A empresa portuguesa iServices já chegou ao marco de 50 lojas espalhadas pelo país e começou a expansão internacional em maio de 2022 com a inauguração da sucursal em Tenerife, no arquipélago das Canárias em Espanha. Nos próximos meses, começando ainda em setembro e outubro, a empresa vai continuar a sua estratégia de expansão com a inauguração de quatro lojas em Bruxelas e duas em Paris.

A empresa pretende manter o mesmo conceito praticado em Portugal, escolhendo zonas de grande afluência de público nas capitais de França e Bélgica, junto ao metro e comboios e até perto do Parlamento Europeu em Bruxelas.

Em entrevista ao SAPO TEK, Bruno Borges, CEO da iServices, salienta que a empresa se divide em três áreas principais de negócio. A primeira, e que é a base da sua existência são as reparações na hora, sobretudo de smartphones. A iServices faz atualmente 35 mil reparações por mês. A segunda fonte de negócio é a venda de smartphones recondicionados, sobretudo modelos iPhone, Samsung, Apple Watches e iPads. São vendidas cerca de 6.000 unidades por mês, sendo que 90% são smartphones.

Lojas da iServices em Tenerife
créditos: iServices

Marca IS oferece produtos selecionados aos seus clientes

Por fim, a terceira área de negócio são os produtos próprios, através da sua marca IS, com cerca de 1.270 artigos disponíveis, desde power banks a colunas de som, auriculares, mochilas, carteiras e outros. Esta marca já existe há cerca de seis ou sete anos e começou pela vontade de oferecer aos seus clientes algo exclusivo para além dos equipamentos recondicionados. Atualmente, este segmento do negócio já representa uma faturação anual de 6 milhões de euros.

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Bruno Borges explicou que começou a procurar nos eventos internacionais que visita (como recentemente a IFA), os produtos e marcas que fossem exímios dentro dos seus critérios de escolha e não existissem em Portugal, mas descobriu que a maioria eram absorvidos pelos grandes retalhistas e não garantiam exclusividade para a iServices. Foi assim que a marca começou a produzir os seus primeiros equipamentos, power banks com os logotipos dos principais clubes de futebol portugueses. A experiência foi boa e a empresa começou a expandir a produção de mais equipamentos.

A primeira loja internacional da iServices foi aberta em Tenerife:

A marca IS, que são as iniciais de iServices, surge pela dificuldade em cunhar a palavra completa em equipamentos muito pequenos. No dia 21 de setembro a empresa vai realizar o seu primeiro evento totalmente dedicado à sua submarca, que se espera anual, em Sintra, com uma exposição e demonstração de produtos.

A empresa tem novos gadgets para lançar no mercado, incluindo difusores de aromas, vasos inteligentes para mini hortas, mas também novos power banks com ecrã, garrafas térmicas inteligentes, capas personalizadas e outros.

“É sobretudo um evento para nos alertar da marca, no elevar a fasquia para melhorar os produtos e respetivas embalagens”. O evento vai contar com uma exposição de fotografias sobre a evolução e história da IS, onde vão ser inclusivamente mostrados as decisões nem sempre acertadas ou as escolhas de determinadas tecnologias.

Explicando a origem dos seus produtos, Bruno Borges diz que a empresa desenvolve parte dos mesmos, sobretudo o software totalmente português. A iServices tem um departamento de TI com 11 pessoas a desenvolver aplicações mobile há 12 anos, “praticamente desde o início da Apple Store”.

Quando sobra tempo à equipa “que é pouco”, a empresa também produz software para parceiros externos, nas áreas da farmacêutica, banca ou desporto. Dá como exemplo a aplicação Corporate do SL Benfica que foi desenvolvida pela iServices.

Lojas da iServices em Tenerife
créditos: iServices

Quanto à grande maioria dos produtos, a empresa tem um escritório em Shenzhen, na China, há mais de seis anos, onde seleciona os produtos, fabrica-os e enviados para os clientes. Mesmo ao nível da embalagem, todos os seus produtos obedecem a regras internas de design, gramagem do material e outros elementos para manter a coerência da marca. A empresa pega em mostragens dos produtos e os seus funcionários fazem as alterações necessárias mediante os seus requisitos. E todos os dias expede material para as suas lojas.

