Abrir o browser e começar a navegar em sites conhecidos, saltando entre páginas e interesses diferentes, faz parte dos hábitos de muitos internautas que já não vivem sem a consulta do email, das redes sociais e a procura de informação no Google. Seja para saber a hora do autocarro e o melhor trajeto, decidir a ementa do jantar ou procurar um novo exercício de fitness para ficar em forma.

A familiaridade com a Internet varia muito com a idade, a formação mais ou menos aprofundada em ferramentas digitais e até com o tempo que se passa à frente do computador, o que determina muitas vezes a forma como conseguimos evitar e defender-nos das ameaças que surgem regularmente quando se está online.

Não é preciso visitar sites pornográficos para “apanhar” vírus, nem descarregar software pirata para instalar um trojan (Cavalo de Tróia) no computador, mas a partir do momento em que a segurança fica comprometida o PC, o tablet ou o smartphone passam a ser uma porta aberta para algumas das ameaças online, onde o roubo de dados e de informação relacionada com contas bancárias são apenas uma das faces mais comuns.

No dia em que se celebra o Dia da Internet Mais Segura, o TeK foi falar com várias pessoas de várias faixas etárias para tentar saber que comportamentos adotam nesse sentido. As mesmas perguntas receberam respostas bastante diferentes e os comportamentos variam entre quem tem medo que "eles" estejam a ver tudo, ou de "escangalhar" alguma coisa, e quem trate tudo de forma muito familiar.

Nas próximas páginas pode viajar pelas experiências de Inês, de 14 anos, mas também de Ana Clara Reis, de 28 que tem da internet uma visão utilitária, Fernando Cabral, de 44 anos, para quem é importante manter alguma desconfiança, e Alcina Alves, de 64 anos, que está a descobrir novas experiências num mundo "perigoso".

Próxima página: Inês, 14 anos: "faço downloads ilegais, é a única fora de ouvir música".

Inês, 14 anos: "faço downloads ilegais, é a única fora de ouvir música".

Qualquer menor de idade tem sempre no mundo online um leque de perigos e conteúdos alargado a que provavelmente não deveria ter acesso. A falta de experiência pode levar também muitos jovens a seguir caminhos e a tomar decisões erradas, relacionados com tendências que parecem apelativas e acabam por se tornar desviantes.

Contudo, esse parece não ser o caso de Inês (cujo sobrenome ocultamos propositadamente), uma jovem que, apesar de ter criado ilegalmente contas nas redes sociais, procura sempre manter-se fora dos perigos da internet.

"Utilizo mais a internet para trabalhos, YouTube e redes sociais", explica a jovem. Atualmente com 14 anos, já é legal para Inês ter uma conta no Facebook, Twitter e Instagram, onde a idade mínima é de 13 anos, mas a verdade é que a conta na rede social de Mark Zuckerberg foi criada quando tinha apenas 12 anos "porque estavam todos a criar, e já tinha passado a febre do hi5", por onde navegava até então. "Não falei com os meus pais sobre isto. Eles depois souberam mas não disseram nada", acrescenta.

No que toca aos cuidados que toma na navegação online, Inês conta que tem um antivírus instalado e que admite ser "das poucas pessoas" que aproveita todas as suas funcionalidades: "por exemplo, se ponho uma pen nos computadores da escola corro o antivírus na pen ao chegar a casa. Gosto demasiado do meu computador!".

Quanto a visitar sites ou consultar o email, a jovem confessou que não tem muito conhecimento sobre os possíveis conteúdos perigosos, e que depende bastante do antivírus para lhe dizer o que deve ou não fazer: "só costumo voltar para trás quando aparece aquele aviso do antivírus no ecrã".

Fazer downloads ilegais é uma atividade recorrente no seu dia-a-dia, pois, para si, essa é "a única fora de ouvir música".

Tal como a criação da conta no Facebook, o tema da segurança na internet nunca foi abordado com os seus pais.

Próxima página: Ana Clara Reis, 28 anos: "sei aquilo que devo e não devo fazer"

Ana Clara Reis, 28 anos: "sei aquilo que devo e não devo fazer"

Para além de aceder às redes sociais e de "pesquisar informações", Ana Clara Reis também tem por hábito "consultar dados como a conta do banco" através da internet, apesar de dizer não ter instalado qualquer antivírus no seu computador.

Esta escolha deve-se, segundo diz, ao facto de não ver a necessidade de ter um software a controlar algo que ela própria consegue fazer: "já uso o computador há vários anos, por isso sei aquilo que devo e não fazer e aquilo que devo e não visitar".

Sendo assim, como é que faz para, por exemplo, distinguir um email ou um site malicioso de um fidedigno? "Existem páginas de publicidade em que se nota de caras que são maliciosas, outras são mais difíceis de reparar. É preciso estar atento para não clicar em algo suspeito ou fora do habitual", relatou a fotógrafa, que apenas faz downloads de "mails de pessoas" que conhece "ou de páginas em há total confiança, mas não ilegais".

Próxima página: Fernando Cabral, 44 anos: "há muitas maneiras de "eles" acederem aos dados"

Fernando Cabral, 44 anos: "há muitas maneiras de "eles" acederem aos dados"

A internet facilitou imenso tarefas que até então requeriam longos períodos de espera, como o pagamento de contas. Para além de Ana Clara, esse é também um dos principais afazeres de Fernando Cabral quando está em frente ao computador. "Costumo consultar o email, a Caixadirecta [serviço online da Caixa Geral de Depósitos] e pagar algumas contas", conta Fernando.

