(Actualizada) Sem fim à vista, a crise económica deverá continuar a afectar negativamente as vendas de produtos na área das telecomunicações e na electrónica de consumo. E os preços não ajudam, com os valores de venda a público (PVP) a subirem com o ajustamento do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) para 23%, já aprovado com o Orçamento de Estado para 2011.

A percepção de que as vendas vão descer mas que o IVA será reflectivo nos preços, obrigando a uma subida dos valores, foi transmitida ao TeK por vários operadores de telecomunicações e fabricantes de telemóveis, computadores e electrónica de consumo. Desta vez a intenção geral é contrária ao que aconteceu em Junho, com a subida do IVA para 21%, onde grande parte dos agentes acabaram por não aumentar preços.

Zeinal Bava, presidente da PT, terá sido um dos primeiros a ser questionado sobre o assunto, ainda a subida de IVA para 23% não tinha sido aprovada pelo Parlamento. Em declarações à Agência Lusa, o presidente da PT admitiu que a operadora terá de reflectir este aumento nos valores praticados junto dos clientes.

Dias depois José Pereira da Costa, administrador financeiro da Zon, adiantou, em conferência de analistas a propósito da apresentação de resultados do terceiro trimestre da empresa, que "seja qual for o aumento definido para 2011 [...] a Zon já decidiu que o vai passar para os clientes, tal como já anunciaram os operadores móveis".

Em Junho, quando o IVA subiu um ponto para os 21%, alguns preços na Zon mantiveram-se, enquanto outros foram actualizados, como o Serviço selecção digital, o pacote base e a compra da ZON BOX Pacotes Funtastic HD, que passou de 29,49 para 29,74 euros.

Questionadas pelo TeK, a Vodafone e a Sonaecom admitiram também a intenção de reflectir a mudança de IVA nos preços. Ainda antes da medida estar aprovada a Vodafone Portugal explicava que "deverá fazer reflectir a nova taxa de IVA nos preços finais para os Clientes" e recordava que no último aumento da taxa de IVA, a 1 de Julho de 2010, decidiu não aumentar o preço de venda ao público dos telemóveis, placas de acesso à Internet e restantes equipamentos de telecomunicações, o que significou, na prática, uma redução do preço dos equipamentos sem IVA, para que, aplicando a taxa de imposto superior, resultasse o mesmo preço final para os Clientes.

Nos tarifários e serviços da operadora esta alteração do IVA foi reflectida na generalidade, com algumas excepções, nomeadamente os valores de carregamento obrigatório mensal dos planos recarregáveis, dos Aditivos Internet e da Banda Larga Móvel recarregável (Vita Net), que não sofreram qualquer alteração, e ainda os valores das mensalidades dos tarifários de Banda Larga Móvel pós-paga e dos serviços Vodafone Casa Internet e TV, que sofreram ajustes inferiores aos que resultariam da aplicação da nova taxa de IVA.

Na Sonaecom, que detém a Optimus com operações na rede fixa e móvel, a linha de actuação é semelhante. A empresa garante que vai aplicar a taxa de IVA decidida no Orçamento de Estado, recordando também que, na última modificação "a Optimus não aumentou os preços disponibilizados aos Clientes, de forma a manter a competitividade da sua oferta".

Recuando a 2005 e 2008, outros momentos de mudança na taxa do imposto, a Optimus lembra ainda que "suportou a subida do IVA para os 21%, mantendo os preços pagos pelos Clientes, e em 2008 fez reflectir a descida do IVA para os 20%, reduzindo o valor de todos os serviços de voz e dados".

Igualmente contactada, a AR Telecom escusou-se a comentar as suas intenções enquanto o Orçamento de Estado ainda estava em discussão e a Cabovisão acabou por não responder às questões enviadas pelo TeK.

Equipamentos aumentam de preço?

O peso deste sector no bolso dos consumidores será ainda maior, já que nos equipamentos - de telemóveis e computadores a electrónica de consumo - a tendência também será para subida de preços para reflectir a taxa de 23% de IVA.

O TeK contactou os líderes de vendas de telemóveis e computadores, mas alguns escusaram-se a responder por alegarem que não vendem directamente ao consumidor final, nomeadamente a Nokia, enquanto outras remeteram para mais tarde os seus comentários, como a LG e a HP.

Embora também não comercialize produtos directamente junto do consumidor final, sugerindo PVPs recomendados, a Toshiba refere que "analisando últimas subidas e descidas da taxa de IVA, podemos concluir que o mercado costuma funcionar e cada parceiro definirá preços em função da sua estratégia comercial".

No último aumento do IVA, em Julho, uma parte dos retalhistas e revendedores optou por absorver o valor do aumento e manter a oferta que tinham, enquanto outros aumentaram preço final dos produtos, reflectindo o aumento do IVA, lembra a mesma fonte. Uma premissa que é válida para o segmento de consumo e para o mercado profissional.

A Asus é mais clara na sua intenção de absorver o aumento do IVA sempre que possível. André Gonçalves, relações públicas da Asus em Portugal, admitiu ao TeK que “é nossa intenção absorver este aumento nos produtos sempre que a respectiva estrutura de preços e custeio o permita, de modo a não penalizar o consumidor”.

Este responsável lembra porém que o mercado se caracteriza por uma
concorrência bastante agressiva com particular sensibilidade ao preço, o que
origina um esmagamento constante das margens de lucro. "A absorção do
aumento previsto de 2% na taxa de IVA perante o actual cenário de mercado
torna-se incomportável para os fabricantes".

Uma ajuda nesta intenção poderá decorrer da recuperação do Euro face ao Dólar, verificada ultimamente, pois toda a matéria-prima é adquirida em Dólares, o que poderá permitir que os PVPs se mantenham. No caso do último aumento de IVA estas contas acabaram por sair trocadas, já que se assistia a um fortalecimento do dólar face ao euro, com um aumento global de preços no mercado, o que fez com que a empresa acabasse por decidir reflectir o aumento de 1% do imposto nos preços.

O cenário desenhado para 2011 não é muito positivo. A Toshiba acredita também que a actual crise económico-financeira vai ter impacto sobre o crescimento económico e consequentemente também sobre a procura nos mercados em que opera, esperando um abrandamento no ritmo crescimento que se tem registado.

"2011 vai ser um mercado de muita prudência em investimentos para o mercado empresarial, no consumo acredito que as decisões de compra serão muito mais ponderadas levando à redução das compras por impulso", remata André Gonçalves, admitindo que a subida generalizada de preços vai originar uma retracção na procura como efeito do aumento da taxa de esforço face ao rendimento disponível do consumidor.

Nota da Redacção: A notícia foi alterada nas citações da Asus a pedido da empresa.