“A nível nacional as burlas informáticas e nas comunicações entre 2018 e 2020 mais do que duplicaram (9.783 – 19.855) e estes são os casos denunciados às autoridades, mas acreditamos que os números sejam muito superiores, devido às cifras negras. Em 2021 – ultrapassámos as 21mil (21.374), dados oficiais do RASI, explicou Sónia Martins, do Núcleo de Cibercriminalidade da Polícia de Segurança Pública (PSP) em entrevista ao SAPO TEK.

Os dados fazem parte da informação divulgada a propósito do Dia da Internet mais Segura, com destaque este ano para os casos de burla do falso familiar, conhecido por “Olá Pai Olá Mãe”, especialmente pelo elevado número de ocorrências diárias e registo em todo o território nacional, embora com especial incidência nas zonas urbanas de maior densidade populacional.

Sónia Martins lembra que nestes casos os suspeitos, através de mensagem escrita numa aplicação de comunicação, maioritariamente WhatsApp, remetida de um número de contato identificável, apresentam-se como familiares muito próximo da potencial vítima, seguindo usualmente uma de duas variantes de abordagem, referindo que o telemóvel se avariou ou perdeu e que este é o único contacto que têm, ou dizendo que mudaram de número.

“A partir desta abordagem inicial, o diálogo através de mensagens é continuado, para dar credibilidade à história, considerando e confirmando que se tratará de uma relação familiar próxima e estruturada, até chegar ao propósito pretendido, solicitar a transferência ou envio por intermédio de plataforma de uma quantia monetária, por exemplo, para pagamento da reparação ou nova aquisição de telemóvel ou pedido de “empréstimo” para satisfazer outra despesa urgente”, refere a agente do núcleo de cibercriminalidade.

"Ao contato inicial, sempre através de mensagem escrita, segue-se uma conversação que poderá manter-se durante horas, com conteúdo informal e registos do dia-a-dia, com o intuito, ao mesmo tempo, de procurar e avaliar a relação de proximidade entre o potencial lesado e o seu descendente", explica, mas "quando a vítima tenta o contato através de chamada de voz, a mesma não é atendida e é remetida  mensagem escrita com uma justificação e incentivando o contato só por mensagem escrita".

Só a PSP registou,  no último ano, 1.244 denúncias, das quais 1.205 desde o início de outubro, com uma média de 10 denúncias por dia, num valor global de burlas que ultrapassa o milhão de euros - relativamente à burla “Olá Pai Olá Mãe”. Mas tal como noutros crimes com recurso a meios informáticos, é possível que este número não corresponda à totalidade das perdas reais pois podem existir roubos onde não há queixa, referidos como cifras negras.

A Polícia Judiciária deteve em outubro um presumível autor destas burlas, um cidadão estrangeiro, mas aparentemente não atuava sozinho, ou outros seguiram o mesmo esquema.

Sónia Martins pede que todas as pessoas que sejam alvo de contactos suspeitos ou de burlas deste género denunciem ás forças de segurança pública, de forma a que estas possam atuar e também tipificar os ataques.

Para evitarem cair neste tipo de esquemas há alguns conselhos sugeridos pela PSP, que o SAPO TEK refere também num artigo publicado hoje.

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A Polícia de Segurança Pública aconselha os cidadãos a não realizarem qualquer transferência de dinheiro sem, pelo menos, previamente conseguir falar de viva voz e reconhecer a pessoa que pensa estar em conversação. "Despiste possíveis tentativas de burla com perguntas simples que, em princípio, o seu familiar conheça (quais as datas de aniversário de ambos, qual o curso e a universidade que frequentam ou frequentaram, qual a matrícula do carro da família, etc)", indica ainda a autoridade.

Se não se sente seguro a utilizar plataformas de comunicação ou de pagamento/transferência de dinheiro, deve solicitar apoio a outra pessoa da sua absoluta confiança para apreender todas as funcionalidades. Fica também a sugestão para reforçar a literacia digital com inscrição em em programas oficiais de inclusão digital, como o Eu Sou Digital, de que a PSP é entidade parceira.

O SAPO TEK reuniu também cinco cursos online de acesso gratuito para quem quer reforçar a literacia digital na área da cibersegurança.