Está a decorrer no Dubai dois eventos paralelos sobre tecnologia e investimento, mas debaixo da mesma “umbrela” do Gitex Global. No Expand North Star, evento mais focado na parte de negócio, o SAPO TEK foi à procura das startups portuguesas que marcaram a estreia de Portugal no evento do Dubai. A Fábrica de Unicórnios de Lisboa levou sete startups e o Instituto Pedro Nunes contou com duas em áreas bastante distintas.
Segundo Gil Azevedo, CEO da Fábrica de Unicórnios de Lisboa, os eventos são destinados a investidores e startups, os maiores realizados no Médio Oriente. “Na Fábrica de Unicórnios de Lisboa temos como grande objetivo de apoiar as nossas startups, a expandirem-se globalmente e estarmos aqui presentes a ajudar a entrar no mercado asiático, aqui no Médio Oriente em particular”.
Aponta ainda três grandes objetivos com esta visita: além de estabelecer a ponte de inovação portuguesa para este mercado para as suas startups. “A nível de investimento, este mercado está entre o top 3 global”, destacando o fundo de investimento anunciado pela Arábia Saudita no ano passado, “com muitos biliões de dólares”. Para o B2B, o mercado do Médio Oriente é muito atrativo, por haver muito investimento em tecnologia. “E mesmo para o segmento B2C, o mercado de consumo da Índia está mesmo aqui ao lado”.
O segundo objetivo da comitiva é estabelecer parcerias, afirmando que já se está a falar com organizações líderes no Médio Oriente para apoiarem as startups portuguesas no processo de expansão. Mas o inverso é igualmente válido, servir de porta de entrada de startups locais ao mercado europeu. Esse foi um dos pontos de conversa de um breve encontro entre as startups com o ministro da Inteligência Artificial e Transformação Digital dos Emiratos Árabes Unidos, H.E. Omar Sultan Al Olama, que o SAPO TEK presenciou.
Veja na galeria imagens das startups portuguesas no Expand North Star:
Por fim, o objetivo de dar a conhecer Portugal ao Médio Oriente. “Portugal, como destino de inovação já é bastante conhecido na Europa e Estados Unidos, mas no Médio Oriente, que como referi, está a haver um investimento muito forte, ainda não somos muito conhecidos”. Gil Azevedo aponta que é necessário ter a capacidade de explicar as nossas valências, incluindo termos sido a capital europeia de inovação da União Europeia é um ótimo carimbo que estamos aqui a mostrar e as sete startups que temos connosco têm soluções muito inovadoras.
Gil Azevedo aponta duas parcerias muito avançadas que espera fechar até ao final da feira e que serão anunciadas formalmente durante o Web Summit. Apesar de não poder avançar os nomes, aponta que são duas maiores organizações dos Emirados Árabes Unidos para inovação.
José Rodrigues, do Instituto Pedro Nunes, explicou a presença no evento apontando que deve estar onde existe mercado e onde as suas empresas têm de encontrar mercado para se desenvolverem. “Portugal é um mercado pequeno, como sabemos, e portanto, uma das principais áreas onde tentamos incutir às empresas e startups com quem trabalhamos é esta procura de novos mercados”. Refere que o Dubai e toda esta área é um mercado muito importante para que possam se desenvolver.
O IPN tem como principal missão e estratégia criar e dar condições às startups para que possam desenvolver o seu produto e comercializá-los. O Instituto foi convidado para estar presente no evento, levando duas startups, uma ligada à cibersegurança, outra que consegue detetar falhas em sistemas de fornecimento de água através da rede de fibra ótica, a Fibersight e a Rootkey, respetivamente.
Veja na galeria imagens do Expand North Star:
Sobre as expetativas e objetivos para o Gitex Global, José Rodrigues aponta que a procura de parceiros para que as suas startups se possam estabelecer no Dubai. Ambas já têm alguns contactos e andam à procura de financiamento e oportunidades. Quanto ao IPN, a procura de parcerias é o seu principal objetivo, considerando que o mercado de Portugal não é suficiente para desenvolver novos projetos e ideias. “Temos objetivos ligados a inteligência artificial, robótica, assim como nas áreas da saúde, tendo sido anunciado há dias a criação de uma incubadora dentro dos hospitais da Universidade de Coimbra com o selo do Instituto Pedro Nunes, e por isso aquilo que procuramos são mercados e parcerias com ligações a universidades e empresas para que consigamos alavancar o conhecimento para chegar às empresas”.
