Essas contas operavam de forma independente em cada país e o seu conteúdo chegava a centenas de milhares de pessoas, antes de serem suspensas, após uma investigação interna concluída no quarto trimestre de 2022.

“Tentamos esconder quem estava por trás de tudo isso, mas a nossa investigação encontrou vínculos com o governo cubano”, afirmou Ben Nimmo, um dos responsáveis ​​pela segurança do grupo californiano, durante uma videoconferência com a agência de notícias francesa AFP.

Na Bolívia, a investigação levou a ligações com o partido governamental de esquerda, o Movimento Ao Socialismo (MAS), vencedor das eleições presidenciais de 2020, e um grupo que se autodenomina "Guerreiros Digitais".

David Agranovich, diretor das equipas de segurança cibernética da Meta, que também estava na videoconferência, acrescentou que os governos dos dois países não foram "notificados" sobre a desativação das contas falsas. “É importante tentar responsabilizar este tipo de atores (...) destacando a sua atividade, por isso publicamos” os resultados destas investigações, explicou.

Em Cuba, que por décadas foi um dos países menos conectados com o mundo até a chegada da telefonia móvel, em 2018, a Meta desativou 363 contas do Facebook, além de 270 páginas e 229 grupos, assim como 72 contas no Instagram.

A operação de propaganda abrangeu outras redes sociais que não estão sob controlo da Meta, como YouTube, TikTok e Twitter, observou Nimmo.

Na Bolívia, cerca de 1.600 contas, páginas e grupos, que operam a partir de bunkers em La Paz e Santa Cruz, foram desativados. “Eles coordenaram os seus esforços para usar contas falsas, mostrar apoio ao governo boliviano e criticar e assediar a oposição”, realçou David Agranovich.

Na operação de propaganda em Cuba, a Meta identificou dois processos. O primeiro, apelidado de “líderes de contas falsas” por Nimmo, consistia em “contas falsas muito básicas para compartilhar e elogiar conteúdos pró governo”. A segunda, "mais elaborada", consistia em criar identidades falsas "para postar críticas aos opositores do governo" na ilha caribenha e no exterior.

“Algumas dessas contas usam fotos de perfil que provavelmente foram geradas usando inteligência artificial, ou seja, fotos de pessoas que não existem”, explicou. Memes foram criados com fotos de membros da oposição frequentemente chamados de "vermes" - expressão usada pelo poder para descrever os dissidentes.

Nimmo referiu também que depois de a rede de contas falsas em Cuba ter sido derrubada, os seus responsáveis "tentaram voltar". Mas “nós tiramo-los de novo”, explicou aquele responsável da Meta.

"Parte do trabalho não é apenas desmantelá-los, mas manter a pressão para tornar mais difícil construir ou reconstruir uma audiência". Ainda segundo o Nimmo, o desafio “é tentar interrompê-los o mais rápido possível antes que, de alguma forma, metastatizem na rede”.

Segundo Agranovich, cerca de 650.000 pessoas seguiram uma ou mais páginas da rede cubana e cerca de 510.000 aderiram a grupos de discussão. Na Bolívia, mais de dois milhões de contas seguiram essas páginas falsas.

Mas sendo estas operações “tão multiplataforma por natureza, é difícil dizer com certeza quantas pessoas conheceram ou até onde conseguiram espalhar-se”, sublinhou o gestor de segurança da Meta.

Em novembro de 2021, na Nicarágua, o terceiro país de inspiração revolucionária de esquerda na América Latina, a Meta já tinha eliminado uma "trolls farm" do governo destinada a manipular o debate público uma semana antes das eleições presidenciais.