O relatório "O Estado da Tecnologia Europeia 2022" mostra que este foi um ano desafiante, em que existem sinais de resiliência e também oportunidades a explorar. Apesar de um início de ano em força, o investimento em tecnologia deverá ficar-se pelos 85 mil milhões de dólares, um número que está abaixo do valor recorde registado no ano passado mas que, ainda assim, representa o segundo maior volume de investimento no ecossistema tecnológico europeu.
Segundo os dados do relatório a que o SAPO TEK teve acesso em antecipação, "a indústria da tecnologia viveu um ano muito diferente, em que as tendências de crescimento depararam-se com ventos contrários do ponto de vista macroeconómico e geopolítico, algo que resultou num ano com dois semestres desiguais". Em junho de 2022, o volume de investimento em tecnologia europeia era 4% superior, face ao período homólogo de 2021. No entanto, a queda acentuada no capital de investimento no segundo semestre do ano indica que o investimento total ficará aquém do volume recorde do ano passado (100 mil milhões de dólares), ficando-se pelos 85 mil milhões.
"Este ano foi contraditório face às expectativas, mas temos de olhar para lá dos últimos 24 meses. Os números em termos de angariação de financiamento, a que nos habituámos no ano passado, eram astronomicamente altos, daí que possamos estar otimistas, uma vez que aquilo que estamos a testemunhar em 2022 continua a revelar níveis significativamente mais elevados do que há apenas dois anos" explica Sarah Guemouri, diretora da Atomico e coautora do relatório.
"À medida que o ecossistema europeu for amadurecendo, assistiremos naturalmente a refluxos e fluxos, mas não devemos desprezar os progressos registados na atual conjuntura que tem impactado vários setores de atividade um pouco por todo o mundo”, adianta Sarah Guemouri
O próprio mercado tecnológico registo uma contração no último ano, e o valor das empresas de tecnologia europeias nos mercados públicos e privados caiu cerca de 400 mil milhões de dólares desde o início de 2022. Segundo a Atomico, o valor total do ecossistema desceu para 2,7 biliões de dólares, face a um pico de 3,1 biliões no final de 2021. Ainda assim, este número não deixa de ser 5 vezes superior aos valores de 2015.
Apesar dos dados do setor, a inovação continua a registar um ritmo acelerado e 77% dos participantes deste estudo estão confiantes no futuro da tecnologia europeia a partir de 2023.
O relatório faz ainda uma análise da evolução do investimento na Ucrânia, indicando que a indústria tecnológica ucraniana refletiu a maior resiliência europeia, apesar da guerra. "Nos primeiros oito meses de 2022, as TIC na Ucrânia cresceram 16% face ao ano anterior", refere o estudo, sublinhando que esta é a única indústria de exportação que gera rendimentos em moeda estrangeira de forma estável para a Ucrânia.
Portugal com um dos melhores índices de diversidade de género
Um dos dados que se destaca é que Portugal é dos países com maior taxa de emprego dentro do setor das tecnologias, com mais do dobro da proporção comparativamente aos restantes mercados europeus.
Os layoffs no sector das tecnologias têm sido inevitáveis mas Portugal continua a ter um dos índices mais elevados de emprego no setor da tecnologia, com mais do dobro da proporção comparativamente aos restantes mercados europeus.
De acordo com o relatório, até à data, foram despedidos mais de 14,000 trabalhadores de empresas sediadas na Europa, equivalente a 7% do total de layoffs de trabalhadores a nível mundial, num movimento de redução da força de trabalho que as grandes tecnológicas estão a fazer.
Veja as imagens com mais dados sobre o emprego em tecnologia
Portugal é também um caso atípico na evolução dos empregos considerados "difíceis de preencher", o que significa que permaneceram sem preenchimento por mais de 60 dias após a sua listagem. Na maioria dos países europeus, o índice de oportunidades de emprego em tecnologia nesta categoria aumentou em 2022, em comparação com 2021. Portugal registou um declínio nos empregos “difíceis de preencher”, embora partindo de um ponto de partida elevado de 57%.
Em termos de índice de diversidade de género o relatório da Atomico destaca também o desempenho de Portugal, com a percentagem mais elevada de equipas de fundadores mistas na Europa. Segundo a análise, as rondas de financiamento atribuídas a equipas exclusivamente masculinas versus femininas e mistas, na Europa há 4,3 vezes mais financiamento para homens do que para mulheres, mas Portugal tem dos melhores indicadores, e está abaixo da média europeia com um índice de 3,5.
Janela dos IPO fechou, mas não só na Europa
Entre as análises do relatório da Atomico está o volume de negociações e a colocação de capital de empresas no mercado. O número de rondas de financiamento está a diminuir, apesar de no primeiro semestre se ter registado um número elevado, de 133 rondas de valores de 100 milhões de dólares ou acima, que não foi compensado executado no segundo semestre, que baixou para 37. Por isso o resultado é uma quebra generalizada de grande rondas de financiamento para startups.
A percepção dos fundadores de empresas, entrevistados pela Atomico, é também de que é agora mais difícil aceder a capital de risco do que há um ano atrás, uma opinião expressa por 82% dos inquiridos. Também aqui Portugal contraria a tendência e a Atomico indica que o nível de investimento aumentou 3,4 vezes face ao ano anterior.
Durante o último ano registaram-se apenas três IPOs no sector da tecnologia com uma capitalização de mercado superior a mil milhões de dólares na Europa e nos EUA, sendo dois na Europa.
O relatório da Atomico está disponível para consulta online e hoje vai ser apresentado num live stream que tem inscrições abertas.
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