A sociedade portuguesa deu, em 20 anos, um enorme salto em termos de conexão de informação, ao passar de 20 para 80% da população com acesso à Internet, revela um estudo divulgado pelo projeto ibérico Iberifier.
Segundo o investigador Miguel Paisana, do laboratório português Obercom, e que apresentou o estudo num seminário sobre desinformação realizado em Granada, na Espanha, Portugal é hoje um país “onde existem muitos hemiciclos”.
O facto é particularmente relevante no campo político, associado às redes sociais, disse Paisana, divulgando números recolhidos em 07 de setembro. De acordo com estes dados, o PAN, partido com um deputado, tem 165 mil seguidores no Facebook, ao passo que o PS, com 120 deputados, tem 102 mil seguidores. Já o Chega, com 12 membros no parlamento, tem 148 mil seguidores e o CDS, sem nenhum, tem 42 mil.
“As redes sociais não são uma ágora, mas um grande Coliseu”, disse o investigador, citando o professor espanhol Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra.
Para os especialistas, continua a ser um enigma o facto de Portugal, sendo o segundo pais da Europa que mais confia em noticias - 86% consultam notícias todos ou quase todos os dias – tem também um elevado número de pessoas - 30% - que diz deparar-se com desinformação todos os dias.
Miguel Paisana apresentou também aos participantes do seminário o estudo realizado pela Yougov entre 14 de janeiro e 10 de fevereiro, segundo o qual se diluiu em Portugal o fosso entre homens e mulheres quanto ao acesso à Internet, sendo a proporção de utilizadores praticamente igual entre ambos os sexos.
O acesso à Internet entre os jovens, por outro lado, é praticamente absoluto (99,7% entre a população com idades compreendidas entre os 16 e 24 anos), ao passo que os portugueses entre os 65-74 anos, essa proporção baixa para 47,7%.
Estes números não querem, todavia, dizer que não haja desigualdades em termos territoriais ou de qualidade de acesso, verificando-se o já conhecido padrão da “litoralização” do país.
“A desertificação da informação segue de perto a desertificação do país”, disse Miguel Paisana.
Mais de um quarto dos meios digitais tem sede em Lisboa (26,9%), 77 municípios têm apenas um, e um quarto dos municípios não tem nenhum.
Segundo o mesmo estudo, Portugal é uma sociedade muito ligada à televisão, sendo que mais de 50% das pessoas faz dela a sua principal fonte de notícias.
Jovens usam redes sociais como principal fonte de notícias
As redes sociais são a principal fonte de informação para 20% dos portugueses, sendo que mais de 80% dos acessos de notícias são feitos de forma indireta.
O interesse pelas notícias está, porém, a decair. Hoje, apenas 51% das pessoas manifesta esse interesse (menos 17,5 pontos percentuais que em 2021), sendo mais preponderante o desinteresse entre os menos escolarizados e os mais pobres.
Para o investigador, está também a registar-se um número crescente de pessoas que evitam de forma ativa a informação, um fenómeno que explica pela “monotematização” da agenda mediática.
Por outro lado, disse Miguel Paisana, a resposta institucional ao fenómeno da desinformação tem uma fragmentação muito grande, porque não há consenso entre as diversas entidades sobre o próprio conceito.
O Iberifier é um projeto ibérico, que visa combater a desinformação e no qual a Lusa se integra, e reúne um total de 23 universidades e centros de investigação na península, “fact-checkers” (organizações de verificação de notícias), e a agência espanhola Efe. O projeto é financiado pela Comissão Europeia e é um dos oito consórcios internacionais nesta área existentes na União.
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