O estudo EU Kids Online III, que pretende avaliar os riscos de os jovens entre os 11 e 16 anos passarem demasiado tempo na Internet, concluiu que muito tempo de navegação online não é sinónimo de problemas associados. Já a idade parece ser a resposta para algumas das situações verificadas.

Os jovens "mais velhos" são os que têm maior tendência para ter problemas associados ao uso de Internet, uma consequência de "problemas emocionais" e dos "níveis elevados de procura de sensações", pode ler-se no estudo.

O estudo chegou às conclusões através de inquéritos que procuraram apurar sintomas de uso excessivo da Internet, tentando identificar situações como a privação do sono ou refeições irregulares, baixos níveis de socialização, fuga aos trabalhos de casa ou até mesmo tentativas de passar menos tempo online. A investigação concluiu que, em média, apenas 1% dos jovens europeus registaram todos estes "sintomas" relacionados com o uso de Internet - mas no Chipre por exemplo, esta taxa é de 5%.

Houve ainda crianças que reportaram ter vivido parte dos problemas citados e que ao mesmo tempo sentiram dificuldades psicológicas e emocionais "que têm impacto no seu comportamento online e offline".

O número de crianças que já deu conta de pelo menos um dos sinais de uso excessivo de Internet varia bastante de país para país, sendo que na Itália regista-se o número mais baixo com 17%, enquanto em Portugal "45% as crianças declararam ter sentido pelo menos um desses sinais". A taxa mais alta pertence à Polónia, com 49% dos inquiridos a reconhecer um dos sintomas.

"O caso de Portugal mostra que não é por se passar muito ou pouco tempo em frente ao computador que se pode entrar num contexto de uso excessivo. A Internet veio também ocupar, em parte, o espaço que antes era da televisão: uma forma de passar os tempos mortos, sem que isto seja indicador de algo problemático", explicou Cristina Ponte, coordenadora portuguesa do projeto EU Kids Online.

As conclusões são próximas daquelas registadas em outros estudos do EU Kids Online, que mostravam que os jovens portugueses eram dos que mais tinham registado sinais de uso excessivo da Internet, ou que davam conta de dez mitos sobre a navegação online pelos jovens.

O estudo apurou ainda que 42% dos jovens inquiridos confessaram já ter navegado na Internet sem estarem realmente interessados em fazê-lo. O caso de jovens que deixaram de comer ou dormir para "passear" online foi o mais baixo registado, ainda assim a taxa é de 17% para os jovens que afirmaram já se ter privado de uma destas atividades para estar na Internet.

Tendo em conta alguns dos resultados registados, o EU Kids Online recomenda medidas de precaução, como o acompanhamento mais próximo dos pais das atividades online dos filhos, especialmente quando foram visualizados conteúdos que tornaram-se incomodativos para o jovem. Cortar nas horas de acesso à Internet pode não ser uma solução pois "um uso mais raro pode ser tão problemático quanto um uso mais frequente, e afasta os jovens das oportunidades que as novas tecnologias também fornecem", acrescenta a investigação. "As estratégias protetoras começam fora da Internet e numa idade precoce".

O estudo EU Kids Online III entrevistou cara-a-cara, em casa, 25 mil crianças de 25 países europeus entre os 9 e os 16 anos.


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