Os temas centraram o debate do Estado da Nação dos Media no primeiro dia do Congresso da APDC, que decorre até amanhã em Lisboa, no Centro Cultural de Belém.

Manuel Lopes da Costa, da PwC, lançou os temas com um estudo e análise à área de media e entretenimento, em mudança acelerada sob pressão de fatores como a tecnologia, a digitalização e a globalização, mas também a multiplicação de dispositivos móveis e a alteração de hábitos e comportamentos dos consumidores.

Com um painel centrado na televisão, os temas dos serviços Over The Top e dos novos paradigmas do Timeshift - ou replay TV - dominaram as intervenções de Pedro Norton de Matos, CEO da Impresa, e Alberto da Ponte, Presidente do Conselho de Administração da RTP, preocupados com a sustentabilidade do modelo de negócios dos media e a necessidade de redistribuir valor ao longo da cadeia com modelos de monetização de conteúdos ou de publicidade mais equitativos.

Embora alinhada com as mesmas ideias, do lado da Controlinvest, que integra os canais de desporto da Sport TV, a principal preocupação atual é a pirataria e o combate constante que tem de existir para fechar os sites piratas.

Rolando oliveira, vice presidente do Conselho de Administração da empresa, garante que apesar da Sport TV estar a conseguir monetizar a aposta em HD e rentabilizar os projetos de TV por subscrição e em mobilidade, a pirataria retira valor da cadeia produtiva, dos operadores e do Estado. E para o provar apresenta algumas contas.

"Se 150 mil pessoas deixarem de aderir à assinatura [da Sport TV] por conteúdos piratas ao fim do ano são 50 milhões de euros, 10 milhões que eram de impostos [...] são fundos retirados da cadeia produtiva e do ecossistema", afirma.

O desporto é um dos principais drivers da pirataria e nos últimos dois anos a Sport TV fechou 650 sites piratas por ação direta e conseguiu a retirada de mais de 8000 vídeos. A empresa promoveu a limpeza de mais de 75 mil links de live streaming, numa média de 1.300 por jogo de futebol.

A colaboração de serviços como o YouTube, que à terceira queixa retira o vídeo, e de motores de busca como a Google que limpam as ligações para sites com streams piratas, é relevante mas os "verdadeiros piratas" são mais difíceis de combater, porque "fogem a todo e qualquer controle".

"[os verdadeiros piratas} dividem a operação em várias áreas, abrem o site num país, registam e alojam o domínio noutro, e associam a fonte de receita num media player e os conteúdos noutro", explica Rolando Oliveira.

Mesmo a técnica de "seguir o dinheiro" não funciona pela dispersão que existe."É uma industria complexa e tentamos atacar de várias formas, mas 80% receita é de industria também pirata e ilegal, relacionada com apostas e sexo", sublinha, defendendo que "a luta é desequilibrada", sobretudo com a localização em países como a Rússia e Azerbaijão ou países com leis mais permissivas como a Holanda.

Em Portugal o vice presidente do CA da Controlinvest considera que a legislação que existe é boa, mas tem de ser mais eficaz. "Já intentámos 3 ações contra sites ilegais", adianta, explicando que tiveram total provimento com a notificação de 37 ISPs para bloquear acesso aos sites reportados, e com a retirada dos links dos motores de busca.

Então qual é o problema? O tempo e a eficácia.

Segundo Rolando Oliveira a última ação demorou 42 dias e desta forma é uma guerra que nunca tem fim, sendo impossível erradicar a pirataria, porque no mesmo dia abrem dois sites ao lado. "Temos de ser mais ágeis", sublinha, sugerindo uma autorregulação ou corregulação que permita aos media agir em conjunto e identificar quem está a usurpar os conteúdos, aplicando depois um conjunto de boas práticas e uma black list que seja comum.

Pedro Norton de Matos secundou a ideia de que há um trabalho a fazer para a consciencialização sobre o tema e a desmistificação de que a pirataria é socialmente aceitável. Mas também tem de se trabalhar na eficácia. "É bonito mandar fechar um site em 42 dias, mas ao fim desse tempo não serve para nada".

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico