Pedro Alexandre é músico profissional, que toca e canta em bares, casamentos, hotéis e casinos. Mas tal como muitos outros artistas, a pandemia de COVID-19 tirou-lhe o trabalho, mas não o "calou": continua a fazer-se ouvir em performances ao vivo em streams na Twitch, no seu canal BeFranklin. Com 41 anos, de origem de Setúbal, o artista adotou o nome artístico de BeFranklin, que surgiu há mutos anos em brincadeira antiga com amigos. “Quando uma luz acende, mas ninguém premiu o interruptor. Quando um elevador é ativado, mas ninguém carregou no botão. Foi o Franklin. Na esplanada deixávamos sempre uma cadeira vazia, e quando alguém perguntava se a podia usar, dizíamos que não, que era para o Franklin”, explica o artista a origem do nome, que no fundo é dedicada aquele amigo invisível e imaginário que todos temos.
BeFranklin começou a fazer streams na Twitch há dois anos, mas o seu plano inicial era criar um canal exclusivamente de gaming para o YouTube. Não conhecia a Twitch, mas tinha amigos que lhe diziam que esta era a plataforma ideal para fazer streams de jogos, e que o YouTube servia apenas de arquivo de vídeos. O seu fascínio pelo direto, de ver os comentários ao vivo e não a leitura na caixa de comentários, convenceu-o a mudar. “Trouxe para a Twitch a música e o quiz que fazia ao vivo durante os seus espetáculos. O seu sonho é trazer para a internet os espetáculos que se vê na televisão.
Antes da pandemia, BeFranklin já fazia live streams, sobretudo o seu programa Radio BeFranklin e talk shows em torno das artes. Apenas aumento a frequência com que faz as transmissões e enriqueceu o conteúdo do seu canal. Neste momento encontra-se a full time nas streams, porque não só lhe tomou o gosto, como ganhou as “skills” que não sabia que tinha. “A mistura do vídeo é um desafio, a criação de genéricos para os programas é uma paixão que estava adormecida”.
Comparado como é feita a interação entre o público ao vivo e quem assiste asa streams, BeFranklin diz que foi de difícil adaptação. Durante o primeiro ano confessava isso nas streams, e até diz que sentia que podia estar a chatear a sua plateia virtual. “Passava o tempo a perguntar se estava tudo bem, se o som estava bom. Não sabia o que queriam dizer alguns dos emotes e estava sempre a perguntar”.
A venda da mota ajudou-o no investimento do estúdio
Mas com o tempo, ganhou o seu público, que é repetente a ver as lives e isso transmite-lhe mais confiança. “Na minha dinâmica não sou o Michael Bublé que faz um show. Gosto de lançar uma piada, mas não pretende estar sempre na conversa com o público, mas reconhece que a interação é muito importante.
Relativamente ao investimento no seu setup, afirma que conseguiu adaptar todo o material que utiliza nos espetáculos ao vivo. Diz que onde investiu mais dinheiro na adaptação foi na webcam, na iluminação e no computador. Para tal até vendeu a sua mota, um pouco por imposição da esposa, que estando parada representava um perigo para os seus filhos que estavam sempre em cima dela. Acabou por investir esse dinheiro no setup das streams.
Pedro Alexandre diz que demorou um ano a completar o estúdio, no que diz respeito ao investimento e a montá-lo e afirma que “90% dos streamers não têm as condições que tenho aqui. Só o facto de estar fora de casa, num estúdio onde posso cantar ou mesmo gritar durante as streams dos jogos como GTA RP, e não incomodar a família ou vizinhos, já é uma grande ajuda”.
Para além da música, Pedro Alexandre é um jogador e transmite com frequência GTA RP, assim como jogos de simuladores. Diz que joga apenas Gran Turismo porque “sofro de aselhice e azia aguda”, pois é muito competitivo. Diz receber bastante feedback das pessoas sobre a companhia que faz a muitos, mesmo quando estão a trabalhar, que deixam apenas a live a ser ouvida. Por isso também criou a sua rádio, colocando uma webcam a transmitir a Times Square ou Tóquio enquanto passa música para manter os seguidores entretidos. Também os jogos de simulação, com um ritmo mais lento, são bons para transmitir.
Descrevendo o seu público na Twitch, destaca que tem muita sorte pela sua comunidade, “pois não basta seres apenas um bom entretainer, tens também de ser uma boa companhia, e deves ter as redes sociais para acompanhares a comunidade mesmo em off”. Diz que o seu público mais jovem não dá tanta importância ao conteúdo musical, tendo mais quando faz lives de gaming. E quando esse público o vê a cantar, pergunta quando vai jogar. Apesar de tudo, não tem muitos “trolls”, mas também a autoconfiança que já conquistou não lhe permite isso, “mais depressa sou eu o troll”.
Diz que é a favor da liberdade de expressão, e até já teve problemas com as autoridades por tocar na rua quando era jovem. Diz que para tocar na rua são necessárias licenças, e até amigos em Berlim tiveram de fugir da polícia porque não tinham dinheiro para comprar uma licença, para ganhar dinheiro…
“A Twitch está a correr com os músicos”
Para BeFranklin, as live streams também servem para aumentar a sua audiência, mesmo presencial, ainda que devido ao confinamento ainda não conseguiu tirar isso “a limpo”. “O feedback do pessoal diz que ao voltar ao normal desejava assistir aos meus concertos. A maioria é da zona norte, que me pergunta quando vou tocar ao vivo. Agora espero que quando tudo voltar à normalidade, e regresse aos palcos, nomeadamente o casino de Espinho e de Chaves, vou ver se há pessoas da stream que vão assistir”. Também afirma que surgiram contactos para oportunidades de concertos, mas que também ainda não se concretizou pelos mesmos motivos.
Por fim, olhando para a Twitch em si, BeFranklin deixa algumas críticas. Diz que compreende as decisões de se criarem novas categorias para os “hotubes” e afins, que diz não comentar. Entende que não é conteúdo para a plataforma, mas compreende que gere muito dinheiro para a empresa. No entanto, afirma que a situação dos músicos está metida num enorme imbróglio, dizendo que está a correr com os músicos da plataforma.
As medidas da Twitch em relação aos DMCAs não estão a funcionar, referindo que ao contrário do YouTube, não estão a ser feitos acordos com as labels discográficas. “O YouTube está melhor preparado para isso, bastava meterem os anúncios e dividirem com os artistas as receitas. Mas não, o castra, tira e bane os músicos”. Diz que o músico é o único que pode levar três strikes sem resposta numa única live, sem terem tempo de se defender.
Afirma que as mais recentes regras da plataforma, com cerca de 15 dias, dizem que nem podem fazer covers ou versões das músicas. Apenas pode ser feito ao vídeo, não podendo registar VODs ou clips com áudio. Diz ter falado com a SPA, do qual é membro voluntário, que também não entende. Assim, opta por gravar as suas performances ao vivo e utilizá-las noutras plataformas.
Para o futuro, BeFranklin diz que não vai voltar atrás e que quer continuar a ser produtor de conteúdos. O seu sonho é ser um canal de música em que as pessoas que procuram conteúdo o nome BeFranklin venha logo à cabeça. E diz que não pode abrandar o ritmo, pelo contrário, e apesar de os palcos ao vivo ser o seu habitat natural, mantém as aspirações de trazer para o seu canal os espetáculos e programas que se assiste na televisão.
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