Na sequência das polémicas que resultaram da influência das redes sociais e dos conteúdos aí disseminados nas eleições norte-americanas de 2020, o Facebook, no centro dessa polémica, anunciou uma parceria com vários investigadores independentes para estudarem o tema.
A análise visou o Facebook e o Instagram e as primeiras conclusões foram agora divulgadas em quatro papers, publicados nas revistas Science e Nature. Concluem que o papel destas redes sociais na formação de opiniões políticas não é tão relevante como se pode pensar, mas também mostram que a forma como os conteúdos são disponibilizados pode alterar de forma relevante a informação que chega a cada utilizador.
Os investigadores analisaram, por exemplo, as notícias políticas mais distribuídas nos feeds dos utilizadores antes das eleições e concluíram que páginas e grupos tiveram um papel determinante na curadoria desse tipo de conteúdos, mais do que utilizadores individuais, e que essa influência se fez sobretudo sentir em fontes com audiências conservadoras. A probabilidade destes utilizadores (conservadores) verem conteúdos de fontes "não fidedignas" e artigos classificados como falsos pelos verificadores de factos era substancialmente maior, verificou-se.
Um dos estudos publicados analisou, por outro lado, o efeito da exposição intensiva dos utilizadores a uma grande quantidade de fontes de informação que disseminam ideias semelhantes. Os investigadores confirmaram que a maior parte dos utilizadores do Facebook seguem páginas, grupos ou amigos que partilham opiniões idênticas, mas acrescentam que a informação veiculada nesses núcleos não é necessariamente política ou relacionada com notícias, como destaca o Engadget, que analisou os vários artigos publicados.
A mesma pesquisa não encontrou evidências de que uma diminuição do fluxo destes conteúdos semelhantes altere significativamente as convicções nem as atitudes dos utilizadores, mas também se sublinha que a análise não considera os "efeitos cumulativos" de vários anos de utilização de redes sociais.
Outra pesquisa analisou o impacto da exposição a feeds cronológicos ou gerados por algoritmos, estes últimos, adotados nos últimos anos para aumentar o envolvimento dos utilizadores com as plataformas sociais e altamente criticados, por exemplo, pela denunciante do Facebook, Frances Haugen.
A pesquisa comprova que a seleção algorítmica dos conteúdos apresentados "influencia significativamente as experiências dos utilizadores" e que o feed cronológico reduz drasticamente o tempo passado online e o grau de envolvimento com o conteúdo apresentado.
Por outro lado, altera o mix de conteúdos apresentado. "Os utilizadores viram mais conteúdo de amigos ideologicamente moderados e fontes com audiências mistas; mais conteúdo político; mais conteúdo de fontes não fidedignas; e menos conteúdo classificado como hostil ou insultuoso do que veriam com o feed algorítmico”. Ainda assim, os investigadores não identificaram mudanças significativas nos comportamentos offline, em consequência disso nem nas convicções políticas dos utilizadores.
A Meta já comentou os resultados sublinhando que "as pesquisas juntam-se a um conjunto crescente de investigações que mostram como há poucas evidências de que as principais características das plataformas do Meta causem, por si só, uma polarização 'afetiva' prejudicial ou tenham efeitos significativos nas principais atitudes, crenças ou comportamentos políticos", refere a declaração assinada por Nick Clegg.
Já David Garcia, um dos investigadores que participou no projeto, disse à Science que se “os resultados das pesquisas não mostram que estas plataformas não são o problema, mostram que também não são a solução”.
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