
A maioria das empresas garante que as mudanças são algumas, mas que a procura dos clientes continua elevada. O agravamento da crise terá até tido um efeito positivo no negócio, garantem alguns operadores.
Os serviços de compras em grupo acabam por ser uma "forma de manter o estilo de vida com uma redução de pelo menos 50% no orçamento necessário", defende a Cardume, uma das marcas nacionais a operar nesta área.
Plataformas deste género permitem compensar a perda de poder de compra. E os portugueses, tal como os consumidores do resto da Europa, mantêm-se atentos à possibilidade.
"Até certo ponto, temos de "agradecer" à crise", diz Giulio Limongelli, vice-presidente da Groupon para a Europa do Sul. A líder de mercado nas compras por desconto já nasceu na crise, como aconteceu com todos os serviços que se lhe seguiram. Desde 2008 que tira partido da procura pelo consumidor das melhores oportunidades e da busca dos lojistas por novos canais para divulgar os seus produtos.
Em Portugal os produtos mais vendidos pela empresa no ano passado integram a categoria de produtos e serviços na área do bem-estar e beleza: ao longo de todo o ano comercializou 45.000 cupões relacionados com estas áreas. "Os portugueses gostam de tratar e melhorar a sua imagem e adoram relaxar, pondo de lado o stress do quotidiano", revela o responsável.
Destacam-se aqui 10.000 cupões para serviços relacionados com massagens e tratamentos em spa; 8.000 cupões para serviços relacionados com tratamentos de emagrecimento e 7.800 cupões para serviços de cabeleireiros.
A segunda categoria de serviços mais procurada foi a de restaurantes, com mais de 25.000 cupões vendidos. A gastronomia nacional destaca-se, seguida da italiana. Durante o ano, ganharam ainda destaque outras categorias, como os serviços médicos que passaram a ser bastante populares com mais de 4.000 cupões vendidos.
Os portugueses procuram sobretudo limpezas dentárias e testes de intolerância alimentar, mas também atividades de desporto e lazer. A empresa vendeu mais de 15.000 cupões para parques de diversões e desportos radicais.
Ricardo Mesquita, diretor-geral da principal concorrente da Groupon em Portugal, a LetsBonus, também destaca a restauração de qualidade como uma das áreas de crescimento na oferta/procura nestes sites, a par das viagens. Ainda assim, o responsável admite que hoje se sente "a contração do poder de compra do consumidor português. Também se nota que é mais selectivo e utiliza maior critério nas suas escolhas de compra online", acrescenta. Na mesma linha, a Cardume reconhece que o preço médio dos produtos e serviços comercializados "baixou devido a dois fatores: maior concorrência neste mercado e menos poder de compra por parte dos clientes".
Mais produtos, mais serviços, o mesmo conceito
A própria estrutura do mercado deixará pouco espaço para outras mudanças relevantes no comportamento do cliente. Como destaca Dalber Cândido, global marketing manager da Yunait, um agregador de ofertas para sites de descontos, todas as plataformas existentes no mercado são generalistas e este é dominado ou por grandes players internacionais ou por grandes grupos nacionais. Sobra pouco espaço para grandes mudanças.
Groupon e Letsbonus são operações internacionais estendidas a Portugal. A ligação a grandes grupos nacionais reflete-se noutras opções, como o SAPO Voucher ou o Descontocasião (Control Invest), exemplifica ainda.
Outra tendência curiosa é a de agregação ou renovação de posicionamento. A Goodlife é o exemplo mais relevante. Há cerca de um ano a empresa integrou a concorrente Plubee "por considerarmos que agregava valor à Goodlife, nomeadamente no que diz respeito à área metropolitana do Porto", explica Gonçalo Uva, partner do projeto. Desde o início de 2013 a marca explora também o negócio da Media Capital Digital nesta área, materializado no Planeo.
Potencialmente, a Goodlife torna-se assim numa das concorrentes mais fortes dos operadores internacionais. É também uma das empresas que mais produtos colocam em simultâneo site, distanciando-se da lógica introduzida inicialmente pela Groupon de um desconto por dia.
A empresa é, no entanto, aquela que revela uma estrutura de suporte ao cliente mais frágil. Nos contactos que realizámos para os números publicados no site de cada serviço, em dias distintos, só conseguimos estabelecer contacto telefónico uma vez com a Goodlife e para sermos remetidos para um contacto de email.
A resposta à mensagem chegou mais de uma semana depois, informando sobre uma "avaria grave de central telefónica". Uma situação que, mais de duas semanas depois, se mantém. Esta manhã voltámos a tentar contactar o call center da Goodlife sem sucesso.
Queixas: tiveram ou não impacto no negócio?
Questões como esta, ou como a falta de capacidade dos parceiros para prestar os serviços vendidos com desconto nos vários sites, motivaram queixas e um estudo da DECO com resultados muito negativos para as empresas.
A generalidade das plataformas garante que não se revê no trabalho realizado pela associação de defesa do consumidor, que acusam de ser pouco cuidadoso na escolha da amostra. "O estudo em questão da DECO na nossa opinião tem falta de rigor. A Goodlife não tem um único processo na DECO por parte de consumidores, garante Gonçalo Uva.
A Groupon vai mais longe e recorda que a DECO contabilizou 250 reclamações em 2012 relativas a cinco empresas. Só a Groupon vendeu 4.000 cupões em gastronomia italiana, uma categoria que nem é a mais procurada, pelo que o número da amostra "é residual relativamente às vendas".
Ainda assim as empresas garantem que levam a cabo uma série de medidas para minimizar este tipo de situação, ou mesmo para garantir que elas não existem.
A LetsBonus, por exemplo, assegura que não tem situações de parceiros incapazes de dar resposta ao número de vendas concretizadas através do site e que leva a cabo várias outras medidas para garantir clientes satisfeitos.
A aposta numa equipa local forte é uma delas. "Todos os dias a equipa de cerca de 30 pessoas que a LetsBonus tem em Portugal dá o seu melhor. Temos um call center dedicado a registar os pedidos e demais solicitações dos nossos subscritores. Ninguém fica sem resposta", garante Ricardo Mesquita.
Olhando para os vários serviços que se mantém online - alguns pura e simplesmente desapareceram, como o Wau - as diferenças mais óbvias estão mesmo na quantidade de ofertas disponíveis diariamente. A mecânica é idêntica e os meios de pagamento também, com vários players a garantirem que os portugueses estão hoje muito mais à vontade com as compras online e com serviços como o PayPal.
Outra diferença está efetivamente no tipo de produtos. Se uma Groupon continua a apostar sobretudo em serviços, outros sites destacam cada vez mais produtos. Dalber Cândido da Yunait, que entre utilizadores da plataforma e sites afiliados soma 125.000 utilizadores anuais e suporta vendas de 500 mil euros, também regista a tendência.
"A relação entre os produtos mais procurados, e os mais oferecidos muda dependendo da época do ano", comenta o responsável, ainda assim "existe uma tendência clara. Cada vez oferecem-se menos serviços, que pouco a pouco vão perdendo espaço para os produtos", garante.
Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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