“É preciso persistir na formação e deixar de lado os preconceitos e estereótipos de achar que as áreas das TIC não são para elas”, defendeu Maria Fernanda Rollo, secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, na sessão de abertura da 4ª edição do Girls in ICT, organizada pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Dirigindo-se particularmente aos estudantes do secundário presentes, a governante destacou que não é possível escapar à revolução digital que vivemos hoje, apesar de muitas vezes não se estar consciente dessa mesma mudança e que, embora a tecnologia seja vital, têm que ser as pessoas o motor dessa revolução.
Para isso, defendeu que o investimento na formação é essencial, uma vez que em cada três jovens entre os 19 e os 20 anos apenas um ingressa no Ensino Superior e que esse é um fator determinante para haja uma maior probabilidade de encontrar emprego (85%), melhores salários e ter uma maior realização pessoal.
“Não é bombardear a cabeça dos jovens, mas sim contrariar estereótipos e dar-lhes a oportunidade de terem mais informação para que possam escolher em consciência o caminho que querem seguir”, esclareceu Maria Fernanda Rollo.
Para a secretária de Estado, a partilha destes dados é também uma questão de responsabilidade social quando se sabe que 15 mil vagas de emprego vão ficar por preencher em Portugal, em 2020, e 50% das profissões de hoje vão desaparecer nos próximos anos e que a presença das mulheres nas STEM é muito inferior ao de outras áreas.
“Hoje em dia vocês têm isto como um dado adquirido, mas em relação às questões de género nas áreas tecnológicas, a equidade foi tirada a ferros”, disse Maria Fernanda Rollo às várias dezenas de estudantes do secundário que a ouviam.
No entanto, esta é uma realidade que tem vindo a melhorar, com a presença feminina nas áreas da investigação e no tecido empresarial a aumentar. E esses números também são visíveis no ensino superior, com a percentagem de alunas nos vários cursos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa a ter chegado aos 44% em 2016.
No curso de Engenharia Informática essa é uma tendência que tem vindo a crescer ao longo dos anos. Em 2015 foram 13 as alunas a entrar no curso, um número que subiu para 17 no ano passado.
“São cerca de 100 os alunos que entram por ano neste curso. No próximo ano, esperamos chegar aos 25% de representação feminina, mas estamos otimistas que poderemos conseguir alcançar os 30%”, desabafa Nuno Neves, presidente do Departamento de Informática.
Quais são, então, os métodos para incentivar as jovens a considerarem carreiras nessas áreas? Diana Pinho, talent & resourcing specialist da Vodafone Portugal, acredita que é essencial acabar com o paradigma de que “programar é só para rapazes” e defende que foi com essa visão de fundo que a Vodafone criou um programa piloto em que alunos do secundário têm acesso a formação gratuita na área das STEM para “experimentar se gostam”.
“Através deste programa conseguimos formar 23 raparigas em programação, sendo que algumas delas nem estavam interessadas em experimentar e só o fizeram porque foram acompanhar uma amiga”, disse. Para o ano, o objetivo é duplicar este número.
Para João Sousa, da Happy Code, também se trata de uma questão de quebrar tabus que, muitas vezes começam em casa, e de mostrar que a tecnologia é transversal a tudo e a todas as profissões.
O gestor também aponta a inspiração através de exemplos como uma forma de atrair as raparigas as oportunidades de carreira e realização profissional na área. E a escola de programação para crianças e jovens do mundo dá o mote: numa equipa de 26 elementos, 50% são do sexo feminino.
Por fim, João Sousa defende que a igualdade no mundo das TIC se trata de “lidar com personalidades e não com géneros”.
O Girls in ICT Day, uma iniciativa da União Internacional das Telecomunicações, comemora-se hoje por todo o mundo com o objetivo de aumentar a consciencialização das jovens mulheres sobre as oportunidades de carreiras nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
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