A par do Web Summit, o “irmão gémeo” Collision, é visto como é uma das maiores conferências norte-americanas de tecnologia e empreendedorismo e afirma-se como um evento onde as startups têm a oportunidade de brilhar e de mostrar ao mundo e a possíveis investidores aquilo que valem.
Neste ano e pela segunda vez consecutiva, o Collsion voltou a realizar-se em formato online, com a plataforma desenvolvida pela organização a ser o palco para as sessões as mais de 1.500 sessões com 621 oradores.
Com 38.039 participantes vindos de 141 países, esta é considerada a maior adesão do evento. Em destaque estiveram 1.266 startups, sendo mais de 100 delas portuguesas, que participaram no âmbito dos programas Road 2 Web Summit, desenvolvido em parceria com a Startup Portugal, e Made of Lisboa: um número que aumentou significativamente em relação à edição de 2020.
O ecossistema de startups em Portugal tem vindo a prosperar, com o país a querer tornar-se na sede europeia do empreendedorismo. De acordo com o mais recente estudo da IDC, cuja versão preliminar foi apresentada em primeira-mão durante o Fórum Portugal Digital, existem mais de 2.000 startups. Deste universo, 33% operam no setor das Tecnologias de Informação, mas destacam-se também áreas como o setor do turismo, da energia, da educação ou das fintechs.
De Portugal, um país considerado um autêntico hub para startups, para o mundo através da “magia” da Internet, como foi participar na edição de 2021 do Collision? O SAPO TEK falou com quatro startups portuguesas, todas com experiência em anteriores edições do Web Summit, que marcaram presença na conferência para saber mais sobre as oportunidades que o evento lhes trouxe.
Para a Klugit Energy, liderada por Tiago Bandeira, que participou pela primeira vez no Collision através do Road 2 Web Summit, o momento revestiu-se de uma grande importância. Ao SAPO TEK, fonte oficial da Klugit explicou que a empresa está “a preparar uma ronda [de investimento] Seed para o final do ano”, sendo essencial aumentar a “lista de contactos com Venture Capitalists”. “A Collision é uma ótima porta de entrada para o mercado da América do Norte”.
A startup, que desenvolveu uma tomada que dá mais “inteligência” aos termoacumuladores comuns, permitindo poupar energia e ajudar os consumidores a terem hábitos mais amigos do ambiente, foi também identificada pela organização do Collision como uma das startups de impacto do evento, vistas como empresas cujos projetos se enquadram nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
“Saltando” da área da energia para a da realidade aumentada, a Dobsware também pisou o palco virtual da Collision pela primeira vez, levando consigo o seu mais recente projeto, o FootAR. De acordo com David Olim, CEO da Dobsware, a startup especializa-se em soluções B2B, principalmente para o mobile, mas também está associada à indústria de videojogos.
Clique nas imagens para ficar a conhecer mais detalhes sobre o FootAR
“O FootAR surge como uma combinação de ambos, uma proposta de valor que, promete mudar a experiência dos fãs de desporto, enquanto assistem a um evento em direto, permitindo-lhes aceder a realidades imersivas”, explica o responsável, acrescentando que, através de “validações a nível internacional”, o projeto foi ganhando exposição entre Clubes e Federações, empresas mediáticas e ainda casas de apostas.
A participação da startup no Collision segue essas mesmas validações internacionais e David Olim indica que, através delas, foi possível perceber que há um “determinado tipo de audiência que já está predisposta a interagir com o tipo de conteúdo” oferecido, daí olharem para a América do Norte como uma oportunidade de “medir a pulsação” do mercado e definir algumas das prioridades a médio/longo prazo.
Entre vantagens e desafios, nada bate a dinâmica dos eventos presenciais
Com experiência no mercado norte-americano, mas também britânico, está a Sound Particles, que cria software áudio 3D, onde são aplicados conceitos de computação gráfica ao som, usado pelos principais estúdios de Hollywood e em produções bem conhecidas, como a popular série Game of Thrones, assim como por grandes empresas de videojogos, incluindo a Blizzard e a Epic Games, explica Nuno Fonseca, CEO da startup.
A empresa já tinha participado na primeira edição virtual da conferência, que ficou conhecida como Collision at Home, e desde o início da pandemia esteve também presente em cerca de 10 eventos internacionais em formato online.
