O que acontece quando um músico e um psicólogo se sentam à conversa? O resultado é Maus Hábitos, um podcast onde Martim Torres e Hugo Zagalo se centram em torno do mundo do desenvolvimento pessoal, entre hábitos e rotinas, e reúnem uma comunidade de curiosos sobre os mistérios da vida e da mente humana. 

Ao SAPO TEK, os criadores de conteúdo contam como tudo começou, como ambicionam levar o projeto mais longe e como a nova vaga de redes sociais baseadas em vídeos curtos, como o TikTok, estão a mudar a forma como os podcasts chegam a um público ainda maior.

Hugo e Martim conhecem-se desde os tempos do liceu, numa altura em estavam a definir as suas identidades e a descobrir quem eram, mas também marcada por uma dose de rebeldia. “Acabámos por formar uma amizade grande nessa altura muito baseada nos disparates que nós fazíamos”, afirma Martim.

O tempo passou, mas a ligação manteve-se e a ideia para o podcast surgiu do hábito das conversas ao telefone que, nos tempos de pandemia, se tornaram ainda mais frequentes. Como explica o músico, “foi numa das nossas conversas que o Hugo teve a epifania de dizer «isto devia ser gravado. Nós devíamos estar a fazer um podcast»”.

A ideia já estava plantada e o impulso que a fez florescer passou por uma conversa sobre o livro “Hábitos Atómicos”, de James Clear, que, na altura, era uma das obras que Hugo queria oferecer ao pai. “Depois de lemos o livro e, na sequência de queremos melhorar as nossas vidas e de falarmos ao telefone e de termos as nossas conversas dissemos: «Devíamos gravar um podcast e devia ser isto a nossa conversa. Hábitos devia ser a tónica… Maus Hábitos devia ser o nome do podcast!». E ficou”.

“O podcast existia antes de existir. Antes de começarmos a gravar, as conversas já existiam. Depois começámos a gravar e a partilhar isso e foi ficando cada vez mais teatral”, detalha Hugo. Para o psicólogo, a construção do podcast vai além das conversas a que o formato abre espaço. “Foi uma interação entre as nossas conversas e a reação do público. Foi um crescimento orgânico quase arquétipo onde o podcast ganha uma vida própria e começou a pedir de nós”.

Um equilíbrio feito de contrastes

A vida é feita de contrastes e o mesmo se passa no podcast. “Há dois papéis muito claros no nosso trabalho que não se sobrepõem e que se complementam de uma forma que faz isto tudo funcionar muito bem”, afirma Martim. “Eu considero o nosso processo criativo um bocadinho como se eu fosse o curioso e o Hugo fosse o entendido na matéria. Matéria essa que vai mudando ao longo de cada episódio”, detalha o músico.

Por um lado, Hugo puxa a conversa “para o lado mais metafísico e mais espacial onde elabora ideias de uma forma mais expansiva”. Por outro, Martim direciona-a para “o lado prático das questões” e como é que essas ideias podem ser aplicadas na vida.

Nas palavras de Hugo, “é o caos e a ordem; o concreto e o abstracto; o corpo e a mente… a teoria e a prática”. “Há aqui um paralelismo entre as nossas metáforas e a vida real”, complementa Martim.

“No fundo é esta nossa dinâmica que acaba por criar uma espécie de explosão criativa que nos leva a conversas muito interessantes sobre a vida, sobre psicologia, sobre desenvolvimento pessoal e sobre saúde mental que, na verdade, tem sido um dos tópicos mais abordados ultimamente e que tem tido mais receptividade do público”.

O contraste vai além das personalidades e visões dos criadores, combinando o formato mais longo do podcast com o imediatismo e alcance das redes sociais. “Isto dos Shorts, dos Reels e dos TikToks é outro nível completamente diferente de exposição”, realça Hugo. “Chegas a milhões de pessoas e é impressionante (...) Nós estivemos três anos na escuridão do áudio”.

O alcance é incrível. Estas plataformas estão todas a competir e estamos num momento único onde é tudo grátis. Normalmente, antes, tinhas de pagar para seres visto no Instagram ou no Facebook e agora eles estão a oferecer-te views porque estão a competir uns com os outros. O TikTok veio revolucionar isto tudo”.

O psicólogo explica que com esta explosão “até é inevitável que se altere o conteúdo”, relembrando a célebre expressão “o meio é a mensagem” de Marshall McLuhan. "O constrangimento temporal do produto faz com que mude tudo”.

O "salto" do digital para o mundo real

Para os criadores, o feedback recebido de quem os ouve é uma motivação para continuar a levar o podcast mais longe. “Recebemos diariamente mensagens tocantes, incríveis e é uma das razões que nos faz continuar. As pessoas realmente sentem que o podcast as ajuda”, conta Hugo.

“O que está a acontecer muito neste espaço de vídeos curtos do TikTok e do Instagram é que as pessoas estão à procura de se identificarem com alguma coisa, com algo mais profundo e é bom saber que alguém está a sentir aquilo que tu estás a sentir”, enfatiza. “Quando tu estás a ouvir, só a ouvir, há imenso espaço de auto-crescimento”.

“Uma das mensagens que mais nos chega e que mais nos toca é realmente elogiarem a forma honesta como nós falamos”, revela Martim, acrescentando que uma das chaves para tal é “falar das coisas sem tentar parecer engraçados ou sem tentar soar inteligente”, embora admita que é “um exercício difícil”.

“Só de teres uma câmara ligada na tua cara tu podes estar até a pensar «vou ser só eu», mas há algo intrínseco em nós que nos põe neste estado alterado de «tenho que ser alguma coisa, tenho de dizer alguma coisa, ou tenho de parecer algo que não sou». O exercício é tentarmos desconstruir esse instinto para o que saia o que realmente somos e acaba por ser uma partilha de algo que vai cá dentro”.

Levar o podcast do mundo digital para o mundo real é a próxima fase do projeto e os criadores estão a tentar organizar espetáculos ao vivo, mas também retiros, para juntar “pessoas que têm esta curiosidade pelo universo, pela vida e pela mente”.

“O nosso objetivo é criar uma comunidade de pessoas que, tal como nós, têm esta curiosidade e este amor pela vida, pela psicologia e pelo decifrar do indesvendável mistério que a mente humana e a vida”, sublinha Martim. “Perdermo-nos no caminho que leva à resposta é encontrar a resposta em si”.

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