Quem está dentro do sector das tecnologias ouve falar com frequência de grandes jargões, como a velocidade da informação, comunicação permanente e produtividade, com as TIC a serem destacadas pelas vantagens. Estes temas dominaram a apresentação das seis tendências transversais que a APDC trouxe para o primeiro painel de debate do 25º Congresso das Comunicações.
Depois de uma intervenção de Joaquin Almunia, representantes da Altran, CGI, IBM, Microsoft, Accenture e Novabase fizeram os seus “pitch” de 5 minutos, mostrando a revolução que está a acontecer no sector da energia, nos dados (com destaque para o Big Data), o modelo as a service, a experiência centrada no utilizador e a força de trabalho do futuro, mas também na otimização de custos.
Do outro lado foram convidados a comentar o impacto político, económico e social quatro oradores de fora do sector: o sociólogo António Barreto; António Ramalho, presidente do Conselho de Administração da Infraestruras de Portugal; Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI e Luis Marques Mendes, advogado e político. E as preocupações são comuns, e centram-se em temas de exclusão social, privacidade e segurança.
António Barreto lembra que há conceitos que não podem ser usados sem um ponto de vista crítico, como a rapidez e prontidão, e apontados sempre como virtudes. “A comunicação produz o melhor e o pior”, refere o Sociólogo, lembrando que hoje vemos tudo em direto mas ao mesmo tempo também se potencia a pior exclusão entre as pessoas que não têm acesso as ferramentas digitais.
“Demorei algum tempo a perceber que o progresso não é todo positivo. Perde-se muita coisa pelo caminho. Creio que a perda de privacidade é absoluta, mas é o que é”, sublinha. E a diferença que existe entre as gerações na forma como partilhamos informação nas redes sociais é uma boa mostra disso mesmo.
Mesmo reconhecendo as vantagens das TIC e as oportunidades que representam de desenvolvimento económico e de democratização na sociedade, Marques Mendes, advogado e político, destaca também algumas preocupações, nomeadamente no equilíbrio entre a liberdade e a segurança, defendendo a privacidade e garantindo a não intromissão na vida dos cidadãos.
Para o advogado, a resposta entre a conciliação das duas visões deve passar pela forma como esses acessos são regulados e legislados. “O que me preocupa é que estamos num Estado de ninguém”, referindo alguns casos recentes de informação que é divulgada e que não é desmentida, nem contrariada.
“O problema não é que a privacidade nunca mais vai ser a do século XIX, mas dos danos laterais de entidades que têm acesso e os usam de forma ilegítima e abusiva. […] Fico assustado, é um dano para a sociedade. O problema está sempre não no uso mas no abuso”, refere.
Também Fernando Ulrich, presidente do BPI, partilhou a sua visão em relação à privacidade, admitindo que convive com isso de forma tranquila, mas que há um conjunto de entidades que têm acesso a dados e perfis de utilizadores. “Dou por adquirido que a privacidade é cada vez menor [… Há cada vez mais entidades que sabem muito sobre a nossa vida. É um facto. E dentro das organizações há pessoas que têm acesso”, acrescenta, mas defende que “é importante que a informação não possa ser usada contra nós” e que não possa ser agregada, admitindo que isso seria um Big Brother preocupante.
António Ramalho centrou mais a sua intervenção no desafio que as Tecnologias trazem às empresas e a forma como ajudaram a mudar conceitos, lembrando ainda que esta revolução traz enormes desafios ao Estado, e exigem um reenquadramento.
O 25º Congresso das Comunicações da APDC decorre hoje e amanhã, 25 e 26 de novembro, no Centro Cultural de Belém em Lisboa, reunindo mais de uma dezena de painéis onde participam 99 oradores e que abordam os principais temas do sector das comunicações e TI.

O TeK está a acompanhar a conferência, pelo que o convidamos a acompanhar aqui todas as novidades.