Mais de um quinto dos diplomados no Instituto Superior Técnico, uma das escolas de engenharia mais conceituadas do país e das mais reconhecidas a nível internacional, quando acabam os cursos vão trabalhar para fora. Na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, outra referência reconhecida em vários rankings internacionais, os dados compilados mostram que um décimo dos alunos têm experiências internacionais e que, destes, um quinto fica mesmo a trabalhar fora, números que têm aumentado significativamente nos últimos anos.
As estatísticas oficiais não permitem tirar grandes conclusões sobre este tema. Há dados sobre os principais países de destino da emigração portuguesa, idade de quem emigra e nível de formação, mas poucos detalhes atualizados sobre os perfis que mais saem de Portugal, neste universo da emigração qualificada. Algumas universidades compilam informação que pode ajudar a ter uma perspetiva sobre o tema e a perceber a dimensão do fenómeno. A FEUP e o Técnico aceitaram partilhar esses dados com o SAPO TEK para fazer este exercício.
Os dados recolhidos pelo Instituto Superior Técnico, em Lisboa, mostram que em 2023 22,7% dos estudantes que terminaram o 2º ciclo de formação foram trabalhar para fora. Os números foram obtidos através de inquéritos feitos entre 12 a 18 meses após a conclusão do curso e não mostram uma fotografia muito diferente da obtida através das pesquisas em anos anteriores. “Nos últimos cinco anos esta percentagem tem variado entre o mínimo de 15,1% registado em 2021 e os 23,4% de 2022”. Alargando o horizonte temporal da análise até 2015 vê-se o mesmo tipo de variação entre anos, sendo que o número de respostas aos inquéritos tem sido estável.
Por áreas científicas, o curso de Engenharia Aeroespacial é o único onde é possível identificar uma tendência de internacionalização dos diplomados acima da média, uma tendência que também se tem mantido ao longo dos anos. Nos últimos cinco, em média saíram de Portugal 35% dos engenheiros aeroespaciais que a instituição formou. Os dados mais recentes mostram que o número cresceu mais um pouco, para 48,5%.
A maioria dos ex-alunos que vão para fora escolhem a Europa, com quatro países em destaque. Reino Unido, Suíça, Alemanha e Países Baixos. “Olhando para os últimos quatro anos, é possível ver que a Alemanha tem ganho alguma preponderância como principal destino, passando de terceiro principal destino em 2020, para o principal destino em 2022 e 2023”, detalha a instituição.
Os números não surpreendem Rogério Colaço, presidente. "O Instituto Superior Técnico forma profissionais altamente qualificados e muito diferenciados nas áreas de engenharia, ciência, tecnologia e arquitetura. São quadros que, pela sua qualidade e pela qualidade da sua formação, têm uma enorme procura e um enorme valor no mercado de trabalho”.
Nos últimos 10 a 15 anos, principalmente, os recém-diplomados na instituição tornaram-se talento disputado. “Não sendo, em muitos casos, as empresas nacionais e a própria administração pública competitivas em termos internacionais com as condições oferecidas a estes quadros (em termos salariais, mas não só), é natural que uma parte significativa acabe por procurar oportunidades de emprego no estrangeiro", reconhece o responsável.
Comunidade internacional de ex-alunos FEUP cresce com destaque para a Alemanha
A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto verifica que 10% dos alunos saem do país, muitos ainda durante a formação. “Uma grande franja de alumni espalhados pelo mundo resulta de uma primeira experiência de internacionalização ainda durante o curso e pode iniciar-se por diversas vias”. Uma delas é uma experiência Erasmus bem-sucedida, que incentiva os alunos a prosseguir uma carreira internacional logo que terminam a formação. As Summer Schools e Estágios de Verão têm também ajudado a dinamizar estes movimentos.
Desse universo de alunos com uma primeira experiência internacional concretizada, “um em cada cinco dos atuais graduados prosseguem para uma carreira internacional”. Não o fazem por necessidade, mas mais por uma questão de oportunidade, segundo a instituição. “O fenómeno deve-se também às feiras de emprego que recrutam muitas vezes para fora” e que reúnem empresas que se movem no panorama nacional e internacional.
A FEUP constata ainda que nos últimos dois anos houve “um enorme crescimento da comunidade internacional” de ex-alunos e dá alguns exemplos. “No Reino Unido duplicámos o número de Alumni (são já 616), na Alemanha e nos Países Baixos também cresceu de forma significativa". Espanha, EUA, Canadá e Suíça seguem-se como países preferenciais para a maioria dos ex-alunos, que muitas vezes continuam ligados à universidade e entre si nesses destinos, graças ao programa de embaixadores que a Faculdade mantém há mais de 10 anos. A iniciativa dá o mote para promover encontros em várias cidades pelo mundo e acabou por desenvolver uma rede com um papel importante no acolhimento de quem vai para fora.
A instituição vê com naturalidade o facto de não ser possível manter no país todos os estudantes que forma. Até porque em sentido inverso o mesmo movimento também tem crescido. Cerca de 15% dos atuais alunos da Faculdade de Engenharia do Porto já são estrangeiros. Vêm de 77 países diferentes e distribuem-se principalmente por programas do 3º ciclo.
Este artigo integra o Especial "À procura de uma vida "melhor"… porque sai cada vez mais talento qualificado de Portugal e o que encontra no destino?" com vários textos que pode ler no SAPO TEK ao longo dos próximos dias.
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