Numa análise que envolveu nove países, os portugueses destacam-se como aqueles que mais sentem que passaram a trabalhar mais e durante mais horas, com a passagem para o teletrabalho. Nas respostas apuradas para o Relatório de Bem-Estar Teletrabalho 2022, 33,2% disseram que trabalham mais em casa e uma percentagem ainda maior admitiu que passou a trabalhar durante mais horas (36,1%).
No entanto, são também os portugueses quem mais reconhece as vantagens do teletrabalho e quem mais destaca, entre os profissionais das diferentes nacionalidades consideradas, que trabalhar em casa veio permitir passar mais tempo com a família, ou fazer mais exercício. Já no que se refere ao contributo desta mudança para a adoção de uma alimentação mais saudável, os portugueses são apenas os terceiros da lista.
Comparando os valores nacionais com os valores médios apurados na pesquisa realizada pela NFON, verifica-se que 28% dos inquiridos em nove países também acreditam ter passado a trabalhar mais em casa e por mais tempo (25,2%). Em simultâneo, também se reconhece que o teletrabalho veio permitir um maior equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional (36%) e que o tempo para dedicar à família e aos amigos, ou para atividade como o exercício físico, aumentou. Um equilíbrio que resultará da eliminação das horas passadas em deslocações para e do trabalho, por exemplo.
A pesquisa revela também que um terço dos participantes identificaram fatores de stress a influenciar a sua situação profissional atual. Os mais destacados relacionam-se com a necessidade de preparar as próprias refeições (8,7%), qualidade da ligação à internet (17,2%), ter de estar contactável a qualquer hora (19,7%), não ter limites entre o tempo de lazer e o tempo de trabalho (30,3%), ou não poder interagir com os colegas (35,3%). O tecnostress, que pode resultar por exemplo de questões técnicas como falhas no router, falta de bateria, equipamentos inadequados afeta 20,5% dos inquiridos.
Nestas categorias, Portugal volta a destacar-se como o país com um índice de resposta mais elevado, no que se refere à exigência de estar contactável a qualquer hora (23,4%), ao impacto negativo da falta de interação com os colegas, apontada por 38,4% dos que responderam, ou pela insatisfação como a falta de limites entre trabalho e lazer (34,6%).
Os resultados da pesquisa permitem também verificar elevados hábitos de automedicação, entre quem trabalha em casa, com 34,4% dos participantes no estudo a afirmarem que tomaram suplementos sem receita médica (como melatonina, produtos legais de canábis, extratos de plantas, vitaminas e chás calmantes) para melhorar o seu bem-estar desde o início da pandemia, 18,2% usaram produtos não receitados para melhorar a concentração e 13,4% para recuperação. Em Portugal os valores apurados são menores.
A maioria daqueles que continuam a trabalhar a partir de casa fazem-no na sala (35,7%) ou no escritório (31,8%), em espaços que, em média, contam com cerca de 20 m2 e que a vontade de se demitirem do atual emprego é um sentimento bem presente em quem está em teletrabalho.
Um quinto dos inquiridos afirmam já ter planeado a sua demissão por causa das experiências vividas durante a pandemia - 9,9% já deixaram mesmo o trabalho que tinham nessa altura. Entre as principais razões para uma demissão estão a falta de oportunidades de desenvolvimento de carreira (34,2%), salário inferior (por perda de oportunidades de comissão, por exemplo) ou o facto de terem de estar ligados a todas as horas. Em Portugal, a falta de oportunidades de promoção foi apontada por mais de metade daqueles que já mudaram de emprego. A falta de oportunidades de desenvolvimento de carreira foi o segundo aspeto mais frisado.
“Os resultados [da pesquisa] pintam um cenário algo preocupante, por detrás das portas fechadas, no contexto de teletrabalho”, destaca Christian Montag, professor de psicologia molecular, que analisou os resultados da pesquisa.
“O Relatório de Bem-Estar Teletrabalho 2022 mostra que temos de enfrentar uma nova realidade: cuidar do bem-estar e da satisfação com a vida das pessoas em teletrabalho tem de ser o foco”, acrescenta, considerando que isso é uma salvaguarda para que o “novo modelo de trabalho na Europa não acabe a ser a razão principal de uma ida à terapia”.
A NFON é fornecedora europeia de comunicações empresariais integradas a partir da cloud. Fez este estudo em colaboração com a Statista Q. Na pesquisa foram inquiridas 1.000 pessoas em Portugal, Alemanha, Áustria, Itália, Espanha, Grã-Bretanha, França e Polónia.
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