No segundo dia do Fórum Digital Portugal, que decorre até 6 de maio, a transição digital do tecido empresarial esteve sobre a mesa de debate, com um balanço de um ano do Plano para a Transição Digital. Depois de uma sessão de abertura marcada pela presença de Pedro Siza Vieira, ministro da economia e da transição digital, esteve em destaque uma apresentação em primeira-mão de um novo estudo da IDC, que realiza uma análise ao ecossistema empreendedor do nosso país, mapeando o número de startups e identificando os principais pilares e fatores impulsionadores do mesmo.
Gabriel Coimbra, Group Vice President e Country Manager da IDC, enfatiza a importância da presença do ecossistema tanto na agenda do governo como na da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, materializando-se na criação do Europe Startup Nations Alliance (ESNA), que, na sua perspetiva é “uma iniciativa essencial para conseguirmos dar corpo e tornarmos o nosso ecossistema europeu mais coeso e mais competitivo a nível mundial”.
Ainda em versão preliminar, com a versão final prevista para junho, o estudo indica que, em Portugal, é possível identificar mais de duas mil startups e, deste universo, 33% atuam no setor das tecnologias de informação. Aqui destacam-se também áreas como o setor do turismo, da energia, da educação ou das fintechs: todos “setores com grande potencial a nível mundial”, nas palavras de Gabriel Coimbra.
A nível geográfico, o estudo permite constatar que a aposta nas startups não é apenas um fenómeno exclusivamente concentrado nos polos de Lisboa e Porto, acontecendo de norte a sul, sem esquecer as ilhas, o que “perspetiva um desenvolvimento sustentável do ecossistema nos próximos anos”, afirma o responsável.
O ecossistema de startups portuguesas já está a dar frutos, espelhando o crescimento deste mercado nos últimos anos. “Hoje já temos quatro «unicórnios» entre as nossas startups”, a Farfetch, a Outsystems, a Talkdesk e a Feedzai, e há “várias scaleups a aproximarem-se dessa marca”, sublinha Gabriel Coimbra.
Olhando para os principais pilares do ecossistema destacam-se questões como o facto de haver em Portugal um grande desenvolvimento em matéria de transição digital da administração pública e do setor privado, assim como um grande número de incubadoras e aceleradoras de startups.
A nível de políticas, regulação e incentivos deste mercado, “Portugal é um dos países com políticas mais abertas ao investimento internacional”, enfatiza Gabriel Coimbra, acrescentando que há também uma ênfase no desenvolvimento de “políticas específicas para startups” que “ajudam os empreendedores a acelerar os seus negócios”.
A questão do talento é fundamental no desenvolvimento de qualquer ecossistema empreendedor e Portugal está bem posicionado neste âmbito: primando pelo número de estudantes formados nas áreas de ciências e tecnologias, pelas suas instituições de ensino superior, assim como pelo investimento na área de R&D por parte das organizações.
As grandes empresas, sejam elas nacionais ou internacionais estão também a investir nas startups. Portugal está no “radar” das multinacionais, permitindo criar condições para o desenvolvimento dos projetos empreendedores, algumas das quais participaram também no painel Why Portugal: Internacionalização e captação de investimento, na primeira manhã da conferência.
Não menos importante é o pilar do capital, com o Venture Capital a representar a maior parte do investimento. No que respeita ao ecossistema europeu, há um valor de 41 mil milhões. Embora ainda “estejamos atrás de ecossistemas como o dos Estados Unidos ou da China em vários aspetos, temos vindo a fazer um caminho de crescimento e há uma série de setores que recebem um grande investimento por parte de Venture Capital na Europa”, explica o responsável.
Em termos absolutos, Portugal encontra-se a meio da tabela, mas, desde 2018 que é possível verificar que o valor de Venture Capital mais do que triplicou, o que significa “um crescimento bastante significativo nos próximos anos”.
