Cinco anos depois de ter revelado a existência de um esquema de espionagem de larga escala, controlado pela NSA, Edward Snowden continua exilado na Rússia. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, afirma não estar arrependido e sente-se satisfeito com a forma como as suas ações "abanaram" governos, agências de inteligência e grandes empresas do sector tecnológico.
Do dia em que o mundo acordou com a notícia de que a agência governamental norte-americana estava a recolher e a armazenar imagens e dados pessoais de milhões de internautas dos Estados Unidos da América, Snowden recorda um sentimento de alívio. O hacker admite que foi "assustador, mas libertador" ao mesmo tempo. "Havia uma sensação de finalidade. Não havia volta a dar", comenta.
Desde então, Snowden considera que várias coisas mudaram. Apesar de os sistemas de vigilância massiva ainda se encontrarem operacionais, o norte-americano considera que a transformação mais significativa reside na consciência pública. "O governo e as empresas do sector funcionavam com base na ignorância do povo. Mas nós agora estamos cientes. As pessoas continuam a não ter qualquer poder, mas estão a tentar mudar o sistema. As revelações tornaram esta luta mais justa".
Ross Anderson, investigador académico na área da cibersegurança, afirma que as revelações de Snowden marcam um momento de viragem. "Foi um daqueles momentos com capacidade para mudar a forma como as pessoas olham para as coisas [...] a identificação da vigilância massiva como um problema, foi um tema que entrou na casa de todos".
Mas os efeitos não se fizeram sentir apenas na consciência dos utilizadores. O RGPD, que entrou em vigor em maio, enquanto norma comunitária, é um dos resultados deste caso. Um outro, mais imediato, passou a surgir nas conversas de chat do WhatsApp, quando app anuncia que as comunicações mantidas naquela plataforma estão inteiramente encriptadas. Antes de Snowden, sublinha Jillian York em declarações ao diário, ninguém queria saber de encriptação. À excepção da app iMessage, da Apple, raras eram as soluções em que a proteção era uma prática padrão. A ativista dos direitos digitais, que trabalha como diretora para a liberdade de expressão internacional, na Electronic Frontier Foundation, considera que as empresas não passaram simplesmente a querer saber de privacidade. "Elas foram empurradas", afirma.
Por outro lado, existem também mudanças que têm surpreendido os defensores da privacidade, pela negativa. A massificação das colunas inteligentes é um dos pontos mais flagrantes. "Como é que depois de um escândalo global, que envolve vigilância governamental à escala global, as pessoas estão dispostas a instalar, nas suas casas, aparelhos com microfones sempre ligados?", questiona Adam Clark, jornalista do Gizmodo. "
Snowden sente que tem o seu dever cumprido. O antigo colaborador da NSA diz que nunca se sentiu tão realizado, e apesar de ter desempenhado o seu papel, o norte-americano acredita que a resistência "Está apenas a começar". "Os governos e as empresas já estão a jogar este jogo há muito tempo e nós estamos apenas a começar", aponta.
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