A análise partilhada pela Cloudflare é baseada no Cloudflare Radar, que junta informação recolhida da gestão de redes em mais de 300 cidades e 120 países, com dados sobre a atividade de internet, e que mostra que "o terceiro trimestre de 2024 foi particularmente ativo" e contou com algumas disrupções significativas. Governos, um pouco por todo o mundo, continuaram a impor o encerramento da Internet para prevenir protestos e fraudes nos exames mas também foram registados danos em cabos terrestres e submarinos que afetaram a conectividade em África e noutras partes do mundo. Diferente do habitual, a época dos furacões causou falhas na Internet nas Caraíbas e em várias partes dos EUA, revela o mais recente relatório da Cloudflare.
Outras falhas no fornecimento da Internet deveram-se a quebras no abastecimento de energia, planeadas e não planeadas, causando perturbações de várias horas. Entretanto, as ações militares continuaram a afetar o serviço de Internet, bem como períodos de manutenção da infraestrutura, incêndios e ciberataques. Houve ainda disrupções na Internet durante o trimestre cujas causas não foram verificadas.
A Cloudflare destaca ações dos governos que estiveram ativos na implementação de encerramentos da Internet em resposta a protestos nos seus países, mas também interromperam a Internet por várias horas no país, numa tentativa de impedir que os estudantes de copiar nos exames nacionais. Durante o trimestre foram observados vários encerramentos da Internet ordenados pelos governos, alguns mais direcionados e afetando apenas alguns fornecedores Internet móvel, enquanto outros foram mais agressivos, cortando efetivamente a conectividade à Internet a nível nacional.
Um dos casos destacados pela Cloudflare é no Bangladesh. Registaram-se protestos estudantis violentos contra as quotas nos empregos na Administração Pública e o aumento das taxas de desemprego que levaram o governo a ordenar um encerramento nacional da conectividade à Internet móvel, no dia 18 de julho, alegadamente para assegurar a segurança dos cidadãos. Posteriormente, o encerramento provocou também a falha quase total da Internet, incluindo as redes de banda larga. O tráfego de Internet caiu para aproximadamente zero pouco antes das 21h00 locais, o que significa que praticamente todas as redes do país foram desligadas da Internet. O serviço começou a recuperar pelas 18h00 do dia 23 de julho, à medida que a conectividade em banda larga era restaurada.
No Iraque e no Curdistão Iraquiano foram implementados encerramentos da Internet pelo Governo para impedir fraudes nos exames do ensino secundário e do bacharelato. No Iraque, uma segunda ronda de exames para os alunos do 12.º ano provocou mais de duas semanas de encerramentos regulares da Internet em todo o país, entre 29 de agosto e 16 de setembro.
Também na Síria, entre 26 de maio e 13 de junho, se registaram encerramentos durante a primeira ronda de exames. Numa segunda época de exames, o Ministério da Educação pediu o encerramento da Internet, em horários específicos, entre os dias 25 de julho e 8 de agosto. Cortes relacionados com os exames escolares aconteceram também na Mauritânia.
Furacões, incêndios e cortes de energia afetam Internet
Mas, as disrupções na Internet não se devem apenas a ações governamentais. Foram cortados cabos na Suazilândia como resultado de incêndios florestais. A operadora MTN Eswatini, informou os clientes que “a ligação à Internet e aos serviços de dados é atualmente intermitente, devido a roturas dos cabos de fibra resultantes dos incêndios florestais”. Esta aparente interrupção da ligação foi visível no Cloudflare Radar entre as 19h30 e as 20h15 locais. Nos Camarões, um corte de fibra ocorreu a 4 de agosto durante os trabalhos de saneamento que interromperam a conetividade móvel dos clientes da Cameroon Telecommunications durante mais de metade do dia.
A Autoridade de Telecomunicações da Libéria publicou um anúncio na sua página do Facebook em 21 de agosto, às 01h00, referindo que “fomos informados pela CCL de que o cabo ACE está a sofrer interrupções”. O cabo submarino Africa Coast to Europe (ACE) liga vários países ao longo da costa ocidental de África a Portugal e à Europa. O tráfego começou a recuperar às 14h00 locais, no dia 22 de agosto. Niger, Haiti e Quirguizistão foram outros países afetados por danos provocados em cabos submarinos ou terrestres.
