Todos os indicadores das consultoras mostram que o mercado de computadores e impressoras teve um crescimento extraordinário em 2020, quando as empresas e as famílias tiveram de se preparar para trabalho remoto e escola à distância, que obrigou a renovação de parques informáticos e de impressão e uma maior aposta da mobilidade. A HP foi uma das empresas que beneficiou deste movimento e os resultados mundiais revelados para o segundo trimestre fiscal, que abrange fevereiro, março e abril, mostram esse impacto, que também se sentiu no mercado português.

“Tivemos resultados recorde, crescemos 27% [em net revenue] comparado com os resultados do primeiro trimestre do 2020. São resultados muito bons, dentro de uma dinâmica de mercado bastante complicada”, explica José Correia, diretor geral da HP Portugal, em entrevista ao SAPO TEK.

O impacto foi sentido na área profissional, com um crescimento de 10%, mas também nos PC, onde se destaca a área de consumo com uma subida de 72%. Mas este é um impulso positivo que está longe de se ter esgotado. “A dinâmica do último ano no mercado de tecnologia ainda não está esgotada […] tem a ver com as várias fases da pandemia e ainda continua a impulsionar o consumo”, explica o gestor, que lembra que numa primeira fase as pessoas tiveram de recorrer aos equipamentos que tinham em casa, e que embora muitas tivessem de comprar não esgotaram as suas necessidades.

“Agora estão numa fase de avaliar se o que têm é suficiente”, justifica, lembrando que muitos jovens herdaram computadores mais antigos dos pais, ou de irmãos mais velhos, mas que as exigências são cada vez maiores.

“Antes um computador pessoal de consumo daria para 4 ou 5 anos, ou mais, hoje o PC voltou a ser ferramenta essencial de produtividade pessoal, não dá para estarmos a fazer concessões, os mais jovens precisam de computador com capacidade de ligação de nível profissional, fiabilidade e qualidade nas ferramentas de comunicação”, adianta José Correia.

Também nas empresas os ciclos de renovação continuam a acelerar e devem refletir-se em compras durante o resto do ano. “As empresas continuam, por via da maior exigência de fiabilidade e segurança, a acelerar processos de renovação”, afirma.

O impacto positivo nos resultados da HP é também explicado pelo investimento que a empresa tem feito nestas áreas. “Andámos a investir em tecnologia e inovação [de mobilidade, inovação no posto de trabalho e cibersegurança]  que nos preparou para enfrentarmos uma situação como esta, e a HP acaba por estar melhor preparada para estes desafios”, sublinha.

Trabalho híbrido com condições e sem perder a cultura das empresas

A lógica de teletrabalho, ou de trabalho híbrido, está a tornar-se o “novo normal” e isso teve impacto na forma como as empresas pensam as suas aquisições de equipamentos, mas também todo o serviço associado. “As empresas que entrarem naquilo que querem que seja a nova realidade têm de ser capazes de criar uma experiência aos seus colaboradores onde não haja disrupção ou diferença entre o que é estar no escritório ou em casa”, defende, lembrando que se um funcionário tiver um problema no computador é preciso ir a sua casa reparar ou substituir o equipamento para que continue a trabalhar.

A cibersegurança ganha também novo protagonismo, que têm de ser criadas as condições para que o trabalho em casa não seja uma fonte risco para intrusão nos sistemas das empresas.

“Vimos, no primeiro confinamento, empresas muito grandes que passaram por esta situação […] Tudo o que é infraestruturas têm de ser redefinidos, e estamos a trabalhar com os nossos clientes para desktop management, ou o PC as a service, para terem resposta para esta realidade mais híbrida”, adianta José Correia.

A própria HP Portugal já se adaptou a este sistema e neste momento toda a equipa está em teletrabalho. Antes da pandemia já existia uma liberdade para trabalhar em casa, mas esse modelo está a alargar-se, abandonando totalmente o conceito de mesas fixas. O escritório só deverá ser reaberto em setembro, e o diretor geral da HP explica que “o modelo que estamos a aplicar para o escritório é de um espaço de colaboração, onde a presença física tenderá a ver com interação humana e não para trabalhar sozinho dentro do meu computador”.

Mesmo assim lembra que as empresas vão ter de repensar muitos modelos de trabalho híbrido, sobretudo para manterem a cultura da empresa. “Tenho grandes dúvidas que se consiga manter a cultura da empresa neste modelo completamente à distância, com as pessoas a trabalhar em casa, sem viverem e respirarem essa cultura que é assimilada de forma informal, pelas pessoas trabalharem em conjunto”, sublinha.

O recrutamento e manutenção de talento é uma preocupação e as novas gerações preferem muitas vezes trabalhar no escritório, porque vivem sozinhos e estão isolados, ou porque não têm condições em casa. E a empresa também é um espaço de socialização.

“As empresas têm de se ajustar pela gestão cultural e de talento, indo de encontro às expectativas dos profissionais e das novas gerações”, adianta José Correia.

Portugal com crescimento a dois dígitos em todas as categorias

“Os resultados em Portugal não foram muito diferentes dos que estamos a ver a nível global. Superámos de forma confortável os objetivos internos, crescemos a dois dígitos em todas as categorias, com o consumo a contribuir de forma muito mais forte para a dinâmica do crescimento”, explica o diretor geral da HP Portugal.

Nos PCs profissionais os números estão muito inflacionados pelo negócio da educação, e da Escola Digital, com um crescimento de 500%, mas José Correia diz que mesmo retirando este elemento da equação o mercado duplicou, crescendo 104%. Mas no consumo foi onde a HP teve mais crescimento, subindo 300% e reforçando a sua quita de mercado para 36% no primeiro trimestre de 2021, segundo números da IDC, quando no último trimestre de 2020 tinha ficado com 22%.

E a expectativa é que os números ainda continuem a crescer até final do ano, como já tinha explicado, com uma dinâmica que ainda não se esgotou de renovação de equipamentos.

No último ano também o mercado de impressão teve crescimentos muito positivos, especialmente na área de consumo. “A impressora não está morta”, lembra José Correia, apesar do que durante muito tempo se disse.

“As pessoas não foram renovando impressoras nos últimos anos, estavam convencidas de eu não precisavam, e não é isso que a realidade nos diz, mesmo em Portugal”, refere.

O serviço de Instant ink, para renovação e entrega de tinteiros, teve também um crescimento e “demonstrou que era um serviço bem desenhado para várias realidades”, explica José Correia, dizendo que uma em cada três impressoras foram vendidas com este serviço associado.

Com a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência os efeitos positivos do investimento devem fazer-se sentir também na transformação digital das empresas e da Administração Pública e estes são indicadores que trazem também mais confiança ao mercado.

“É com satisfação que vemos que a Administração Pública começa a criar mais dinâmica e já estamos a experienciar esse movimento”, explica José Correia.

“Provámos no último ano que somos capazes de dar passos grandes e num curto espaço de tempo, é um bom sinal de esperança o que vivemos nos últimos 12 meses e com o PRR pode haver novos projetos que criem mais dinâmica e vão de encontro aos novos objetivos do Estado em transformação digital, para tornar os sistemas de cibersegurança mais resilientes”, conclui.