O Mobile World Congress (MWC) é uma das principais feiras de tecnologia, e com foco na mobilidade, e por isso mesmo acaba por ser um ponto de presença obrigatório para as empesas portuguesas neste sector. Com visitas e muitas reuniões marcadas, ou com espaço de exposição, este ano a comitiva portuguesa conta com repetentes mas também estreias.

Na área de startups o número é recorde, com 18 empresas apoiadas pela Startup Portugal através do programa Business Abroad. Marcam presença no 4YFN, a área de empreendedorismo e startups na conferência de Barcelona, que acompanha o MWC entre 3 e 6 de março.

Entre soluções que tiram partido da Inteligência Artificial, health tech, fintech, sustentabilidade ou realidade virtual e aumentada, as startups portuguesas que estão no 4YFN têm já um nível de maturidade assinalável, com mais de 10 anos de experiência. Já levantaram, no total, cerca de 10 milhões de euros, e empregam mais de 250 pessoas. Em 2024 faturaram mais de 8 milhões de euros e o SAPO TEK falou com algumas para perceber as suas propostas e a apreciação da presença em Barcelona.

"É a segunda edição do MWC em que participamos e o que se sente é que este mercado é verdadeiramente internacional, mas permite explorar muito a zona da Catalunha, que é muito forte em áreas de medtech, com a saúde, a indústria e smart cities" explica António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal. A participação é feita no âmbito do programa Business Abroad e é "um bom complemento com o que já fazemos com o South Summit em Madrid".

Em entrevista ao SAPO TEK, o diretor executivo da Startup Portugal adianta que as  18 startups "foram escolhidas entre muitas candidatas pela sua capacidade de abordarem o tema internacional com alguma confiança e estrutura" e que a missão é articulada com a AICEP e o consolado de Barcelona. "É um esforço com todas as entidades para colocar Portugal no mapa e puxar pelo empreendedorismo português".

"Mais do que vir uma primeira vez estudar o mercado - o que se consegue remotamente - aqui estamos a falar de fechar contratos, e criar condições de negócio para fazer algo acontecer", sublinha António Dias Martins

No terceiro dia da feira a apreciação é positiva, do lado da Startup Portugal e das empresas expositoras, mas os balanços têm de ser feitos mais tarde. "Os contactos feitos parecem-me muito interessantes, não só com incubadoras locais mas também aceleradoras internacionais",  explica, adiantando que ainda no dia anterior tinha decorrido uma reunião com a aceleradora Plug and Play que está na Catalunha com 200 colaboradores.

Startup Portugal no MWC25
Startup Portugal no MWC25

Acelerar o diagnóstico do cancro da mama e os agentes de IA "personalizados"

A BreastScreening-AI foi fundada em 2023 mas está assente em investigação que foi desenvolvida para teses académicas e tira partido da IA e imagem multimodal para localizar a lesão do cancro da mama de forma mais precisa, reduzindo o erro de diagnóstico em cerca de 26% e conseguindo o ser quatro vezes mais rápido do que o método tradicional, o que pode poupar cerca de 40 milhões de euros por ano ao sistema nacional de saúde, como explicou ao SAPO TEK Francisco Maria Calisto, CEO e fundador da empresa.

A startup está em fase seed e está a fazer o levantamento de uma ronda de investimento. "Isto é um projeto com risco mas estamos à procura de mitigar o risco de investidores com a ajuda de instrumentos como o Portugal 2030", adianta.

Entretanto continua a trabalhar com médicos e investigadores no desenvolvimento do modelo e da ferramenta de IA para processar a informação de uma forma unificada e mais compreensível, tornando-se um instrumento para os médicos.  Já tem alguns pré pilotos prontos e agora está a fazer os pilotos, que têm um formalismo maior para preparar o projeto protótipo.

A Inteligência Artificial está também no centro da estratégia da GetVocal AI que está a desbravar caminho no mundo dos agentes de inteligência artificial com foco na personalização e controle das interações. João Madeira, responsável de vendas da empresa, explica ao SAPO TEK que os agentes podem dar resposta em várias áreas e que para os suportar foi criado um modelo proprietário para criar um gráfico conversacional que mostra todas as possibilidade de conversa e que garante controlo, qualidade e melhoria contínua.

"Estamos prontos para trabalhar com as empresas que mais precisam de proteção de dados, como os bancos ou seguros, entre outras", detalha João Madeira.

O mapa conversacional é criado automaticamente depois de ser alimentado com informação da empresa, um processo que está mais afinado depois da GetVocal AI ter aplicado em I&D os valores da última ronda de investimento. Depois é tudo validado passo a passo e há uma análise de sentimento e de perda de chamada em determinados passos, sempre em melhoria contínua. "95% das empresas que dizem que criam agentes é muito baseado em LLM e apenas uma pequena percentagem faz o que estamos a fazer", destaca.

Já tem casos de utilização com a Glovo e com a PowerDot, mas João Madeira admite que Portugal é um mercado mais difícil do que o resto da Europa, e que apesar de se falar muito em IA, ainda não está a ser muito adotada.  A nível internacional está a trabalhar com o Governo dos Países Baixos com um agente de resposta na linha da segurança social para famílias carenciadas, enquanto na Alemanha está a ser usada no apoio à obtenção de subsídio de desemprego.

Startup Portugal no MWC25
Startup Portugal no MWC25

Seguros à medida e uma plataforma de emprego não tecnológico para startups tecnológicas

A Indie Seguros é uma das 18 startups portuguesas no 4YFN e João Teixeira Fernandes, CEO da empresa, explicou ao SAPO TEK que o modelo passa por trabalhar com as seguradoras para adaptar os seguros tradicionais que já têm à realidade da economia de plataformas, com proteção à tarefa ou ao minuto. Como exemplo usa o caso de um enfermeiro que vai fazer um turno num hospital e que tem um seguro específico para essa situação, ou o seguro para os proprietários nas intervenções do serviço de limpeza em casa da plataforma Óscar.

Já veterano no empreendedorismo, João Teixeira Fernandes explica que decidiram que só cresciam com todas as variáveis já trabalhadas e nesta fase tem os testes todos feitos e estão a trabalhar com várias seguradoras em Espanha e Portugal, e agora querem avançar com a criação de equipa e acelerar a operação.

Também recente é o marketplace ambi.careers, que foi lançado há três semanas. A empresa foi apoiada nesta comitiva mas não tinha um espaço de exposição físico, como explicou Leo Capelossi, que adianta que é a única empresa de recrutamento no mercado de tecnologia que se foca nas posições não tecnológicas. A experiência anterior nesta área permitiu identificar a necessidade que as startups e scallups têm de recrutar perfis não técnicos, como pessoal de vendas, marketing e recursos humanos, e é ai que a ambi.careers entra.

"Abrimos primeiro uma consultora focada em recrutar perfis não técnicos. E acabámos de lançar, há 3 semanas, um marketplace em que as pessoas não técnicas se registam", detalha, dizendo que já conta com mais de 3 mil candidatos mas que "é ainda o início".

A startup tem uma ligação próxima com o mercado espanhol, sendo incubada em Valência,  e a ideia é "fortalecer a ligação com os fundos portugueses e a Startup Portugal".

O SAPO TEK está a acompanhar o MWC25 que decorre em Barcelona de 3 a 6 de março, siga todas as novidades e anúncios mais relevantes com o nosso especial.

Veja as imagens captadas pela equipa do TEK do Mobile World Congress