A ameaça de uma balcanização da Internet é real e várias organizações apontam a possibilidade de estarmos a caminhar para uma Internet ainda mais fragmentada, um cenário onde a invasão da Ucrânia pela Rússia tem um peso relevante.
"A Internet não se deve tornar um campo de batalha", defende a Internet Society, uma organização de defesa de uma rede livre e acessível que nos últimos anos tem alertado para as diferentes ameaças à liberdade na Internet. Depois do início das sanções à Rússia, a organização foi uma das que pediu para que fosse garantido que as sanções impostas à Rússia como resultado de sua invasão da Ucrânia não afetassem a infraestrutura global da Internet.
A ideia é que a infraestrutura de internet esteja protegida de interferências, mesmo que sejam em reação a uma guerra, como acontece aqui.
Mesmo assim, a Internet Society defende que a guerra na Ucrânia levanta uma série de questões, relativas à forma como afeta a internet, que tipo de dados estão disponíveis para perceber o que está a ser afetado e a possibilidade de um impacto prolongado.
A organização recolheu dados de diferentes fontes de análise e indica que a OONI detetou um crescimento no número de anomalias nas redes russas durante os primeiros dias de guerra, o que é sinal de possíveis interferências, ou bloqueio de um site ou aplicação específica.
O Cloudflare Radar também dá indicações de bloqueios, neste caso nos protocolos TLS1.3 e Quic, que permitem a criptografia na Internet. "Por volta do final de fevereiro vimos que algumas redes russas estavam filtrando claramente o tráfego QUIC, na sequência do qual os navegadores geralmente voltavam a usar o TLS1.3", indica a organização. "Especulamos que o bloqueio do QUIC pode fazer parte de um sistema que o governo russo está usando para aplicar filtros seletivos a conteúdos considerados inapropriados", refere a publicação.
O desligamento das redes russas é outro dos sinais apontados. "À medida que os regimes de sanções estavam a ser implementados, muitos fornecedores pararam de fornecer serviços aos seus clientes russos, muitas vezes como consequência de sanções económicas". A análise do PIX (Internet Exchange Points (ou IXPs na sigla em inglês) mostra que vários prestadores de serviços de Internet (ISPs) russos estavam a sendo desligados dos principais PIX, o que reduziu o número de rotas diretas que eles poderiam usar para enviar tráfego, com efeitos na latência e custos de trânsito de dados.
São ainda apontados casos de ataques de routing para uma espécie de censura, e o do operador russo que "sequestrou" o Twitter.
Já no início de abril, a análise aos dados de várias fontes mostrava que "a Internet da Ucrânia parece ser bastante resiliente", refere a organização. "Após um mergulho inicial, as sondas de medição – os computadores e smartphones com as sondas M-Lab instaladas para executar testes de medição – voltaram a ficar online", indica, o que pode trazer novos dados relevantes para acompanhar a evolução da situação.
A Internet Society publicou ainda uma timeline sobre os vários acontecimentos, afirmando que é difícil ter já certezas sobre a forma como a internet da Rússia e da Ucrânia está a ser afetada. Mas destaca que uma internet livre e acessível a todos e que deve ser usada como uma arma de paz, independentemente do comportamento dos países.
A tecnologia tem sido um instrumento para acompanhar o desenvolvimento da guerra na Ucrânia e as imagens captadas por satélites são uma das formas de ver a realidade em zonas de guerra.
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