DeepSeek: a startup chinesa que está a “assustar” o universo da inteligência artificial  

A capacidade da DeepSeek para reduzir custos e gerar mais eficiência está a redefinir as regras do jogo da IA. A longo prazo, o impacto da startup chinesa pode ser revolucionário, tanto para o mercado como para o acesso global a tecnologias de inteligência artificial.

DeepSeek

Há uma startup chinesa que a abalar o sector da inteligência artificial (IA) e os mercados financeiros globais. Com modelos inovadores e de baixo custo, a DeepSeek está a desafiar gigantes como Nvidia, OpenAI, Google e Meta, gerando reações diversas nos mercados e colocando em questão a narrativa otimista em torno da IA.

Fundada em 2023 por Liang Wenfeng, a DeepSeek usa técnicas inovadoras como aprendizagem por reforço e arquiteturas eficientes, incluindo a ativação seletiva de parâmetros (MoE, Mixture of Experts).

A DeepSeek tem partilhado no X alguns dados sobre o seu modelo de IA. Clique nas imagens da galeria para mais detalhes.

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Estes métodos permitem treinar modelos a custos muito reduzidos, comparativamente aos seus concorrentes. Por exemplo, o modelo DeepSeek-V3, lançado recentemente, foi treinado por cerca de 6 milhões de dólares, em contraste com os habituais 100 milhões ou mais, escreve a Forbes no artigo  "All About DeepSeek" .

Além disso, a empresa adota uma abordagem open source, permitindo que os seus modelos sejam usados e adaptados livremente por comunidades de desenvolvimento. Esta estratégia contribui para a democratização do acesso à IA, ao mesmo tempo que coloca pressão sobre os preços praticados por empresas rivais.

A reação nos mercados de todo o mundo foi imediata. Segundo reporta a Reuters, as ações tecnológicas registaram quedas acentuadas na segunda-feira, após o lançamento do modelo mais recente da DeepSeek. Nos EUA, o Nasdaq caiu 3% e o S&P 500 recuou 2%. A Nvidia liderou as perdas, com uma descida de 8,4%, enquanto Microsoft, Meta e Alphabet também desvalorizaram mais de 3%.

Na Europa, o sector tecnológico caiu 5%, com a ASML a recuar 9,4%, enquanto no Japão, empresas como a SoftBank registaram perdas superiores a 8%, e o índice Nikkei caiu 1%.

Este abalo reflete a perceção de que os custos de treino de IA mais baixos podem alterar as dinâmicas de mercado, reduzindo a dependência de chips de alto desempenho, como os fabricados pela Nvidia.

A Reuters cita um conjunto de especialistas, como Jon Withaar, gestor de portfólio da Pictet Asset Management, que destacou que a redução de custos beneficia os utilizadores finais, mas representa um desafio a curto prazo para empresas como a Nvidia, cujas avaliações estavam elevadas. Por outro lado, Daniel Tan, da Grasshopper Asset Management, referiu que os mercados estão a reagir às elevadas avaliações de algumas empresas tecnológicas, enquanto Richard Clode, da Janus Henderson Investors, elogiou a inovação da DeepSeek, mas levantou questões sobre a viabilidade de monetizar modelos open source.

Para George Lagarias, da Forvis Mazars, este movimento é um "choque de realidade" para um mercado "muito otimista". Já Alexandr Wang, CEO da Scale AI, descreveu a DeepSeek como um "alerta para os EUA" e sublinhou a necessidade de inovação americana para manter a liderança global em IA.

Apesar do seu sucesso, estes e outros especialistas apontam que a startup chinesa enfrenta desafios significativos. Restrições à exportação de chips dos EUA limitam o acesso da empresa a hardware de ponta. Além disso, questões relacionadas com censura e a perceção global da marca podem dificultar a sua expansão internacional.

Ainda assim, consideram que a capacidade da DeepSeek para reduzir custos e promover a eficiência na IA está a redefinir as regras do jogo, incentivando mais competição e inovação.