O posicionamento de Portugal como um país “aberto ao negócio” e um destino de investimento para empresas tecnológicas é uma das estratégias que tem sido promovida pelo Governo, através do Plano de Ação para a Transição Digital e de várias iniciativas de “diplomacia económica”. No Forum Portugal Digital a Google, Microsoft, Nokia e AWS explicaram porque estão a investir e continuam a atrair para o país centros de competências, enquanto a Talkdesk está a crescer num movimento contrário, usando Portugal como base de desenvolvimento de produtos e serviços no seu processo de internacionalização.

As tecnológicas estão entre as maiores dos seus sectores e já se instalaram em Portugal há alguns anos, no caso da Microsoft a subsidiária portuguesa já celebrou os 30 anos e tem vindo a conquistar uma série de prémios. A Nokia e a Google têm também uma presença consolidada com a instalação de centros de competências no país, e a AWS é a mais recente “big tech” a abrir escritório em Portugal, o que fez em setembro de 2018. No painel de debate, moderado por Fátima Caçador, editora do SAPO TEK, o tema do investimento, assim como os memorandos de entendimento assinados pelo Governo, estiveram em destaque.

“O digital está a ajudar a posicionar cada vez melhor Portugal numa lógica bidirecional, que capta o investimento e permite a internacionalização”, defendeu Arthur Jordão, do gabinete do secretário de Estado da Transição Digital, durante a conferência. A localização, as infraestruturas, a segurança do país e a qualidade de vida, mas também as competências de recursos humanos na área da tecnologia e a aptidão das línguas, são elementos que “contribuem para nos colocar nas melhores montras do mercado global”, e o “digital made in Portugal” já representa 13 mil milhões de euros de exportações, afirmou Arthur Jordão.

Com a AICEP o Governo está a mapear o cluster digital, e os produtos, serviços e conhecimento que são comercializáveis, para ajudar a desenvolver esta área e o desafio é ganhar escala para concorrer no mercado internacional.

As parcerias com empresas internacionais são um dos pilares de desenvolvimento desta estratégia e a Google, Microsoft, Nokia e AWS são as empresas que já assinaram acordos de entendimento (MOU) com o Governo, focados em várias áreas da transformação digital e alinhadas com os pilares do Plano, onde se destacam as Pessoas, empresas e a digitalização do Estado.

Os pontos fortes de Portugal a nível das competências, capacidade de inovação e do ecossistema de startups foram destacados como motivos que justificam o investimento no país pela Google, Microsoft, Nokia e AWS, que durante a sua intervenção no debate foram destacando alguns argumentos que usam para atrair mais projetos para o país.

Criatividade e talento destacados nos “bons exemplos” de Portugal

Miguel Alava, diretor geral da AWS EMEA, sublinhou a inovação e criatividade dos clientes portugueses, e afirmou que a abertura do escritório em Lisboa, em setembro de 2018, foi uma resposta aos pedidos locais. O responsável da empresa focada em serviços de cloud elogiou a qualidade dos profissionais de tecnologia, e a forma como as empresas e o ecossistema de startups estão a inovar e a disromper cadeias de valor e a criar novas soluções, mas afirmou que não é apenas tecnologia e que a AWS quer continuar a investir em pessoas e em processos.

Na Google, Bernardo Correia, country manager em Portugal, afirma que uma grande parte do que faz internamente é “comunicar porque é que Portugal é um país excelente para investir” e para isso usa quatro argumentos, aplicados consoante o interlocutor: Portugal como ponte para o mundo, a atitude tech friendly do governo português, o ecossistema de startups e tecnologia e o talento.

“Esta é a primeira revolução económica da história da humanidade em que Portugal não está em desvantagem competitiva e tem as coisas certas para poder competir”, defende Bernardo Correia.

