A tecnologia tem ajudado a mudar a forma de gerir os recursos essenciais à vida numa cidade. Isso aplica-se a diferentes áreas, como a da energia, que é uma das que mais tem evoluído nos últimos anos com a digitalização das redes e dos sistemas que podem ajudar a controlá-las.
Esta evolução acontece em simultâneo com outras, como a produção descentralizada de energia, que não só abrem o leque a quem gere redes e cidades para otimizar essa tarefa, como estendem ao consumidor a possibilidade de intervir nessa gestão e contribuir diretamente para uma utilização mais responsável de recursos.
Os dados estão lançados, que é como quem diz, a tecnologia existe e muitas ferramentas estão já disponíveis. Falta pô-las a funcionar em escala e motivar cada ator a assumir o melhor papel que pode ter na tarefa. Sem esquecer que esta é uma oportunidade única para promover um acesso mais justo e acessível a todos os recursos que são impactados pela mudança, como sublinhou Jane Cohen, Senior Program Manager da Agência Internacional de Energia num debate sobre cidades interligadas e com uma gestão eficiente de recursos durante o Digital with Purpose Global Summit.
Falta também investimento que precisa de continuar a chegar de várias frentes para se poder tirar partido daquilo que a tecnologia pode dar neste caminho para uma gestão mais sustentável das cidades, acrescentou Mark Atherton, diretor de ambiente da área metropolitana de Manchester.
O responsável esteve em palco a contar alguns dos avanços que a cidade tem feito com o investimento em inovação, para atingir as metas de neutralidade carbónica em 2038. Sublinhou a importância da integração de tecnologia na gestão das redes de energia da cidade, mas reconheceu que falta agora dar escala aos projetos no terreno e que isso vai exigir investimento. “É importante encontrar formas de atrair investimento privado para estes projetos, sem deixar de garantir que os ganhos destas mudanças revertem a favor das populações”, destacou.
Na sua opinião, no entanto, o maior desafio da transformação em marcha para cidades sustentáveis está em encontrar formas de estimular utilização mais inteligente e eficiente das redes, encontrando caminhos para envolver as pessoas nestes temas.
Chris White, presidente dos NEC Laboratories America, destacou igualmente a importância de manter um investimento forte em inovação capaz de responder aos problemas reais do mundo e das pessoas que terá também forçosamente, na sua opinião, de fazer com que a tecnologia seja cada vez mais invisível.
“Temos uma geração inteira com a expectativa que o mundo se adapte a si e não o contrário” como acontecia há alguns anos, frisou.
Uma geração que dá como adquirido que tudo funciona até deixar de funcionar. Chris White destacou que o desejo e a busca de automação não vão por isso abrandar. “Há que saber tirar partido da quantidade cada vez maior de dados gerados por esta evolução para criar tecnologias melhores e mais amigas do ambiente”.
E essa também é a visão de Doug Arent, diretor executivo e de parcerias estratégicas público-privadas do National Renewable Energy Laboratory, dos Estados Unidos. O responsável acredita que a tecnologia vai permitir-nos continuar a desenvolver sistemas cada vez mais inteligentes que vão ajudar a otimizar o consumo de recursos, como sistemas suficientemente inteligentes para carregar o carro apenas na quantidade necessária se esse carregamento estiver a ser feito nas horas mais caras, exemplificou.
“A smartIA vão ter um papel fundamental para descarbonizar o consumo de energia” e as pessoas, enquanto membros de comunidades, vão ser um elemento crucial nesta transformação. São aliás (as comunidades), segundo a sua perspetiva, o maior desafio e a maior oportunidade na otimização das cidades em matéria de sustentabilidade.
Jane Cohen, que representou no painel a entidade que ajuda os governos a desenharem programas que assegurem que toda a gente pode tirar partido dos investimentos em energias limpas, vê na IA e na digitalização grande parte da solução e das ferramentas importantes para promover a eficiência energética que precisamos. No entanto, diz que para já são precisos mais dados e formas mais sofisticadas de integrar esses dados, porque a interoperabilidade é fundamental.
“Ajudar as pessoas a perceberem - e continuar a dar-lhes ferramentas - para assumirem o papel que podem ter na gestão dos seus sistemas energéticos vai ser revolucionário”, defendeu ainda, apontando algumas nuances. “Temos de ter uma estratégia para chamar as pessoas para esta nova fase” e essa estratégia e comunicação devem estar orientadas para os diferentes públicos e para o que cada um pode fazer.
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