O seu gosto pela informática sempre se manteve presente desde o momento em que via os seus dois filhos a utilizar o computador lá de casa. Por isso, decidiu concluir o 12.º ano através do Centro de Novas Oportunidades, há cerca de cinco anos, onde teve o primeiro contacto com o mundo online: "foi mais difícil do que pensava, mas a partir do momento em que começamos a fazer a mesma tarefa duas e três vezes já passou a ser mais simples, e isso deu-me o interesse de querer saber mais".

Hoje em dia, a sua utilização do computador é reduzida a "quatro a cinco horas por semana", mas diz que isso não o livra dos ataques informáticos. "Sigo os passos todos que me são pedidos quando chega a altura de fazer qualquer coisa, mas há muitas maneiras de "eles" acederem aos dados", disse o carteiro, que confessou ainda não saber reconhecer à primeira vista se está ou não perante conteúdo malicioso: "vou aos sites que acho que devo ir e se vir algo que me indique que não devo ir lá, então não vou".

Apesar de confiar no antivírus que lhe foi instalado pelo filho, Fernando desconhece o seu prazo de validade e revela ainda que não sabe realizar testes através do mesmo. Downloads? "Não, nunca fiz".

Próxima página: Alcina Alves, 64 anos: "a internet é um sítio perigoso"

Alcina Alves, 64 anos: "a internet é um sítio perigoso"

"Um bicho-de-sete-cabeças": é assim que Alcina Alves, atualmente reformada, via o mundo da computação antes de decidir entrar na Universidade Sénior, onde, então com 61 anos, concluiu que nunca é tarde para aprender e ter novas experiências.

"Não é que tivesse alguma vontade de mexer em computadores, mas tinha tempo livre e, como havia alguns conhecidos meus no curso, decidi experimentar", contou Alcina. Aprender "a ligar o computador e a escrever textos no Word", bem como a "tirar fotografias com a câmara do computador", foram das coisas que mais gostou de fazer.

A entrada no mundo online foi algo ligeiro e não lhe trouxe muitas histórias para contar, mas é a própria Alcina a dizer que não tem "nenhum interesse" em navegar na Internet, pois "sabe-se lá se alguém está a ver" o que se está a fazer no computador. "Hoje em dia aparecem sempre nos telejornais notícias relacionadas com roubos na Internet - como aquele ataque aos jornalistas, por exemplo - por isso acho que a internet é um sítio perigoso". Com todos os fatores em consideração, a conclusão é clara: "como não aprendi muito sobre isso, prefiro não mexer a fazer besteiras!".

Com emails, downloads e redes sociais fora da sua vida, Alcina diz que apenas gostaria de saber utilizar o computador para falar com os seus filhos, ambos emigrados na Suíça. O interesse pela Internet até poderá vir um dia, mas não por agora: "acho que uma conversa à varanda ainda é a melhor forma de passar uma tarde!"

Próxima página: As mesmas perguntas, diferentes respostas

As mesmas perguntas, diferentes respostas

Acha que é possível estar 100% seguro na Internet?

Inês: "acho que não. Depende muito dos sites que visitamos e do que fazemos"

Ana Clara Reis: "De modo algum. Todos os dias são criadas formas de aceder aos dados pessoais de quem utiliza a internet. Além disso existem ainda os vírus que muitas vezes destroem documentos que temos guardados no computador"

Fernando Cabral: "a 100% acho que não, mas se tivermos cuidado no que se visita só com muito azar que vamos ser apanhados por algum vírus"

Alcina Alves: "não, acho que não! Pelo que ouço é um sítio bastante perigoso"

O que faria se recebesse uma mensagem no computador a dizer que tinha ganho 100 mil euros?

Inês: "apagava-o porque não tenho tanta sorte!"

Ana Clara Reis: "se fosse de um contacto desconhecido, ignorava logo".

Fernando Cabral: "abria. Não deve haver mal em confirmar"

Alcina Alves: "sabia lá eu quem me tinha enviado aquela mensagem! Não abria"

Quais são os principais medos quando está em frente ao computador?

Inês: "que alguém me entre no computador. Antes tinha um post it à frente da câmara para ter a certeza que ninguém me via"

Ana Clara Reis: "que alguém entre no sistema operativo do meu computador e tenha acesso aos meus documentos ou passwords."

Fernando Cabral: "não tenho assim um grande medo quando estou no computador. Tenho é por hábito salvar um documento várias vezes quando estou a escrever, por isso devo ter medo de perder alguma parte do texto!"

Alcina Alves: "que carregue onde não deva e aquilo se desligue"

Somos uma sociedade consciente dos perigos?

Grande parte das respostas que obtivemos dão conta de uma consciência realista que existe à volta dos perigos da Internet: a exposição de dados, o roubo de informações privadas, entre outros perigos. Desde a Inês até à Alcina, todos eles se mostraram cientes das armadilhas que existem e, se há quem prefira manter-se longe de tudo, já outros arriscam "conscientemente" e por sua conta e risco, o que por vezes nem sempre é a melhor solução. Já dizia o ditado: mais vale prevenir que remediar.


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico