Durante o painel "Powerful technology platforms to accelerate businesses" do Portugal Digital Summit 2024 ficou demonstrado que o futuro do digital passa pela inteligência artificial, mas também pela “cena” quântica que, embora ainda em fase inicial, promete revolucionar várias áreas.
Elisabete Vicente, Experienced Consulting Delivery Manager da Microsoft, começou por referir que a exploração da inteligência artificial começou nas grandes empresas, mas também está a acontecer nas PME. Defendeu que é possível fazer coisas com a IA nas pequenas e média empresas e deu o exemplo da aplicação desenvolvida pela Microsoft para a ordem dos psicólogos. “A tecnologia está preparada para ser usada rapidamente por PME”.
Como se disse noutros painéis do Portugal Digital Summit 2024, Elisabete Vicente concorda que é preciso capacitar todas as pessoas para usarem a IA. “Não só formar jovens, mas também fazer o reskilling”.
António Miguel Ferreira, da Claranet, defendeu que todas as novas tecnologias têm uma fase de alguma ilusão e expetativa, “porque na realidade ainda não se conhecem muito bem os casos em que as vamos utilizar”. Isso aconteceu com várias tecnologias do passado, como é o caso da cloud, mas há uma diferença grande com a IA face a outra tecnologias anteriores, apontou.
“O que estamos aqui a falar não é de infraestrutura, estamos a falar de pessoas. Estamos a substituir as pessoas em processos das organizações e às vezes até em processos interpessoais”, admite.
Como em todas as tecnologias, passando esta fase de ilusão, António Miguel Ferreira acredita que começamos a ver casos em que a IA pode ser muito útil, “porque aumenta a nossa produtividade e em alguns casos substitui-nos, aumentando o valor económico que as empresas e países conseguem produzir”.
É normal haver um “medo” da tecnologia, mas depois há um tempo de maturação e isso está a acontecer com a IA. “Um pouco como aconteceu com a cloud, em que houve muita desconfiança inicial e hoje passou e já ninguém se lembra disso”, referiu o responsável da Claranet, sublinhando que a inteligência artificial é uma evolução tecnológica que vai ter um impacto profundo nos anos que se seguem.
Mas o que falta às empresas para aproveitarem melhor as plataformas tecnológicas? Para Miguel Fernandes falta o conhecimento dos dados.
“Há sempre muita coisa para fazer e muita pressa. Andamos sempre a correr atrás do prejuízo e por vezes falta o básico, e o básico, muitas vezes, é ter os dados, ter informação para poder tomar decisões”, apontou o country manager da Checkout.com. Para Miguel Fernandes esse é um aspeto que faz com que seja difícil ganhar escala para competir.
“A maior parte das vezes que uma transação de pagamento falha, não é por falta de saldo. Com a IA podemos perceber o que poderia ser feito para que aquela transação não falhasse”, referiu Miguel Fernandes.
E se a inteligência artificial já vai ganhando “forma”, a tecnologia quântica ainda está a dar os primeiros passos, mas também vai chegar às pessoas e às empresas, em principio só na próxima década, nas previsões de Yasser Omar, Professor do IST ULisbon, Presidente do PQI – Portuguese Quantum Institute.
Além da computação quântica - a mais “conhecida” -, existem mais dois tipos de tecnologias no âmbito da informação quântica, a criptografia quântica e os sensores quânticos. São tecnologias que, respetivamente, poderão ajudar a detetar doenças em fases precoces, cifrar as comunicações com uma privacidade mais robusta ou detetar sinais com mais precisão. Mas ainda são muito futuristas.
“Já existem protótipos de todos estes tipos de tecnologias quânticas, mas muitos deles ainda estão longe de poderem ser adotados”, admitiu Yasser Omar durante uma das suas intervenções.
Ainda assim, as empresas devem ir investigando e tentando perceber se têm casos de uso interessantes “ou se este ou aquele problema que enfrentam, se fosse aplicado a um computador quântico, seria mais rápido de resolver ou não”, porque já há oportunidade de experimentar, sugeriu.
A expectativa é que a computação quântica possa vir a resolver problemas computacionais complexos de forma muito mais rápida do que os computadores tradicionais, o que leva Yasser Omar a alertar para o hype muito grande e “um pouco perigoso” que se tem gerado à volta da “cena” quântica, mas não tem dúvidas em afirmar que é uma revolução científica e tecnológica.
Veja a entrevista de Yasser Omar ao SAPO TEK, no Portugal Digital Summit 2024
“Ainda não se identificaram muitos problemas que o computador quântico resolve muito mais depressa que os supercomputadores, mas os que se encontraram são tão importantes que justificam todo este investimento”, defendeu Yasser Omar.
Entre as barreiras do receio de mudar e a importância do gosto por experimentar
Tal como noutros painéis do Portugal Digital Summit, a aversão à mudança esteve entre os desafios apontados, assim como a importância da liderança.
“As pessoas têm essa dificuldade, e nós temos visto em algumas organizações, que mudar processos, mudar formas de trabalhar, mudar formas de pensar é um desafio, mas é fundamental que aconteça, defendeu Elisabete Vicente.
Para a responsável da Microsoft, as empresas têm de saber o que querem, o que vão fazer e o que vão ganhar com isso, pensarem num conceito de “Data Product Driven Organization”, sugeriu.
“Não há problema em falhar, o problema está em não reagirmos. Experimentámos produtos, decidimos que não estavam a ter sucesso, mudamos para outros e aprendemos com as lições da falha”, sublinhou Elisabete Vicente.
Sobre a IA poder a estar a “roubar” investimento a outras áreas nas empresas, António Miguel referiu não notar isso na Claranet e considera que ainda não há assim tantos projetos que envolvam quantidades massivas de dados de inteligência artificial. “Pela dimensão dos mesmos não são suficientes para se falar em desviar orçamento de outras áreas para a IA”, embora exista uma diferença clara entre PME e as grandes empresas, que já estão a olhar para a IA de outra forma. Se o orçamento for desviado de áreas que estavam a ser menos eficientes a tratarem a mesma situação, está justificado, considera o responsável da Claranet.
António Miguel Ferreira considera fundamental perceber que a IA não é só mais um recurso tecnológico para o departamento de IT gerir. “Isto é algo que tem de ser discutido do ponto de vista da estratégia da organização a partir do topo”..
Já para Miguel Fernandes a questão não é “onde encaixar a IA”, mas sim de que forma a tecnologia pode ajudar a melhorar os KPIs. “Estamos numa altura em que nunca foi tão fácil captar tanta informação, ter tantos dados. A principal diferença de uma compra em loja, de uma compra online, é a quantidade de dados que nós conseguimos captar sobre tudo o que é que o cliente está a fazer”.
Elisabete Vicente defendeu que, acima de tudo, é importante que as empresas tenham gosto por explorar e usar as plataformas tecnológicas. “Acho que é olhar com um espírito positivo e perceber que, de facto, este é uma mudança. A inteligência artificial e as tecnologias quânticas são recursos que os humanos vão usar para fazer outras coisas”.
Veja as imagens do Portugal Digital Summit 2024
O SAPO TEK acompanhou os dois dias do Portugal Digital Summit’24, a partir do Técnico Innovation Center. Pode ver todas as notícias no dossier que publicámos com o acompanhamento da conferência.
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