Todos os intervenientes do painel do Fórum de Pagamentos da Portugal Internet Week, que se realizou hoje em Lisboa, eram suspeitos. Todos eram representantes de empresas que estão ligadas à área dos pagamentos digitais, seja através de meio físico seja através de integração em lojas online.

Quase todos, mas cada um à sua maneira, consideraram que o maior desafio que existe na questão do comércio online e dos pagamentos nesta área acaba por ser a mentalidade dos consumidores.

Como revelou o responsável de retalho da Redunicre, Shamil Indrakumar, “40% das vendas são perdidas no check out e isto é uma preocupação porque o que nós queremos é passar à fase seguinte”.

“A principal barreira é as pessoas quererem fazer as compras”, disse o responsável da EasyPay, Sebastião de Lancastre, que acrescentou ainda que os clientes internacionais têm uma grande celeridade nas decisões que fazem.

“Do que vemos aqui [no debate] não há barreiras tecnológicas nem de preço. As barreiras são de mentalidade e sociais. Temos que ser nós a ir ao encontro das pessoas. Temos que ouvir mais do que falar”, sentenciou o responsável da EasyPay.

Ainda dentro do mesmo tema, também o gestor da PT Pay, Rui Patraquim, considera que “é preciso mudar a mentalidade”. “As pessoas não estão habituadas a outros meios de pagamento. A segurança é o factor determinante e as pessoas precisam de ultrapassar esse medo”, explicou o porta-voz da divisão da PT Portugal para a área dos pagamentos.

No entanto a questão da segurança continua a ser a principal preocupação de todos os players que operam no mercado dos pagamentos digitais. E um dos sinais mais fortes de confiança que as pessoas têm relativamente aos meios que usam está ao nível do conhecimento e fidelidade da marca, algo que a PayPal e a SIBS com os serviços Multibanco já fazem e usufruem há bastante tempo.

Daqui a 20 anos, todos continuarão com dinheiro e cartões na carteira, mas...

Um fenómeno que tem surgido são as wallets, carteiras digitais associadas a diferentes empresas e que prometem cumprir parte das funções que se fazem com um cartão, mas através do telemóvel. O pagamento mobile é sem sombra de dúvidas a grande tendência do momento.

A própria PT Portugal tem uma, a Meo Wallet, mas há países em que a realidade é mais acentuada do que Portugal. Em Espanha, como detalhou o responsável de vendas da PayPal Portugal, Miguel Duarte Fernandes, as wallets aparecem "como cogumelos".

Mas estas não são as únicas soluções possíveis na área do mobile. A SIBS vai ter em 2015 uma nova solução, o Mb Way, uma ferramenta que foi criada por haver tendência e procura nesta área dos pagamentos móveis. Mais uma vez a SIBS apostou na simplicidade e “globalidade” da solução para atrair utilizadores. O único requisito é que as pessoas tenham uma conta bancária e um número de telemóvel. Com esta conjugação de factores, mais o pin da conta bancária, será possível fazer qualquer compra online.

Como revelou a coordenadora do núcleo de comunicação e imagem da SIBS, Maria Antónia Saldanha, “não consideramos que a nossa solução é concorrente se considerarmos que todos os portugueses que têm conta bancária vão poder ter um MB Way”. Sucintamente a executiva da SIBS disse que os utilizadores vão continuar a fazer o que já fazem agora: pagar serviços e bens com recurso à sua conta bancária, apenas o método de pagamento será diferente.

A Internet é o mundo e o mundo é lá fora

E mais uma vez ficou o alerta: se querem ser uma loja online, não podem operar apenas a pensar em Portugal. “Uma loja ou comércio que queira vender apenas para Portugal, terá os dias contados muito brevemente”, explicou Miguel Duarte Fernandes da PayPal, dizendo que os que se focam apenas no mercado doméstico, ficam à mercê de uma possível entrada de grandes players do ecommerce como a Amazon.

A transformação que se vive é de tal forma acentuada que Miguel Duarte Fernandes defende que nem as lojas físicas estão a salvo do efeito da concorrência feita por lojas online.

Também Sebastião de Lancastre foi taxativo a propósito do tema: “temos de ter a consciência que estamos em Portugal e que temos de fazer as coisas diferentes”. Os conselhos continuaram: “temos que fugir da noção do low cost. Há pessoas de todo o mundo dispostas a comprar tudo. Não vamos a lado nenhum a ganhar cêntimos”.

Os leitores podem ainda ver uma curta entrevista com o responsável da EasyPay:

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico