de a tecnologia não dever ser encarada como um bem em absoluto, do qual se pode sempre consumir mais sem reflectir sobre o assunto.

Em 2009, o mesmo tipo de questões e as implicações do uso da Internet na forma como raciocinamos tinham sido levantadas por Nicholas Carr num artigo, que foi depois usado pelo Pew Internet & American Life Project no 4º inquérito ao "Futuro da Internet".

Apesar de reconhecerem as distracções associadas à navegação Internet, a falta de profundidade de muitos conteúdos e a limitação à capacidade de concentração, os utilizadores que responderam acreditam que o cenário mais provável é que até 2020 a disponibilidade de informação na Internet permitirá às pessoas tornarem-se mais inteligentes e fazer melhores escolhas, concluiu nessa altura o estudo, de que o TeK falou aqui.