De Portugal para o resto do mundo

Ainda sobre a sua estratégia de internacionalização, Bruno Borges explica que não pretende alterar aquilo que já faz em Portugal e não vê a necessidade de se adaptar aos novos mercados, porque o conceito não existe nestes países. Refere que a parte mais complexa já passou, que foi selecionar e formar as equipas locais, que estiveram em Portugal para receber a formação e treino.

Por outro lado, o abastecimento dessas lojas será feito a partir de Portugal, sem limitações. Como atualmente a empresa vende para qualquer país estrangeiro, através do seu website, mas também na Amazon e outras plataformas, desde há vários anos que as encomendas partem diariamente de Lisboa e chegam no dia seguinte ao estrangeiro. O abastecimento das lojas não será diferente.

Ainda assim, destacou que a expansão para os próximos meses e anos será gradual, “à velocidade que cada país nos permitir”. A empresa tem ambições de chegar a mais países na Europa através das suas lojas, como o Benelux, Itália ou Reino Unido, assim como expandir-se na Espanha. Mas também até 2025 chegar ao Médio Oriente e Ásia.

Bruno Borges, CEO da iServices
Bruno Borges, CEO da iServices

A empresa não tem “pressa” em se expandir, preferindo mesmo manter o foco na satisfação do cliente. Bruno Borges diz que cada vez que faz uma venda ou reparação é enviado um questionário para o cliente saber o seu grau de satisfação do serviço. A empresa tem 260 funcionários efetivos, sem contratos a prazo ou estágio e que a rotação é inferior a 1% por ano. “Os clientes valorizam as caras, sabem os nomes dos funcionários e os funcionários sabem o nome dos clientes”. Mesmo que trabalhe com peças compatíveis com a Apple ou originais de outras marcas, Bruno Borges diz que o cliente não está preocupado com a origem dos componentes, mas sim a qualidade do serviço e a sua garantia.

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Questionado sobre o crescimento do mercado de recondicionados e as grandes marcas, como a Apple e Samsung a assumirem a venda dos seus modelos, Bruno Borges demonstrou-se um pouco cético em relação aos objetivos das marcas. “As marcas só têm um interesse, que é vender equipamentos novos.

As marcas são muito avaliadas pelos acionistas pelo número de equipamentos vendidos”. Ainda assim, considera que é verdade que as marcas compram cada vez mais equipamentos usados aos seus clientes, no sistema de trade ins, para que as vendas não fiquem estagnadas. Recebem o antigo e baixam os preços de novos. Mas segundo o empresário, os recondicionados não são vendidos nas Apple Stores e lojas próprias das marcas, mas sim enviados para empresas como a iServices.

O mercado dos recondicionados é o que mais cresce, prevendo-se que até 2028 seja na casa dos dois dígitos. As recentes regras da garantia de três anos colocam-nos no mesmo patamar de um novo e o cliente pode poupar entre 30 a 50% desse valor com um recondicionado. Bruno Borges diz que tirando o facto de não serem vendidos na caixa original, o recondicionado tem as mesmas condições de um novo. “Existem empresas que começaram a olhar para a sustentabilidade e começam a comprar equipamentos recondicionados em vez de novos. Há uma vontade de marcar a pegada ecológica”.

tek iServices

Já no contexto das reparações domésticas e o início da abertura das marcas fornecerem peças e manuais, o líder da iServices desvaloriza essa abertura. “Se um cliente nos aborda para fazer uma reparação e esta for apenas uma limpeza de cotão, limpamos e devolvemos o equipamento sem cobrar”. Na sua filosofia, os clientes regressam onde foram bem-recebidos.

Afirma ainda que não há nenhum caso em que o cliente deva reparar em casa e acredita que 50% dessas tentativas deem para o torto, fazendo ainda pior, agravando as reparações. Afirma que muitas marcas pedem 300 e 400 euros por uma reparação de equipamentos que não valem esse preço nos recondicionados.

E dá o exemplo do iPhone X com reparações nesse valor, quando os vende a 300 euros. Além disso, para reparar em casa, o cliente tem de comprar máquinas que podem chegar aos 1.000 euros. Não há condições para os clientes repararem os smartphones em casa, porque vão fazer pior.

Por fim, destaca que os smartphones dobráveis são fáceis de reparar, mas que ainda não surgiram muitos porque ainda não existe nenhum modelo “best seller” das marcas.