As mensagens, chamadas e os alertas automáticos são responsáveis por uma maior adesão ao rastreio do cancro do colo do útero. A conclusão é de uma tese de doutoramento do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que convidou 1.220 mulheres a fazer o exame, dos 25 aos 49 anos, nos centros de saúde do Porto Ocidental e do Marão Douro Norte.

O  autor do estudo, Firmino Machado, explica que, tradicionalmente, o convite é feito através de uma “carta personalizada, com o nome da pessoa, data e local do exame, indicando que poderá ser reagendado”.

Tendo em conta que o reagendamento depende “da proatividade da pessoa”, o investigador decidiu implementar três estratégias para persuadir as mulheres a fazer o teste. Os resultados foram depois comparados com um grupo de controlo, a quem foi enviada apenas uma carta.

Na primeira estratégia foram enviadas mensagens, chamadas e alertas automáticos a 605 mulheres, convidando-as a fazer o rastreio. No final, 236, 39%, fizeram o teste. Já das 615 mulheres a quem apenas foi enviada a carta, 158, o que corresponde a 25,7%, realizaram o rastreio. Para além de aumentar a adesão em 13,3%, esta estratégia significa uma redução de custos.

“Ao convidar uma mulher a fazer o rastreio por carta gasta-se, em média, 80 cêntimos. Com esta estratégia gastamos menos de um cêntimo”, explica, ainda, o investigador em entrevista ao Público.

A outra estratégia foi aplicada a quem ainda não tinha feito o exame. Desta vez, as 369 mulheres restantes foram contactadas por um secretário clínico, que ligaria mais duas vezes caso não atendessem o telefone. Para as restantes 457 do grupo de controlo, o convite por carta não foi reforçado, tal como já é feito atualmente.

Esta aposta levou mais 58 mulheres a fazer o exame. Com a carta, mais 31 mulheres fizeram o rastreio. Juntando os valores das duas estratégias, mensagens automáticas e chamada de um secretário clínico, 294 mulheres (48,6%) fizeram o teste. Já o método da carta registou 189 (30,7%), uma diferença de 17,9 pontos percentuais em relação às duas estratégias.

A última estratégia foi aplicada a 311 mulheres, que foram convidadas por chamada para uma consulta presencial, onde seria explicado o processo de rastreio. Após este método, 16 mulheres aderiram ao exame. Novamente, sem enviar mais cartas às restantes 426 mulheres do grupo de controlo, 20 foram rastreadas.

De acordo com os dados mais recentes disponíveis da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre os rastreios oncológicos, em 2016 existiam em Portugal 1,7 milhões de mulheres elegíveis para o exame. Na altura, foram enviadas 236.752 convocatórias e 204.472 mulheres foram rastreadas.

No mesmo relatório, a DGS explica que o rastreio do cancro permite detetar a doença ainda em fase subclínica e tem como objetivo reduzir a mortalidade por cancro através de um diagnóstico cada vez mais precoce da doença e das lesões percursoras.