Portugal tem conseguido atrair nos últimos anos alguns investimentos importantes de multinacionais que estão a trabalhar em soluções e produtos inovadores para a indústria automóvel. A Critical Software criou cá uma joint-venture com a BMW, a Mercedes-Benz.io tem um hub de inovação de onde saem soluções digitais para as áreas de marketing e vendas, o CEiiA já ajudou a fazer nascer vários projetos internacionais. A Volkswagen e a Bosch também escolheram Portugal para fixar projetos relevantes para os respetivos grupos na área da inovação.

“Escolhemos Portugal porque tem excelentes universidades de onde saem ótimos engenheiros que, a partir daqui, conseguimos integrar com equipas internacionais nas nossas unidades de negócio em todo o mundo”. A explicação é de Jürgen Reimann, CEO da Volkswagen Digital Solutions, que entretanto se mudou para Portugal com o objetivo de coordenar a expansão desta unidade local, que até 2024 quer passar dos atuais 240 colaboradores em Portugal (75% portugueses e os restantes de mais 15 nacionalidades) para 450. A partir de Portugal, o responsável tem também a missão de ajudar a estreitar relações entre a unidade local e os departamentos tecnológicos do grupo na Alemanha.

A expansão prevista para a VWDS em Portugal vai refletir o crescimento da atividade nas três áreas em que a unidade trabalha desde que abriu portas, em 2019, e que já responderam a quase 30 projetos. Até final do ano há mais três a quatro na calha, que se prolongam para 2022. Já anunciado está também um investimento de 30 milhões de euros no país em 2022 e de 40 milhões de euros em 2023.

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Estas três áreas de atividade que a VWDS explora a partir de Portugal já existiam no grupo e funcionavam numa lógica de startups autónomas, com processos e metodologias de trabalho próprias, que se mantém. Focam-se nas áreas de Application Management Services, MAN Digital Hub e desenvolvimento de software. A primeira começou por dar suporte às aplicações da Volkswagen Financial Services. Hoje trabalha com outras entidades do grupo em várias partes do mundo e para várias marcas nesse universo, como a SEAT, Skoda ou Audi.

Serviços personalizados para os pesados da MAN, a partir de Portugal

A MAN Digital Hub desenvolve produtos digitais para as áreas de logística, transportes e veículos comerciais para as várias áreas de negócio da MAN Truck & Bus. O Software Development Center, que também existe em diferentes localizações na Alemanha, dedica-se ao desenvolvimento de produtos digitais centrados no utilizador, também para as várias marcas do grupo.

Nestas três áreas há projetos que vão da engenharia à produção, passando pelas vendas e pelo pós-venda, apoio à eletrificação e em algumas áreas relacionadas com a condução autónoma, sobretudo no que se refere aos updates over-the-air, relacionados com alguns serviços de condução assistida.

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Em particular, foi desenvolvida em Portugal a solução que permitiu simplificar o processo de venda de um carro, integrando mais facilmente e com menos passos todas as opções de personalização escolhidas pelo cliente.

O serviço MAN Now também foi desenvolvido em Portugal. Integra um conjunto de funcionalidades que permitem personalizar o veículo às necessidades dos condutores e das empresas, para melhorar a segurança a bordo. As funcionalidades disponíveis para cada veículo são selecionadas através de uma plataforma digital e disponibilizadas over-the-air. Nestas funcionalidades incluem-se sistemas de navegação com atualização de mapas e informação de trânsito em tempo real, diagnósticos em tempo real ou alertas de manutenção.

tek Man Now
créditos: VWDS

O plano da VWDS para os próximos anos passa também por atrair para Portugal projetos em novas áreas, nomeadamente no que se relaciona com a produção, que continua a ser uma área core nos elétricos, ainda que os desafios se tenham renovado e passem hoje em boa parte por questões de software. Em Portugal estão já a ser constituídas três equipas para ajudar as mais de 100 fábricas do grupo nesta área, explica Jürgen Reimann.

Na área da condução autónoma, o responsável admite que as equipas locais possam também vir a ter um papel mais ativo. “Este é um projeto muito complexo e que envolve várias frentes. Nós já trabalhamos com estas equipas e somos parte da cadeia logística envolvida nesse projeto”. Quando a condução autónoma for uma realidade na Europa, onde cada país tem a suas regras, um dos desafios que se colocará às marcas será a adaptação às regras e regulamentos de cada país e Jürgen Reimann diz que a equipa de Portugal terá com certeza um papel também nisso.

Sensores que vão “guiar” a condução autónoma

A condução autónoma é já uma das áreas fortes de trabalho da Bosch em Braga, onde está a ser desenvolvido o VMPS (Vehicle Motion and Positioning System), um sensor de posicionamento que responde aos diversos requisitos da condução . Como explica Armin Karle, responsável pelo Centro de Desenvolvimento da Bosch Car Multimédia na capital minhota. Este sensor “vai permitir saber sempre onde está o carro, a qualquer hora e em qualquer lugar, com uma precisão muito maior do que os sistemas de navegação existentes”. Este é um entre vários projetos em curso nesta área da sensorização, mas há outros.

O RideCare é um exemplo e foi pensado para apoiar operadores de frotas de veículos, como as empresas de renting. “O RideCare é uma fusão de sensores, num serviço impulsionado pela AIoT (inteligência artificial e internet das coisas), onde os sensores são usados para registar acidentes e a utilização do veículo em não conformidade, como por exemplo, se alguém fumar dentro do veículo”, explica o mesmo responsável.

Em Braga desenvolvem-se também tecnologias de cockpit, que contribuam para melhorar a experiência de condução e personalizá-la, onde se incluem grupos de instrumentos e computadores para infotainment, displays e sistemas de monitorização interna.

Algumas destas tecnologias são desenvolvidas em parceria com a Universidade do Minho (como é também o caso do simulador EasyRide, na foto, que testa a tecnologia V2X para comunicação entre veículos, pessoas e infraestruturas) que há cerca de uma década está ligada à unidade de Braga. Como explica António Pontes, professor associado da Escola de Engenharia da Universidade do Minho e pivot da parceria Bosch-UMinho, os projetos que têm unido as duas instituições cobrem as grandes tendências na evolução do automóvel e da experiência de condução.

Têm procurado respostas para questões de segurança, relacionadas com a condução autónoma, comunicação entre automóveis, criado soluções para a interação homem-máquina em ambiente de condução semi-autónoma, onde a atenção do condutor continua a ser necessária. Têm passado também pela incorporação de inteligência artificial nos sistemas autónomos e pela criação de opções para a personalização do espaço interior do veículo, com soluções multimédia e inovações ao nível dos materiais utilizados.

Neste momento estão em curso três projetos, relacionados com a reinvenção do espaço interior do veículo e integração de soluções multimédia avançadas, como grandes ecrãs, segurança avançada com apoio da inteligência artificial e com a fábrica do futuro, apoiada em conectividade 5G, cobrindo áreas como a produção, logística ou controlo de qualidade.

Estes são ainda projetos de investigação, que cabem numa unidade desenhada para procurar antecipar tendências e, ao mesmo tempo, responder às necessidades atuais dos fabricantes. Faz parte de uma rede mais ampla dentro no grupo Bosch que coopera, dá apoio e troca experiências e know-how e ocupa um lugar de relevo nos temas que se relacionam com a Eletrónica, Mecânica, Software, Ótica, Simulação, Teste e Validação de Produto ou Perceção.

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