Se consome streams na Twitch, a possibilidade de já ter cruzado com o streamer Impakt (com K como o mesmo faz questão de frisar) são muitas. Além de ser um dos mais regulares streamers portugueses de gaming da plataforma, é igualmente um dos mais antigos e respeitados. E foi na comemoração dos 9 anos de streaming que o SAPO TEK esteve à conversa com Bruno Moutinho, um jovem com “vinte e doze anos”, que ameaça qualquer pessoa que o chame de trintão por difamação.

Questionado como começou o seu canal na Twitch, Bruno Moutinho disse que depois de tirar a sua licenciatura do curso de Novas Tecnologias da Comunicação na Universidade de Aveiro passou algum tempo a ponderar o que seguir profissionalmente, visto a abrangência do curso. Mas sabia que queria fazer algo relacionado com o gaming, “mas YouTube ou streaming foi algo que até então não me tinha passado pela cabeça”. Explica que foi preciso um “certo indivíduo chamado Renato, também conhecido como Shakarez, para reparar em mim como editor de vídeo para me lançar neste meio”.

A ascensão na Twitch

Inicialmente focado em conteúdo educacional no YouTube, passou depois para a Twitch, devido à plataforma facilitar a comunicação com os viewers de uma forma que o concorrente não conseguia na altura. Ao longo dos anos foi-se moldando e adaptando. “Hoje em dia sinto que cheguei a um tipo de conteúdo que encaixa comigo na perfeição - gaming de todo o tipo, novidades, trailers, novos lançamentos e alguns multijogadores pelo meio - e ter uma comunidade que apoie esse tipo de conteúdo é no mínimo fantástico”.

Mas será que quando começou a fazer streams, Impakt pensou em tornar nisso a sua profissão? “Inicialmente não pensei em dinheiro nem em profissão, pensei numa ocupação do meu tempo que poderia dar frutos de uma forma ou outra. Só comecei de facto a pensar em streaming como profissão bem depois de ter obtido a parceria”. O streamer não sabe muito bem comparar os públicos de hoje com os de 9 anoas atrás, quando começou.

“Sinto que há 9 anos, a Twitch era muito menos conhecida e sinto que a comunidade, como tal, acabava por ser mais unida. Hoje a realidade é outra: é uma plataforma utilizada por jogadores amadores, profissionais, atores, políticos e por aí fora. Há uma responsabilidade social acrescida, a meu ver, até porque há a possibilidade de chegar também a mais gente”.

Mas há algo que sente que sempre se manteve semelhante: “a comunidade de cada canal acaba sempre por espelhar, de certa forma, o streamer em si”.

Respondendo se está confortável como o que faz ou se lhe falta algo mais na carreira profissional ligada às streams e videojogos, Impakt diz que adora o que faz e não tem qualquer intenção de parar. “tenho ambições muito maiores. Sou um indivíduo tanto simples como idiota”. Afirma, porém, que se pelo caminho surgir alguma oportunidade que ache interessante, não vai deixa a stream cegar-lhe, ao ponto de deixar escapar potenciais oportunidades.

O streaming como trabalho laboral das 9 às 18

Bruno Moutinho pratica um dos horários menos usuais da Twitch: de segunda a sexta-feira vai encontrá-lo a fazer streaming das 9 da manhã às 18 horas da tarde, com um almoço muito rápido pelo meio enquanto passa algum conteúdo gravado por si. “Em 9 anos tive a oportunidade de experimentar bastante, e enquanto que o meu horário atual não é, definitivamente, aquele que me daria mais visualizações, não é isso que procuro”.

Mas o público a que quer chegar é mais maduro, como estudantes e trabalhadores. “Acabo também por sentir que já existe muita escolha durante um horário "prime time", e como tal não sinto necessidade de ocupar, também eu, esse 'time slot'. Por fim, ter um horário laboral dito 'normal' acaba por me ajudar com a minha própria vida social, a ter um horário semelhante à Gi [companheira]”.

“Inicialmente sim, tive que abdicar um pouco da minha vida pessoal, tinha horários muito complicados porque queria tanto editar vídeos para o YouTube como fazer streams e dedicava umas 6 a 8 horas por dia a cada área. Mas acho que foi um sacrifício que valeu a pena e que, felizmente, não preciso de fazer outra vez”.