Uma época de furacões ativa durante julho, agosto e setembro resultou em danos nas infraestruturas causadas por vários furacões que interromperam a ligação à Internet em vários locais das Caraíbas e do Sudeste dos EUA. No início do terceiro trimestre, Granada e São Vicente e Granadinas sofreram danos significativos causados pelo furacão Beryl, que terá causado a destruição de infraestruturas, edifícios, agricultura e ambiente natural. No dia 1 de julho, o tráfego de Granada diminuiu significativamente às 10h00 horas, pouco antes da chegada do furacão à ilha de Carriacou, em Granada.
O furacão Beryl também passou pela Jamaica a 3 de julho. Os danos associados tiveram impacto na conectividade da Internet na ilha, com o tráfego a cair significativamente por volta das 14h00 horas locais A interrupção foi precedida por um volume de tráfego superior ao normal, presumivelmente por os residentes procurarem informações sobre o Beryl. A interrupção durou quase uma semana, tendo o tráfego regressado aos níveis esperados a 10 de julho. As tempestades Beryl e Helene ainda afetaram outras regiões do EUA, incluindo Georgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte.
No mês seguinte, os danos causados pela tempestade tropical Ernesto provocaram cortes de eletricidade em todas as Ilhas Virgens Americanas, o que resultou em interrupções na ligação à Internet, cujo tráfego das ilhas caiu vertiginosamente às 22h00 horas locais de 13 de agosto. Manteve-se baixo durante mais de dois dias, antes de regressar aos níveis esperados antes da tempestade por volta das 11h00 horas locais de 16 de agosto. O Ernesto tornou-se, entretanto, num furacão, tendo enfraquecido quando chegou à Bermuda nos dias 15 e 17 de agosto, mas afetando as comunicações. Chuvas fortes provocaram disrupções no Nepal.
Um corte de energia na Venezuela, no dia 30 de agosto foi, segundo o presidente Nicolás Maduro, o resultado de um ataque à barragem de Guri, o maior projeto hidroelétrico da Venezuela. Um relatório publicado indicou que todos os 24 estados do país registaram uma perda total ou parcial do fornecimento de eletricidade. A perda de eletricidade causou, sem surpresa, uma interrupção da Internet, com o tráfego nacional a cair 82%, a partir das 04h45 locais. O tráfego começou a aumentar à medida que a eletricidade regressava a várias partes do país ao longo do dia e voltou aos níveis esperados pouco depois da meia-noite local de 31 de agosto. Houve problemas com o abastecimento de eletricidade também no Quénia, em duas ocasiões durante o trimestre, e também no Equador e no Senegal. Problemas relacionados com manutenção, afetaram o fornecimento de Internet na Síria.
Ataques DDoS e guerra geram perturbações
Na Rússia, a Roskomnadzor, o regulador da Internet, atribuiu a culpa de uma breve interrupção do tráfego observada no país e na operadora Rostelecom em 21 de agosto a um ataque distribuído de negação de serviço (DDoS) que visava os operadores de telecomunicações russos. A perturbação terá afetado os serviços de mensagens Telegram e WhatsApp, bem como a Wikipedia, Yandex, VKontakte, serviços de apoio às telecomunicações e aplicações bancárias móveis.
Na Palestina, a Cloudflare cobriu as interrupções da Internet relacionadas ao conflito em andamento em Gaza várias vezes desde outubro de 2023, tanto na presença do Cloudflare Radar no X quanto no blog da Cloudflare. Em muitos desses casos, a operadora Paltel publicou avisos nas redes sociais sobre interrupções de serviço. Em 8 de setembro, a Paltel publicou uma mensagem na sua página do Facebook, afirmando: “Lamentamos anunciar a suspensão dos serviços domésticos de Internet nas zonas central e sul da Faixa de Gaza, devido à agressão em curso”.
Os ataques aéreos israelitas contra Beirute, capital do Líbano, em 28 de setembro, foram provavelmente a causa para a rede local Solidere ficar offline por várias horas. Um incêndio perto de um centro de dados na província de Blida, na Argélia, interrompeu a conectividade da operadora Djezzy em 24 de julho.
Sem causa identificada foram ainda registadas interrupções no serviço de Internet da Verizon nos EUA, no dia 30 de setembro. No dia 31 de julho, o Paquistão registou uma perturbação em larga escala da Internet que durou cerca de duas horas. O tráfego caiu apenas ~45% a nível nacional, mas a PTCL sofreu uma perda quase total de tráfego, enquanto o tráfego na Telenor Paquistão caiu quase 90%. Finalmente, a Vodafone reportou problemas a 14 de agosto no Reino Unido tanto no acesso às conexões à Internet móvel e terrestre.
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