Startups portuguesas à procura de financiamento
Para conhecer na primeira pessoa os projetos das startups incubadas em Portugal, o SAPO TEK palmilhou os pavilhões do Expand North Star. A primeira proposta foi a MeetGeek, uma ferramenta de automatização de videoconferências, que permite gravar, transcrever e fazer sumários dos principais tópicos de cada reunião online. Carol Miranda, head of sales, explica que a ferramenta integra outras plataformas online, como o Zoom, Teams, Google Meet, assim como outras reuniões presenciais no escritório, tomando as notas para depois criar as tarefas que o utilizador necessitar.
A tecnologia também envia relatórios daquilo que precisa de melhorar, o que foi bom na chamada, se os intervenientes foram pontuais na chamada, todo um resumo completo. A startup, que tem origem na Roménia, mas está incubada na Fábrica de Unicórnios de Lisboa, procura agora a expansão, tendo alguns clientes no Dubai com a localização da plataforma. É explicado que este tipo de ferramentas é bastante necessário nesta região devido às barreiras impostas pelo Governo.
A plataforma tem um plano gratuito até cinco horas de gravações, mas depois tem uma subscrição paga para quem deseja continuar a utilizar o serviço.
A Breathing.ai tem uma tecnologia de inteligência artificial com capacidade de bioadaptação ao utilizador patenteada. O CEO da startup, Hannes Bend, explica que o seu produto empresarial que ajuda a melhorar a produtividade, a saúde dos funcionários e dá alertas do tempo frente ao ecrã. O sistema pode ser integrado em qualquer computador e na demonstração que nos foi feita, estava disponível como extensão para o browser (suporta os principais no mercado).
Os utilizadores recebem notificações de saúde, correção de posição, mas também adapta o brilho e as cores do ecrã mediante a leitura que faz dos sintomas de cansaço do utilizador. À semelhança de um smartwatch, o modelo de IA consegue mostrar os batimentos cardíacos do utilizador, mas neste caso através da webcam. Se o sistema detetar que o utilizador está demasiado tempo à frente do ecrã, surge um alerta para dizer para fazer exercícios de respiração e beber água. A aplicação deteta quando o utilizador está mais stressado e tenta ajudar, de forma personalizada.
A plataforma da iTRecruter pretende introduzir no mercado uma nova experiência de recrutamento e seleção de talento de profissionais de tecnologia, através de inteligência artificial. Rosane Marques explicou ao SAPO TEK que o sistema não tem qualquer preconceito em relação aos candidatos e as seleções são apenas focadas na competência. O sistema permite recrutar profissionais em qualquer lugar do mundo.
As empresas colocam os requerimentos na plataforma, baseado em ChatGPT, define a cidade no mundo e IA identifica a pessoa com um “match” de percentagem. A partir daqui começa todo o processo, sendo o mesmo para um profissional que coloque o seu currículo na plataforma, a IA lê o mesmo e faz o “match”. A IA é apenas um dos pilares da plataforma da empresa, pois adiciona-lhe “o toque humano que tem de existir, porque a IA dá uma ajuda, mas o contacto é essencial para o crescimento da comunidade”.
A ferramenta consegue entregar aos seus clientes o melhor talento, com maior agilidade e assertividade. Para quem procura emprego, através da plataforma pode encontrar as oportunidades disponíveis. Depois de inserir o currículo, a IA faz a correspondência para as oportunidades que estão abertas. E caso não haja nenhuma oportunidade, o sistema mantém o registo e alerta para uma próxima vez. O sistema conta atualmente com mais de 55 mil talentos na base de dados e vai mantendo um cruzamento constante com as empresas com cargos que vão sendo disponibilizados. As redes sociais, como o LinkedIn são igualmente uma base de leitura que alimenta o sistema.
A empresa trabalha assente num sistema de “taxa de sucesso”, ou seja, apenas cobra quando o profissional é recrutado através da sua plataforma. Os profissionais não pagam nada no processo. Atualmente, a plataforma já encontrou emprego a 100 profissionais, na sua curta existência e já obteve 7 dígitos de euros em faturação, aponta Rosane Marques.