A mesma linha de vantagens é usada por Paula Panarra, diretora geral da Microsoft em Portugal. “São âncoras para tornar Portugal um excelente país para investir”, afirma, explicando que hoje a Microsoft Portugal tem 1.200 pessoas a trabalhar e um ecossistema de mais de 3 mil parceiros, com serviços em Portugal e também a fazerem a internacionalização. A gestora destaca a capacidade que desenvolvimento de engenharia mas também de atrair talento, e dá como exemplo o mais recente centro de trabalho na área da linguística que foi criado para ajudar a desenvolver tecnologia de Portugal para o mundo.

A Nokia abriu também um novo centro de competências focado em 5G e inovação este ano, uma aposta que está presente no memorando de entendimento assinado com o Governo, e que se junta a um conjunto de 6 centros globais de competências que trabalham a partir de Portugal para o mundo, como explica Sérgio Catalão.

“Já são mais de 2.200 colaboradores […] nos últimos 10 anos temos investido de forma sustentada de recursos nacionais”, adianta Sérgio Catalão, country senior officer da Nokia.

“A partir destes centros temos 300 milhões de euros de exportações acumuladas nos últimos 10 anos […] é valor acrescentado e temos orgulho do impacto que temos na Nokia Global e no sector”, justifica Sérgio Catalão. O gestor admite porém que todas as decisões de investimento são feitas em ambiente de grande competitividade com outras localizações na Europa. “Não estamos sozinhos, temos de concorrer e ser competitivos”, lembra, reforçando que Portugal tem um ecossistema virtuoso que tem potenciado o investimento, com a inovação, localização geográfica e infraestruturas a somarem os pontos positivos.

A Talkdesk não tem ainda um memorando de entendimento assinado com o Governo português mas essa possibilidade não é colocada de lado por Marco Costa, chief operating officer internacional do unicórnio português, uma empresa que nasceu entre Portugal e os Estados Unidos e que se divide entre as duas geografias.

“Não é difícil explicar porque investimos em Portugal, mas todos os dias temos de tomar decisões importantes e nós decidimos manter uma presença muito forte cá”, explica Marco Costa.

Ajudar os clientes no seu serviço de apoio é uma das missões da Talkdesk e esta é uma área cada vez mais concorrida, por isso é ponto assente que “se quisermos ser líderes mundiais temos de continuar a investir”. A Talkdesk decidiu crescer e desenvolver o seu produto a partir de Portugal e há 4 anos tinha localizados em território nacional 50 pessoas, que neste momento aumentaram para 1.200. “No ano passado contratámos 500 pessoas e até ao final do ano chegaremos a 1500 pessoas em Portugal”, afirma, explicando como Coimbra passou a ser o berço de acolhimento de uma comunidade constituída por cada vez mais nacionalidades.

O talento que se encontra cá, o trabalho feito com as universidades na formação, mas também a capacidade de atrair talento de fora são apontados como vantagens por Marco Costa. “Trouxemos pessoas de fora para Coimbra, da Austrália, da Ucrânia, de todo o lado […] vêm porque gostam do que fazem, do desafio e da empresa, e percebem que conseguem ter uma boa qualidade de vida, com bom tempo combinado com segurança, tolerância e a nossa capacidade de integrar pessoas”, explica, dizendo que isso faz de Portugal um país muito interessante para o desenvolvimento da carreira.

Com cerca de 95% da capacidade de desenvolvimento de produto instalada em Portugal, a Talkdesk olha de forma séria pata a internacionalização, e a experiência desenvolvida em Portugal serviu de porta de entrada na Europa, que representa 30% do volume de negócios da empresa. Só este trimestre a Talkdesk abriu 8 países novos, com o Brasil, Austrália, Singapura e mais 5 países na Europa e “estamos a usar os recursos em Portugal para fazer essa expansão na Europa”, justifica.

O balanço feito dos memorandos de entendimento que foram assinados pela AWS, Google, Microsoft e Nokia entre 2020 e 2021 é apontado como positivo pelas empresas, que vêm sobretudo no desenvolvimento da área da formação e competências, apoio às startups e desenvolvimento de serviços ligados à administração pública um potencial de reforço da capacidade de Portugal para gerar negócio e tornar-se mais competitivo a nível global. Um objetivo que todos abraçam com entusiasmo, como deixaram bem claro neste debate.