A tecnologia também pode ser usada em prol do bem e, hoje na Europa, são várias as startups que estão a desenvolver soluções com vista a resolver alguns dos problemas enfrentados pelas sociedades, tendo em vista um desenvolvimento mais sustentável.
Nesta esfera da Tech for Good encontramos a Phenix, que surgiu na França em 2014 e quer lutar contra o desperdício alimentar, ajudando a ligar retalhistas a instituições, mas também a consumidores, que, através da sua aplicação, podem comprar cabazes de produtos que outrora poderiam ir parar ao lixo.
Ao SAPO TEK, Jean Moreau, cofundador e CEO da Phenix, defende que estamos a viver um “momentum” no segmento de empresas dedicadas à Tech for Good na Europa e que há uma espécie de “alinhamento de planetas” que estão por trás deste fenómeno.
Em primeiro, há “cada vez mais pessoas com talento que querem que o seu trabalho tenha impacto”, que “se querem juntar a empresas que tenham uma missão” e que ambicionam verdadeiramente “tornar o mundo num local melhor”.
Em segundo, os investidores estão também a centrar as suas atenções em empresas dedicadas a questões como Green Tech, educação ou igualdade de género. Já em terceiro, há uma “estrutura regulatória favorável”, com vista à realização de investimentos socialmente responsáveis. A este contexto juntam-se os hábitos dos consumidores, que se tem vindo a alterar a par da sua relação com as próprias marcas.
“[Os consumidores] estão cada vez mais conscientes. Um cartão de crédito é como um boletim de voto e eles podem decidir o que querem apoiar ou, por outro lado, o que podem boicotar”, afirma Jean Moreau.
Com o passar do tempo, começaram a surgir várias startups que conseguem combinar “as suas ambições de crescimento com um modelo de negócio responsável” e é nesta categoria onde a Phenix se quer destacar.
“Quando criámos a Phenix em 2014 existia uma dicotomia [no mercado]”, explica o responsável. Por um lado, surgiam as empresas muito orientadas para o seu nível de crescimento e lucros e, por outro, as organizações não governamentais, sem fins lucrativos, onde a questão do crescimento “era um tabu”. “Pensámos que não fazia sentido existir esta contraposição e que devia existir uma forma de combinar o melhor de dois mundos”.
Os desafios do mercado português
A Phenix está presente em Portugal desde 2016, porém, Jean Moreau admite que a expansão para o mercado nacional ocorreu “cedo demais”. O responsável indica a questão da luta conta o desperdício alimentar ainda não era uma tendência tão grande quanto o é hoje e que o mercado “ainda não tinha maturidade suficiente”, tanto do lado dos fornecedores e empresas, como dos consumidores.
No entanto, à medida que o mercado nacional foi ganhando maturidade e que começaram a surgir novos players, o panorama começou a mudar e Jean Moreau afirma que a Phenix se sente mais satisfeita com os resultados que está a obter e que pretende continuar a reunir esforços para chegar ainda mais longe.
“Começámos com soluções B2B [Business to Business], optimizando e digitalizando os processos mais tradicionais de recolha e entrega de alimentos”. Depois de manterem o foco no B2B durante três anos, a empresa virou as suas atenções para as soluções B2C (Business to Consumer), apostando na comunicação para os consumidores, o que é agora uma prioridade. “Agora que temos este lado B2C do nosso negócio precisamos de criar uma marca e torna-la numa referência”, sublinha.
Para Jean Moreau, a expansão geográfica apresenta-se como um dos desafios no mercado português. “Estamos agora em Lisboa e no Porto: para onde vamos a seguir? Mantemo-nos nestas duas cidades ou continuamos a expandir-nos para outras?”.
O responsável detalha que há também uma necessidade de simplificar a marca, de modo a que os consumidores percebam completamente a sua área de atuação, assim como estabelecer mais parcerias-chave com grandes grupos comerciais e “centenas de lojas” para continuar a lutar contra o desperdício alimentar e dar uma nova vida aos produtos.
Como chegar a 10 países até 2023?
Para o cofundador e CEO, os maiores mercados da Phenix são atualmente a Bélgica e a França: dois países onde a sua atividade é “grandemente incentivada” graças a uma estrutura regulatória em torno do desperdício alimentar, com incentivos e deduções fiscais para os retalhistas que fazem doações de produtos e com leis que proíbem a destruição de alimentos, acompanhadas por multas pesadas para quem não as cumpre.
Na edição de 2021 do Web Summit, a Phenix revelou que deu mais um passo tendo em vista a expansão na Europa com a aquisição da startup italiana MyFoody. Tal como explica o responsável, a entrada em Itália sucedeu de forma diferente a outros mercados, simbolizando a nova estratégia de expansão da empresa.
“Em Portugal, por exemplo, construímos algo de raiz, o que demorou alguns anos. Em Itália quisemos acelerar o processo”, afirma Jean Moreau, acrescentando que toda a experiência de mercado de seis anos da MyFoody, incluindo tecnologia, base de consumidores e ligações com retalhistas, passou a fazer parte do universo da Phenix.
Até 2023, a Phenix espera estar presente em 10 países europeus. Mas como é que a empresa pretende atingir esta meta? De acordo com Jean Moreau existem três passos fundamentais que devem ser cumpridos.
Além de continuar a consolidar a sua presença no conjunto de países onde já estabelecida, sobretudo em Portugal e Espanha, vistos pelo responsável como aqueles que precisam de atingir uma maior maturidade, a Phenix pretende chegar aos grandes mercados europeus, sendo que, para tal, precisa de financiamento adicional para concretizar as suas ambições.
Na sua “mira” estão a Alemanha e o Reino Unido, assim como a Holanda e o Luxemburgo. “A partir daí, podemos seguir um de dois caminhos: ir para os países nórdicos ou para a europa de leste”, detalha o responsável.
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