Jantar/concurso promovido por Trump para cripto milionários continua a dar que falar

A Casa Branca diz que a iniciativa nada tem a ver com Trump presidente, mas foi na expectativa de conhecer o responsável máximo dos EUA que mais de 200 personalidades investiram 148 milhões de dólares na moeda digital de Trump, comprando lugar num polémico jantar.

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Quase uma semana depois do jantar “mais exclusivo do mundo”, como chegou a ser publicitado, o evento organizado por Donald Trump para promover a sua própria criptomoeda continua a dar que falar. O presidente dos Estados Unidos reuniu os 220 maiores investidores na moeda digital Official Trump, uma meme coin lançada por si e pela sua família dias antes do republicano reassumir a Casa Branca, num evento exclusivo no Trump National Golf Club, na Virgínia.

A exclusividade do encontro estava desde logo no investimento necessário na criptomoeda para ter acesso a um lugar no jantar, que era ainda mais exclusivo para os 25 maiores investidores. Estes VIPs teriam supostamente direito a conhecer pessoalmente o presidente, o que ainda não ficou claro se realmente aconteceu.

No total, os participantes terão investido 148 milhões de dólares na moeda e como isso garantiram lugar no jantar, visto como uma oportunidade única para discutir temas de relevo para o sector. Os 25 maiores investidores gastaram 111 milhões, de acordo com dados da Inca Digital.

Vários meios avançam que boa parte dos investimentos realizados na moeda não passaram disso mesmo: uma oportunidade para ter acesso a um evento exclusivo num círculo que influencia decisões. Análises às carteiras digitais com o token permitiram já perceber que entre os 25 VIPs do encontro antes do jantar existiam 4,78 milhões de tokens Trump e nos últimos dias cerca de 2 milhões.

Na lista de convidados, que ainda não é completamente conhecida, destacam-se investidores estrangeiros, que seriam mais de metade dos participantes e que por outra via dificilmente tinham acesso ao contacto direto com Donald Trump, o que fez aumentar ainda mais a polémica sobre o evento e o respeito pelas leis em vigor e obrigações de um presidente.

O maior detetor do token e vencedor do concurso, por exemplo, era à data Justin Sun, fundador da empresa Tron, que no ano passado enfrentou um processo movido pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), acusado de ações ilegais de negociação de criptoativos,. como manipulação de negociações e promoção ilegal de ativos. O processo não teve consequência, porque a SEC acabou por suspender a investigação um mês depois de Trump tomar posse.

Outro participantes conhecido foi Kain Warwick, fundador da plataforma iFinex, que assumiu em entrevistas antes do evento ver ali uma oportunidade para falar com o presidente, ou alguém da equipa sobre a regulação de serviços financeiros descentralizados (DeFI), num momento em que o país prepara nova legislação sobre o sector, com menos foco nessa área.

Sangrok Oh, CEO da Hyperithm, uma gestora de criptoativos da Coreia do Sul, que investiu 3 milhões de dólares no token Trump, também disse ao The New York Times que entendia o evento como uma espécie de “angariação de fundos [...] E ele sempre será leal a seus patrocinadores.”

A declaração da porta-voz da Casa Branca, que recusou divulgar a lista de convidados com o pretexto de o evento ser privado e independente da atividade de Trump enquanto presidente dos EUA, acaba por ficar difícil de sustentar levando em consideração as declarações e expectativas dos convidados que investiram para estar no evento. Junta-se a isso a importância conhecida do sector na eleição do presidente, por via do financiamento da campanha.

Vários participantes partilharam fotos e comentários do evento, onde Trump terá estado apenas alguns minutos para fazer um discurso. Chegou de helicóptero e terá partido logo depois de falar. Entre as principais críticas dos participantes esteve isso mesmo, o pouco tempo que o presidente acabou por dedicar ao evento, que não coincidiu com as expectativas. Ainda assim, o discurso terá voltado a ser marcado por promessas de que o país criará melhores condições para a indústria prosperar, como era de esperar.

No exterior do clube houve uma manifestação a condenar o jantar, onde estiveram inclusivé senadores da oposição, que consideraram o evento mais um sinal da corrupção que estará a minar Washington e a administração Trump.

O evento organizado por Trump acontece numa altura crítica para o sector no país. Dias antes, o Senado deu luz verde ao projeto de lei que define novas regras para as operações com stable coins no país (moedas digitais que têm como referência ativos estáveis), desbloqueando assim uma primeira barreira para a lei vir a ser aprovada.

O documento tinha sido vetado no início do mês por receios relacionados com a segurança e a proteção do consumidor e dos fracos mecanismos antifraude acautelados. A votação do Senado abre caminho a um debate mais profundo sobre o tema e para a inclusão de emendas que possam criar uma base legal mais consensual. O projeto é dos republicanos, mas conquistou entretanto apoio de alguns democratas. Resta saber que impacto teve o evento, que para muitos confirma interesses pouco claros do presidente no sector, numa altura em que outras leis e medidas para a mesma área também estão em preparação.

A criptomoeda criada por Donald Trump e pela família, também conhecida como $Trump, faz parte de uma nova tendência nesta área dos criptoativos, para lançar tokens baseados em tendências ou memes de internet. É um ativo altamente volátil e que está longe do conceito de moeda digital estável, por exemplo.

Uma análise da Chainalysis concluiu que desde que a moeda foi lançada os beneficiários já arrecadaram 320 milhões de dólares em taxas e só com as transações relacionadas com o jantar 1,35 milhões. Os detentores originais dos ativos são duas empresas, uma delas detida pela família de Trump. Dados da Inca Digital acrescentam a estes que desde que a moeda foi lançada, os maiores ganhos foram para os grandes investidores: mais de 60 grandes carteiras lucraram perto de 1,5 mil milhões de dólares. Para os investidores mais pequenos o balanço é menos positivo, com perdas estimadas de 3,87 mil milhões de dólares para 600 mil carteiras.