Para se preparar para a stream, Bruno refere que o faz depois desta, preparando o que vai fazer no dia seguinte. “Eu começo o dia como todas as pessoas, suponho, com cafezinho e tal - faço o meu trabalhinho, e acaba por ser aí que a preparação começa - com planos para o dia seguinte, consulta constante de portais de notícias de gaming e mesmo social media para que no dia seguinte tudo esteja pronto, incluindo temas de conversa”, explica. Sobre as suas principais dificuldades, refere algo que lhe faz muita confusão: “COMO ARRANJAR FOLLOWERS NO INSTAGRAM, PÁ? É PRECISO TIRAR FOTOS EM JACUZZIS?!”

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tek impakt Impakt durante uma da suas streams de Call of Duty: Warzone.

Muitos streamers e criadores de conteúdos regem-se pelos números de visualizações ou de quantas pessoas estão a acompanhar a stream em direto. Mas Impakt diz não ter essa “obsessão”. “Eu não vejo números quando estou em stream. Nem sempre foi assim, obviamente, mas o único número a que tenho acesso é o das subscrições”. O streamer diz que aprendeu que olhar para o contador de visualizações, a pensar nos follows que está a receber, é contra produtivo.

Objetivos, oportunidades e dicas para quem deseja fazer streams

“O meu objetivo em stream é entreter, e o jogo é a ferramenta. Se estou a olhar para números e a pensar em como a stream está a correr, estou automaticamente ou a ficar preocupado ou a ficar demasiado energético por a stream estar a correr bem. E posso, nesse caso, também habituar novos espetadores a uma realidade que não existe”. Bruno Moutinho diz que a “contabilidade” fica para depois de cada stream, onde vê os números, os gráficos e estatísticas, para entender o que funciona ou não em cada transmissão.

No que diz respeito a oportunidades que o seu trabalho na Twitch lhe trouxe, o streamer destaca a sua aventura com a RTP Arena. “Aprendi muito com a equipa de trabalho, sobre televisão, sobre streaming e até sobre mim mesmo”. Salienta ainda as relações de trabalho que vai tendo, nomeadamente com a FTW Esports e com a Omen by HP, no qual se diverte, “e agora que falo nisso, já estou é ansioso para que hajam eventos novamente”. No entanto, o seu foco é a streaming, sentindo que vai continuar a ser durante bons tempos.

Para quem está a começar ou quer desenvolver a sua atividade como streamer na Twitch, Bruno Moutinho deixa algumas dicas essenciais. A primeira é serem regulares.

“Não prescindam da vossa vida social ou profissional, mas façam o melhor que podem para habituarem os vossos espetadores a um horário”.

Em segundo lugar refere os investimentos, que no seu caso não foram logo para periféricos, tais como uma câmara ou novo computador, mas sim o aspecto geral do canal. “Nós, como seres humanos, criamos noções de credibilidade muito rapidamente e baseadas apenas no espeto visual de algo. Quanto mais cedo puderem ter o canal com overlays, transições e animações profissionais que se encaixem com o conteúdo que querem fazer, melhor”.

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tek impakt

Por fim, Impakt diz para que não passem demasiado tempo em stream no caso de terem poucas pessoas a assistir. “Façam streams de 2 a 3 horas, sempre com a intenção de editar o vosso gameplay e publicar highlights regulares no YouTube”. O streamer defende que o YouTube é uma plataforma que permite fazer publicidade à Twitch 24/7, ainda que tenham que fazer conteúdo focado para a mesma. “Para fazerem conteúdo para o YouTube terão de aprender a editar vídeo, imagem, som e tantos outros pormenores. Isso são 'skills' que facilmente poderão transitar para outra área de trabalho, caso a streaming não funcione, o que faz com que não seja sequer tempo desperdiçado”.

Mas a verdadeira dica é apenas uma: “Divirtam-se. Divirtam-se a conhecer novas pessoas, novos jogos. Divirtam-se a aprender e divirtam-se a jogar. Streaming é uma nova realidade incrível, e não só para quem consegue fazê-lo a tempo inteiro...”