A solução da Bettersea pretende ajudar as embarcações a cumprirem os regulamentos e a burocracia no que diz respeito à descarbonização marítima nas operações dos navios. A startup ajuda ao cumprimento do regulamento, de forma a reduzir os respetivos custos. Segundo Maximilian Schroer, CEO da startup alemã incubada em Lisboa, a implementação do seu software nas empresas ajuda a simular as melhores formas de agir no futuro. Também implementa as ferramentas do novo mercado de carbono, de forma a poder manter-se dentro das regras.
Fundada em 2021, a FiberSight procura introduzir no mercado novas soluções de inteligência avançada através de sensores na fibra ótica das telecomunicações que chegam a casa das pessoas. A sua tecnologia monitoriza a temperatura e a humidade a quilómetros de distância, com a precisão de um metro, explicou Tiago Neves, CEO da startup. Entre as diferentes aplicações, o destaque vai para as fugas de água. “Em Portugal perdemos mais de 30% da água que injetamos na rede, que é um valor absurdo. E com a nossa tecnologia conseguimos saber, metro a metro, onde está a fuga de água”.
O mercado da agricultura também pode beneficiar desta solução, dando aos agricultores a informação, com precisão, qual a árvore ou planta que necessitam ser regadas, não apenas reduzindo os custos da água e melhorando a produção. Também a construção civil pode melhorar a deteção de pontos de infiltração em grandes estruturas, pontos onde o betão começa a ceder e a dar problemas.
Tiago Neves diz que o mercado público ainda não compensa, porque as entidades governamentais não têm grande interesse em resolver as fugas de água. Mas no mercado privado, a água corresponde a uma grande despesa na fatura e com a sua solução pode poupar bastante. Empresas de construção, que fazem instalações de canalização, jardins botânicos, entre outros.
No Dubai procura clientes que realmente necessitam da sua solução, sendo uma região onde a água é preciosa, para aquilo que é preciso e a sua capacidade de produção. “Estamos a tentar perceber como um país que precisa de muita água e tem capacidade de investimento vai aderir à nossa tecnologia”. De salientar ainda que a startup portuguesa é uma das 20 finalistas do prémio Supernova Challenge Pitch Competition, entre 1.000 candidatos, tendo sido selecionada para a final, a realizar-se no dia 16 de outubro.
Presente também no evento está a Rootkey, uma startup cocriada pelo white hacker português Gonçalo Gil. O seu objetivo é oferecer soluções de segurança digital, com foco na salvaguarda da integridade dos dados, a sua prorpiedade e validação através de tecnologias de blockchain. Gonçalo Gil competiu em programas de hacking a nível nacional e internacional, tendo atingindo algumas posições interessantes, explicou ao SAPO TEK.
Qualquer empresa pode utilizar o seu software para garantir a integridade dos dados e que a informação continua válida seja na Web3 como na Web2. A proteção dos cartões de cidadão ou qualquer outro documento importante beneficiam das soluções da empresa que também pertence ao sistema de redes de inovação da Casa da Moeda. A industria da energia e das telecomunicações são algumas das áreas onde a startup já tem parceiros, e também resíduos e baterias.
Com dois anos de existência, Gonçalo Gil diz que começou a ganhar tração este ano. A plataforma conta com 40 clientes e uma média de 60 mil documentos guardados por mês no seu sistema, segundo dados da última semana.
Por fim, o SAPO TEK encontrou a EdgenAI, uma solução de IA generativa privada. Os seus clientes instalam uma espécie de ChatGPT, mas extremamente privado, dando-lhes a confiança de colocar dados altamente confidenciais para serem processados por inteligência artificial. O seu modelo é baseado no Llama 3.1 da Meta.
Indústrias como bancos e outras do sistema financeiro, que dependem da confidencialidade de dados, seguradoras, escritórios de advogados, sector público, entre outras áreas em que os documentos não podem ser vítimas de fuga de dados, poderá utilizar a solução da EdgenAI.
Nota de redação: O SAPO TEK deslocou-se ao Gitex Global a convite da organização.
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