Não há dúvidas de que a transformação digital da economia é um imperativo, mas que nem todas as organizações estão a avançar ao mesmo tempo. São precisas competências, investimento e liderança, três palavras-chave que dominaram os temas da manhã do segundo dia do 31º Digital Business Congress da APDC.

No centro de todas as expectativas está o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o grande pacote de financiamento que traz para várias áreas, em especial a digitalização. António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, deixou na abertura bem claro que esta é uma aposta do Governo. “Temos um desígnio muito forte de fazer em Portugal esta transformação estrutural da economia. De alterar o perfil produtivo e incorporar cada vez mais conhecimento e inovação em todos os processos, para criar alto valor acrescentado”, afirmou.

Isso faz-se através da digitalização, e na Administração Pública esse investimento tem também impacto nas empresas, com redução de custos de contexto para as empresas, melhor eficiência, melhores interações. “Pode revolucionar completamente a gestão dos serviços, que é uma área absolutamente crucial”, defende o ministro.

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A ideia estende-se à saúde, às escolas e às empresas. “O paradigma da digitalização das empresas pode mudar os sistemas de produção e de fabrico, tornar as empresas muito mais ágeis e alinhadas com a virtualização e a robotização dos espaços de produção. Pode criar um novo paradigma para o futuro”, sublinhou António Costa Silva.

Os desafios da economia numa época de incertezas e de globalização foram também apontados pelo economista Sérgio Rebelo que defendeu que o mundo poderá ser dominado por duas grandes tendências, a existência de plataformas digitais onde muitas empresas de menor dimensão podem listar produtos e ter acesso a consumidores e as grandes marcas que vão eliminar os intermediários na relação com os consumidores.

Já durante o debate que se seguiu, Filipe Santos, Dean da Católica de Lisboa, apontou os riscos de não apostar na inovação. “Com a globalização dos serviços, haverá uma ou duas grandes empresas em cada setor. Empresas médias que não têm produto diferenciado ou uma marca muito forte são as que vão ficar a perder”, afirma.

28 projetos acelerados com o PRR

O Plano de Ação Para a Transição Digital, que está a ser implementado pela Portugal Digital, foi detalhado por Vanda Jesus, diretora executiva da estrutura. “Nos últimos dois anos sentimos a necessidade de acelerar os planos digitais”, explicou, mostrando que os 12 que tinham sido definidos inicialmente passaram a 28. “Acrescentámos um conjunto de novos projetos, em crescimento e por reforço do crescimento”, sublinhou.

Foi feito um trabalho de identificação de medidas prioritárias e o Plano de ação envolve dezenas de entidades do sector público e privado, que trabalham em conjunto para implementar os projetos, alguns dos quais estão executados enquanto outros estão em execução.

A aposta na formação e capacitação das pessoas mas também dos lideres das empresas, a digitalização das empresas para o comércio digital, a aposta no empreendedorismo e inovação, e os catalisadores digitais foram abordados na apresentação onde Vanda Jesus partilhou números de objetivos e concretizações nas diversas áreas.

Já no debate, a diretora do Portugal Digital afasta a ideia de que o PRR está apenas focado na Administração Pública. “90 a 95% dos projetos são para fazer com o sector empresarial. Dai que vão ter muito impacto nas empresas”, sublinha.

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A CIP é também um dos parceiros em alguns dos projetos e António Saraiva, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa admite que “A digitalização dos meios e das pessoas fundamental porque caminhamos a passaos largos para tempo novo e disruptivo […] com esta capacitação estaremos mais bem preparados para estas rápidas mudanças”, afirma.

Mesmo assim reconhece desafios na assimetria do tecido empresarial. De 1,3 milhões de empresas em Portugal cerca de 1,2 milhões são pequenas empresas e “a dimensão gera diferentes estágios de desenvolvimento. As grandes e médias empresas estão num ritmo de transformação digital superior, mas as pequenas sabem que se não acompanharem esta dinâmica estão fora do mercado e desaparecem”.

Para o presidente da CIP o PRR pode não ser a última oportunidade para a transformação da economia portuguesa mas “é uma janela de oportunidade para dar um salto quântico no desenvolvimento”.

O Plano de Recuperação vem trazer mais foco na digitalização mas este era um processo que já estava em curso e António Saraiva defende que “comparamos bem a nível europeu”.

Daniel Traça, Dean da Nova SBE, lembra que o movimento de disrupção extraordinário da digitalização significa crise para quem ficar parado e oportunidade para quem tiver agilidade. “O desafio é estar no curto prazo focado no longo prazo, e a agir e reagir, preparados para a mudança”.

Na sua análise a transição digital é uma questão de competências, tecnologia mas também de liderança e cultura, e é aqui que Portugal falha. As organizações devem ter um propósito, fomentar espírito de inovação e ter juventude nas normas internas, que garante agilidade.

Temos mito que se educarmos toda a gente, tudo acontece, e não é verdade”, avisa. Se formarmos as pessoas e não houver projetos que as retenham, com empresas que continuam com estruturas de comando e controle, os recursos vão trabalhar para o estrangeiro. “Há um problema de liderança, as estruturas são de uma geração anterior e demora muito tempo a passar as para as mais novas […] isso impede de olhar para este mundo com o dinamismo necessário”.

Para o Dean da Nova SBE este é um dos desafios do PRR também na Administração Pública. “Se mantivermos a mesma forma de trabalhar no Estado, e as mesmas restrições, não vamos mudar”.

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