Se receber uma mensagem no smartphone, normalmente via WhatsApp, a solicitar pagamentos em atraso ou simplesmente o envio de dinheiro em nome de um familiar, deverá sempre desconfiar. As variações das burlas “Olá mãe, olá pai” continuam ativas, à procura de utilizadores mais “distraídos” que façam o pagamento das quantias pedidas. Ainda recentemente a PSP e a PJ alertaram para novas fraudes com o MB Way, envolvendo nomes de entidades públicas.
A burla do “falso familiar”, com contactos realizados no WhatsApp e outros serviços de mensagens, a pedir transferências de dinheiro, já é dos principais casos de cibercrime destacados pela PSP no último ano. As autoridades receberam uma média de 10 denúncias por dia relacionadas com a burla “olá mãe, olá pai”, num valor global que ultrapassa 1 milhão de euros.
O novo alerta foi dado por Rui Martins, da iniciativa CpC - Cidadãos pela Cibersegurança, que teve acesso a uma vítima (cujo anonimato foi pedido) que caiu duas vezes na mesma burla. Os pagamentos tinham a mesma entidade 21800 e foram pedidos 935 euros numa primeira mensagem e 765 euros numa segunda, em datas entre 9 a 10 de março de 2023.
A entidade da mensagem em questão, 21800 corresponde à MediaMedics_BV, que está associado a vários outros esquemas de burla, registado em queixas de utilizadores em diferentes plataformas desde 2018, pelo menos, como é o caso do Portal da Queixa ou na Deco Proteste. O Polígrafo SIC refere que situações de burla relacionadas com a EDP também utilizam esta referência como destino dos pagamentos fraudulentos através do Multibanco. Além da entidade 21800, também são listadas como falsas a 12167 e 11893.
No caso da entidade 21800, que serviu de base à mais recente burla que chegou ao SAPO TEK, trata-se de uma entidade de direito holandês, com sede na Lituânia. A MediaMedics B.V. tem um código de registo R124325 na categoria “Payment institutions of EU Member States providing services in the Republic of Lithuania without a branch”, explicou Rui Martins ao SAPO TEK. Esta empresa é legal e tem autorização do Banco de Portugal para operar no país. A empresa pode estar a ser utilizada como um veículo, mas como salienta Rui Martins, tem todos os dados e identidades dos burlões, só faltando a atuação das autoridades.
O endereço http://mediamedics.nl é redirecionado para o website de pagamentos https://onlinepaymentplatform.com/en. A plataforma em questão vende códigos de entidade a empresas, permitindo criar os dados de pagamento únicos. Sistema que estará a ser utilizado pelos burlões nos seus esquemas.
Uma vítima burlada através desta entidade 21800 vê-se num beco sem saída quando precisa de apresentar queixa. A polícia holandesa só aceita queixas se tiver um número de identificação nacional (Dutch DigiD) ou através de apresentação presencial numa esquadra no país. E a SIBS e o Banco de Portugal não estarão a dar soluções às vítimas. O SAPO TEK contactou a SIBS e a Polícia Judiciária a propósito desta burla e aguarda informações no fecho da notícia. Rui Martins destaca que as chamadas, do número associado à burla, não são atendidas e dias depois este acaba por ser desligado.
Outro detalhe apontado é que a burla utilizará uma conta de negócios do WhatsApp, facilitando a sua ação. Isso devido ao sistema de respostas automáticas que permitem automatizar o envio massivo das mensagens inicias (que Rui Martins diz que são utilizados listas com milhões de números portugueses obtidos em redes sociais como o LinkedIn e WhatsApp) e que permitem o uso do WhatsApp sem utilizar um telemóvel.
Rui Martins explicou ao SAPO TEK que o dinheiro dos esquemas é normalmente perdido, uma vez que os respetivos bancos alegam ser da responsabilidade do cliente. No caso da venda dos códigos de transações na plataforma, que são depois utilizados nos esquemas, é referido que existem registos em vídeo com os rostos dos burlões, porque faz parte do processo de adesão da Online Payment Platform. “Em tese já deviam ter perdido a licença” refere Rui Martins em relação à MediaMedics_BV, afirmando que não está a receber a devida investigação. Os burlões estarão a beneficiar de um buraco no regulamento europeu, passando ao lado das medidas da RGPD, uma vez que o serviço apenas vende os códigos a empresas.
O SAPO TEK aguarda alguns esclarecimentos da SIBS e PJ em relação a casos relacionados com a entidade 21800 nas burlas no fecho desta notícia. A notícia será atualizada com mais informação assim que disponível.
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