As receitas geradas pelos downloads legais de música cresceram 1.000 por cento nos últimos seis anos, mas no geral o sector perdeu 31 por cento do seu valor devido à pirataria, revela o relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) relativo a 2010.

Entre os vários aspectos focados, a análise indica que 95 por cento dos downloads de música são ilegais. Apesar de tudo, o digital representa, actualmente, 29 por cento do negócio em todo o mundo, tendo gerado 4,6 mil milhões de dólares em 2010, um aumento de 1.000 por cento em relação aos 420 milhões registados em 2004.

As receitas não foram o único item a crescer no sector da música digital nos últimos seis anos. Actualmente existem mais de 400 serviços licenciados, face aos menos de 60 em 2004, que disponibilizam 13 milhões de faixas - 12 milhões de temas a mais do que o verificado em 2004.

Apesar do crescimento da oferta no campo dos downloads legais, a indústria fonográfica portuguesa continua a perder muito dinheiro para a pirataria. Esta queda tem "um efeito demolidor no emprego", nomeadamente na Europa, que pode perder até 1,2 milhão de postos de trabalho na indústria criativa por causa da pirataria, o que representa cerca de 10 por cento da força de trabalho do continente, estimada em 14 milhões.

A Espanha é apresentada como um dos piores casos no que diz respeito à pirataria, seguida do Brasil. No país vizinho, 45 por cento dos internautas descarregam conteúdos musicais ilegalmente. As vendas de música caíram 55 por cento desde 2005.

A IFPI apela por isso a uma intervenção dos governos no combate ao "flagelo" criando legislação que defenda o sector, e dá como exemplos de países que já avançaram nesse sentido a Suécia, a Coreia do Sul e a França - com a sua famosa lei Hadopi -, referidos ontem pelo TeK na sugestão Entender as leis sobre a pirataria online.

Eduardo Simões, da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP), afirmou hoje à agência Lusa que este relatório da federação internacional servirá para sustentar junto das autoridades portuguesas essa mesma necessidade.

"Estamos bastante atrasados em relação aos outros países no que toca a legislação e a criação de modelos de negócio digital. Está tudo por fazer e até hoje não houve uma única iniciativa", lamentou Eduardo Simões.

De acordo com o responsável da AFP, que integra a Federação Internacional da Indústria Discográfica, no primeiro semestre de 2010 o mercado digital de música em Portugal recuou 33 por cento, enquanto nos Estados Unidos mais de metade da música já é comercializada em modelos digitais.

Eduardo Simões volta a citar a lei Hadopi, em França, como o modelo legislativo mais próximo e adequado para o combate à pirataria, num sistema de avisos regulares aos infractores.