Os líderes de algumas das organizações mais proeminentes no mundo da Internet aliaram-se para travar a venda do domínio .org. Os responsáveis da Wikimedia Foundation, do Internet Archive e da Mozilla Foundation são algumas das figuras que se juntaram à Cooperative Corporation for .ORG Registrants (CCOR). A organização sem fins lucrativos apresenta-se como uma alternativa à passagem do .org para as mãos da Ethos Capital, defendendo que a sua aquisição por parte de uma empresa privada será prejudicial para todas as ONGs que dele dependem.

De acordo com Esther Dyson, antiga responsável da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN) entre 1998 e 2000 e uma das diretoras da CCOR, numa publicação da nova ONG, o domínio .org é a “infraestrutura não comercial mais importante de uma Internet livre”. Os objetivos da CCOR passam então por manter o .org livre de pressões comerciais e assegurar que a lei garante a sua função como um serviço público.

Na direção da cooperativa está também Katherine Maher, diretora executiva da Wikimedia Foundation. A responsável afirma que a proposta da venda do .org à Ethos Capital “transformaria um bem público num bem privado”, acrescentando que estava mesmo na altura de apresentar um “caminho alternativo” para o futuro do domínio, um que seja “liderado por e para quem dele depende”.

Uma batalha de 1.135 milhões de dólares

A 13 de novembro de 2019, a Internet Society anunciou um acordo com a Ethos Capital para a venda do Public Interest Registry (PIR) por 1.135 milhões de euros. De acordo com o comunicado da ONG, a proposta surgiu em setembro desse ano e a transação deverá ser finalizada durante o primeiro trimestre de 2020. “À luz dos atuais contratos da Internet Society com a ICANN, dos estatutos da Internet Society e da entidade PIR, e das Leis dos Estados dos EUA onde ambas estão registadas, não existe nenhuma ilegalidade na venda”, defende a direção do capítulo português da ISOC, refletindo o ponto de vista da ONG, num comunicado à imprensa.

A decisão tem vindo a levantar diversas questões e preocupações, levando mesmo à criação da iniciativa Save .org. O website agrega a oposição à compra e apela aos internautas para assinarem a carta onde pedem para que isso não aconteça.

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Até ao momento, já mais de 20.800 pessoas e 655 organizações assinaram a carta, defendendo que as decisões que afetam o .org devem ser tomadas com a consulta de todas as comunidades ONG, "supervisionada por um líder de comunidade". Caso a Internet Society não possa desempenhar esse papel, "deverá trabalhar com a comunidade ONG e a ICANN para encontrar um "substituto apropriado".

Ainda em dezembro do ano passado, a ICANN fez um pedido de informação adicional às partes interessadas na venda do .org. A ONG afirmou que estava a avaliar a proposta “muito seriamente”, mas para garantir que o domínio se mantenha “seguro, confiável e estável”, era necessário que a Internet Society, o PIR e a Ethos Capital “atuem de forma transparente ao longo do processo”. A ICANN vai avaliar as respostas que foram já chegando ao pedido de informação, como a da PIR, a qual foi submetida a 20 de dezembro, tendo ainda mais 30 dias para decidir se aprova ou não a proposta de venda.