“A parte mais importante deste tipo de eventos é o networking e em todos os eventos digitais em que participámos notamos que nunca é a mesma coisa, nem perto”, afirma Nuno Fonseca. “O evento pode ter uma preparação melhor ou pior, pode ter uma plataforma digital melhor ou pior, mas nunca são minimamente comparáveis com os eventos reais e físicos. No entanto, não podemos ficar parados e deixar de aparecer, e como tal, continuamos a estar presentes.
A experiência de participação online é “completamente diferente” daquela que é possível viver num evento físico, indica Miguel Reynolds, fundador e CEO da Corkbrick, uma empresa especializada no desenvolvimento de módulos em cortiça que podem ser combinados para criar, por exemplo, móveis e que foi uma das startup Alpha convidadas na edição de 2019 do Web Summit.
O responsável detalha que o modelo de envolvimento do Collision tornou a participação eficiente, permitindo estabelecer novos contactos “com muita flexibilidade”. Miguel Reynolds destaca ainda que “a organização do follow-up da conferência foi muito facilitada pela plataforma” criada para o evento.
David Olim aponta também para a questão das diferenças entre tipos de eventos, relembrando a participação da sua startup no Web Summit 2020. “O virtual tem as suas desvantagens, mas certamente também traz diversas vantagens”.
Embora a Dobsware continue a preferir a versão presencial de eventos deste calibre, o Collision 2021 foi uma experiência positiva. Em comparação com o Web Summit, David Olim indica que no caso do Collision há uma maior adaptação ao panorama norte-americano. “Ainda assim, a plataforma virtual é comum para ambas, partilhando a funcionalidade que, para nós, é a mais interessante: o Mingle”, que, nas palavras do CEO torna “as relações mais pessoais entre os vários participantes”.
Já para a Klugit, que também marcou presença no Web Summit 2020, o Collision “surpreendeu bastante pela positiva, com mais networking”, com mais Venture Capitalists a contactarem-na espontaneamente e com “mais oportunidades de negócio identificadas”.
Há “uma grande diferença na abertura para o networking e na iniciativa de Venture Capitalists em promover contactos iniciais. Neste aspeto ficámos um pouco desiludidos com o Web Summit 2020 em formato 100% online. A maior maturidade do ecossistema empreendedor norte-americano ficou bem visível nas diferenças entre estes dois eventos”, enfatiza a startup.
Uma porta aberta para a expansão
Que oportunidades é que o Collision 2021 abriu para as startups portuguesas e para os seus projetos inovadores? No caso da Corkbrick, que planeia a sua expansão para os Estados Unidos e Canadá no final deste ano, o evento possibilitou criar uma ponte entre a startup e potenciais investidores, abrindo a porta a “muitos contactos interessantes”, afirma Miguel Reynolds.
O contacto com potenciais investidores é também apontado pela Sound Particles e pela Klugit como uma das principais oportunidades abertas pelo Collision 2021. No caso da primeira startup, Nuno Fonseca destaca que foi possível ter inclusive reuniões com “com um fundo [de investimento] que investe fortemente na indústria do áudio”, algo que poderá ser “particularmente vantajoso no futuro”.
“[O Collision] trouxe-nos novos contactos com Venture Capitalists, mas o mais interessante até foi o que não estávamos a contar: a oportunidade de fazer um promissor projeto piloto com uma multinacional americana de eletrodomésticos”, revela a Klugit.
Tivemos oportunidade de abordar e ser diretamente abordados por alguns stakeholders que poderão trazer valor a médio/longo prazo para a nossa solução”, elucida David Olim. A Dobsware acredita que, através desta oportunidade, o crescimento no mercado norte-americano, onde já está a testar o seu projeto fica cada vez mais próximo. “Agora é continuar a caminhada com a certeza que este tipo de iniciativa é sempre benéfica”, sublinha.
Embora a plataforma desenvolvida para organização para o Collision, para o Web Summit e até para o Istanbul Innovation Days das Nações Unidas se afirme como uma útil forma de ligar os participantes, permitindo continuar a encontrar novas oportunidades de investimento, nada bate os eventos presenciais e até o próprio Paddy Cosgrave admitiu que mal podia esperar para o seu regresso, que poderá acontecer já em novembro deste ano, nos dias 1 a 4 do mês.
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