Numa era onde estamos rodeados de tecnologia e onde os nossos dados são frequentemente usados como moeda de troca no mundo online, a privacidade é um dos principais focos para Chelsea Manning, whistleblower no caso WikiLeaks e hoje consultora na Nym Technologies, uma tecnológica que ambiciona resolver um dos maiores problemas da Internet.
“O meu foco atual é podermos ter algum tipo de privacidade através da encriptação e dos meios tecnológicos que temos e podermos usar isso de maneira intuitiva”, realçou no palco central do Web Summit 2023, fazendo um paralelo com a app Signal. “Devia ser tão fácil quanto trancar uma porta ou fechar as cortinas”.
Para muitas pessoas, a ideia de encriptação, criptografia ou privacidade é algo complicado. Segundo Chelsea Manning, isso é fruto de um condicionamento mental, do qual as grandes tecnológicas se aproveitaram para lucrar e recolher grandes quantidades de dados para, por exemplo, gerar receitas com anúncios.
A proposta da Nym passa por uma mixnet descentralizada. Como detalhado por Chelsea Manning, os padrões de tráfego online são visíveis para qualquer pessoa capaz de observar uma rede.
Soluções de privacidade como VPNs adicionam uma camada adicional nas comunicações, mas mesmo quando o conteúdo é encriptado, os metadados e os padrões de comunicações podem revelar informação sensível. A mixnet pode ajudar a solucionar esta questão, permitindo “dividir” as comunicações e enviar a informação por diferentes percursos.
A “dança” entre IA e criptografia
À medida que a IA começa a ser incorporada numa variedade de soluções, Chelsea Manning defende que os grandes problemas que estamos a ver se relacionam com a informação utilizada para treinar os modelos.Não há forma de apagar estes dados, motivo pelo qual não deve ser utilizada informação confidencial ou sensível.
Será possível termos privacidade num futuro que se afigura cada vez mais marcado pela IA? A consultora na Nym Technologies acredita que sim, embora admita que não seja fácil. “Sei que é cansativo, porque estamos constantemente a olhar para os nossos telemóveis e ‘colados’ a estes equipamentos que se focam apenas na informação que é recolhida até dos movimentos dos nossos dedos e olhos”.
“Não quero viver num mundo onde as relações que temos são um valor numérico”, defende, acrescentando que a responsabilidade de assegurar a privacidade deve estar em quem desenvolve os sistemas e as tecnologias.
Há uma série de questões que Chelsea Manning acredita que são importantes e para as quais o mundo tecnológico deve prestar atenção no futuro. Por exemplo, a forma como os modelos de linguagem de grande escala (LLMs, na sigla em inglês) serão integrados nos “bastidores” das nossas vidas.
“Nos próximos 12 meses vamos começar a ver cada vez mais pessoas que vão usar estas ferramentas para operações complexas de influência, vamos ver mais deepfakes, mais debates sobre se a informação é verdadeira ou não”, prevê. Por quanto tempo é que vamos conseguir suportar o volume computacional gerado por estes sistemas é outro dos aspectos a ter em conta.
“Muitas destas aplicações de IA são treinadas com um vasto volume de energia e a eficiência dos modelos ou até das ferramentas de comunicação criptográfica é um problema, porque requer muita energia e cálculos complexos”, alerta, acrescentando que os recursos que temos são limitados e é necessário “perceber como vamos fazer isto de forma eficiente”.
Veja as imagens do Web Summit 2023
O SAPO TEK mudou a redação para o Web Summit e acompanhou tudo o que se passou na conferência e nos eventos paralelos que sempre decorrem em Lisboa. A agenda era longa e com muito para descobrir dentro e fora dos palcos. Pode acompanhar tudo no nosso especial do Web Summit 2023.
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