A falta de investimento europeu no seu próprio ecossistema de startups está a fazer com que a maioria dos unicórnios que nascem na região acabem por se fixar nos Estados Unidos. O alerta é da APCRI - Associação Portuguesa de Capital de Risco, que sublinha as conclusões apuradas pela Atomico, num estudo publicado no início do mês, para pedir medidas que alterem a situação e para destacar o papel fundamental do Venture Capital nesta equação.
Mais de 60% do capital investido em tecnológicas europeias entre 2016 e 2020 ainda veio de fora da Europa, sendo que a maioria é americano, sinal claro para a associação que os investidores europeus apostam pouco nos fundos de Venture Capital, mesmo que os níveis de rentabilidade destes fundos seja muito superior aos de outros investimentos, como ações, obrigações, etc.
Os mesmos dados mostram que os investidores europeus só dominam as rondas de capital até aos dois milhões de dólares, ou que há 140 mil startups na Europa, mas só 74 receberam investimentos superiores a 250 milhões de dólares.
Para a APCRI o problema não é de falta de capital, mas de escolha, por parte de quem investe. “Não é que não exista suficiente capital privado na Europa, ou mesmo em Portugal, para mudar esta situação e fazer crescer os fundos de Venture Capital: a questão é que o capital não é colocado nesta classe de ativos, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos”, destaca Stephan Morais, da direção da APCRI e líder do Indico Capital Partners.
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“As startups europeias desenvolvidas por fundos privados de Venture Capital – entre elas, os unicórnios – são uma boa classe de ativos, com rentabilidades muito superiores a outros investimentos”, acrescenta o responsável, exemplificando com a realidade portuguesa.
“Os unicórnios nascem em Portugal, empregam pessoas em Portugal, contribuem para a segurança social e para a economia portuguesa, mas vão quase todos sedear-se nos Estados Unidos e animar o seu mercado de capitais, em vez de o fazerem deste lado Atlântico”. Em Portugal é a base de sete unicórnios, mas só a Feedzai mantém a sede no país.
Ultrapassar a desconfiança dos investidores europeus relativamente a estes ativos passa por reforçar o papel pedagógico do Venture Capital, que deve fazer circular mais informação objetiva sobre a sua proposta de valor, acredita a APCRI, mas também exige medidas dos Governos. A associação pede novas políticas de incentivo ao investimento em fundos privados e independentes de Venture Capital, que ajudem a acelerar o surgimento de unicórnios na Europa, removendo obstáculos regulatórios. Uma das regras em vigor criticada pela associação é o facto de em alguns casos o investimento nesta classe de ativos ser contabilizado como capital perdido, desincentivando ou retraindo investidores.
A APRI apresentou em novembro passado ao Governo o estudo “Análise da Indústria do Capital de Risco em Portugal’ e foi convidada a participar em grupos de trabalho do Ministério da Economia para pensar novas soluções para aumentar a capitalização das startups, nomeadamente através das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência – PRR e do Portugal 2020-2030, revelou também a associação.
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