Em linha com Gabriel Coimbra, Simon Schaffer, presidente da associação Startup Portugal, indica que o ecossistema de empreendedorismo no país cresceu significativamente ao longo dos últimos cinco anos, com o investimento em startups a atingir os 436 mil milhões euros em 2020. Quase 80% tem origem em investidores estrangeiros. A economia das startups tem uma contribuição de quase 1,1% para o PIB de Portugal.
Mas o que reservam os próximos três anos? Simon Schaffer afirma que há a ambição de chegar à marca de mil milhões de euros a nível de investimento, de passar a ter cinco mil startups em incubação e de ter uma contribuição de 2,2% para o PIB português.
Portugal na “linha da frente” como sede europeia do empreendedorismo
A 19 de março, durante o Digital Day 2021, foram assinadas quatro declarações conjuntas, alinhadas com as metas europeias para o digital, incluindo o standard europeu para as nações empreendedoras.
O foco está na carta de princípios para as "Startup nations", com Portugal a conseguir atrair uma estrutura fixa que vai estar ligada ao desenvolvimento das startups na Europa. A estrutura, conhecida como a Aliança das Nações Europeias para o Empreendedorismo (ESNA) , vai ter sede em Portugal e a constituição formal deverá estar concluída ainda este ano.
A Startup Nation Standards" afirma-se assim como uma norma para apoiar o empreendedorismo, e materializa uma declaração que pretende reunir políticas, com o objetivo de harmonizar o ecossistema de startups europeias e reforçá-los através de vários tipos de apoio.
Trazer a Europa para a “linha da frente” do ecossistema global de startups e fazer de Portugal a sede europeia do empreendedorismo são dois grandes objetivos, afirma o secretário de Estado André de Aragão Azevedo para a transição digital.
O secretário de Estado afirma que é necessário preciso percebermos qual é a dinâmica portuguesa e da União Europeia de modo a “identificar pontos de melhoria para que possamos continuar a evoluir”.
Relembrando as palavras de Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, André de Aragão Azevedo indica que a Europa tem de chegar a uma conclusão e perceber se quer ser apenas o “playground” de outras regiões ou se quer assumir o papel de líder digital.
É verdade que há uma evolução positiva, mas esta fica aquém de outras “Startup Nations”. De modo geral, a Europa está a perder em três linhas: o número de startups por milhão de habitantes, de postos de trabalho gerados pelo seu ecossistema e de valor global do mesmo per capita, o qual é apenas um décimo do que o que representa o dos Estados Unidos.
Há ainda outro aspeto em falta e que é essencial na “receita” para o sucesso: nos restantes ecossistemas há uma entidade responsável por promover o empreendedorismo. O mesmo não se aplica no caso europeu e o secretário de Estado sublinha que há uma excessiva fragmentação deste ecossistema, o que faz com que as startups tenham muito mais dificuldade em prosperar.
Aumentar o nível de competitividade do ecossistema é fundamental e, além da importância da ESNA dos "Startup Nation Standards", André de Aragão Azevedo indica que a nova “bússola” apresentada pela Comissão Europeia no início de março delineia passos importantes para atingir dessa meta.
Já Gerard de Graaf, diretor geral da DG Connect, defendeu que a ESNA desempenhará um papel determinante no processo de melhoria do ecossistema de empreendedorismo europeu, permitindo desenvolver uma estrutura que dará às startups a oportunidade de prosperarem e explorar todo o potencial europeu disponível.
O responsável indica que para conseguir alcançar todos os objetivos propostos é necessário um forte empenho político, algo que ficou patente a 19 de março com a visão da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
“Esperamos que a ESNA evolua e se torne no impulsionador de startups e num repositório de boas práticas”, afirma Gerard de Graaf, relembrando que sem estas empresas e sem uma aposta sólida no espírito empreendedor europeu, a União Europeia não conseguirá afirmar-se como líder no panorama mundial.
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