No dia em que a Apple veio publicamente negar as acusações de práticas anti-concorrenciais por concertação de preços dos ebooks, um analista da Gartner publica uma análise à situação em que traça três cenários possíveis para as repercussões deste caso no mercado dos livros digitais.

Na passada quarta-feira o Departamento de Justiça (DoJ) norte-americano anunciou que tinha encontrado fundamentos para fazer o caso seguir para tribunal. Em resposta, três das editoras acusadas propuseram um acordo e mostraram-se disponíveis para compensar os clientes pela diferença entre os preços cobrados - alegadamente fixados acima do que seria devido, por acordo das empresas. Mas a fabricante do iPad continua a sustentar que aquilo que faz é potenciar a concorrência no mercado dos ebooks e não prejudicá-la.

"O lançamento da iBookstore em 2010 promoveu a inovação e a concorrência, contrariando a o controlo monopolista da Amazon" da indústria editorial, afirmou um porta-voz da Apple, citado pela CNN esta manhã.

As afirmações vão ao encontro de um dos cenários traçados por um analista da Gartner que ontem publicou um artigo sobre as possíveis repercussões deste caso, e da decisão das autoridades americanas, no mercado (norte-americano) de ebooks.

E a avaliar pelas reflexões de Jack Santos, não é dado assente que a condenação das empresas envolvidas seja o mais favorável para os consumidores e o equilíbrio do mercado. Concorde-se, ou não, com a visão proposta, não deixa de valer a pena ficar a conhecer os argumentos.

O especialista descreve três cenários possíveis. Num deles a Amazon, que atualmente detém mais de 60% do mercado de ebooks, acaba com a concorrência da Apple e da Barnes & Noble - e monopoliza o mercado de impressão self-service (onde já conta com um serviço que permite aos autores imprimirem, a pedido, o número de exemplares que entenderem das suas obras publicadas digitalmente pela gigante).

Como consequência, as livrarias começariam a fechar porque os consumidores migram para os preços significativamente mais baixos dos ebooks - cuja utilização tem apenas como contrapartida um investimento inicial abaixo de 100 dólares, correspondente ao Kindle.

A leitura de livros em papel tornar-se-ia obsoleta, continuando a existir um mercado para ela, mas pequeno e deslocado. A Amazon ficaria assim a dominar, com uma quota de cerca de 90% do novo mercado de livros (eletrónicos) e os preços cairiam para os 5 a 10 dólares por obra, mas lentamente voltariam a subir para a fasquia dos 10 a 15 dólares, devido à posição dominante entretanto conseguida - o que aconteceria em cerca de 5 anos, estima.

O segundo cenário é aquele em que tanto a Amazon como a Apple conseguem aumentar a sua quota de mercado e assiste-se ao surgimento de um duopólio. Tal deverá implicar também um encerramento das livrarias físicas, ou pelo menos a sua transformação em lojas superespecializadas, defende o analista.

No terceiro cenário proposto por Jack Santos, marcas como a Google, Facebook, Microsoft ou a Zynga acabam por "saltar" também para este mercado, propondo novas funcionalidades, superando a Amazon e a Apple em inovação. As livrarias especializam-se em proporcionar experiências diferenciadoras (como encontros com autores, grupos de leitura e outras), que tanto podem ser virtuais como presenciais.

Neste cenário, os distribuidores passariam também a recorrer a técnicas como a oferta de preços mais favoráveis para "membros", ou procurariam captar lucros recorrendo a programas de fidelização dos clientes, tornando o acesso aos livros melhor e mais abrangente para o leitor comum e criando mais oportunidades de colaboração e sinergias, fomentando o aparecimento de novas ideias e a inovação.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Joana M. Fernandes